terça-feira, 30 de junho de 2015

Novo round na Crise grega

             

         Hoje seria o dia de pagamento de parcela de Euros 1,6 bilhão ao FMI. Autoridades do governo helênico já disseram que tal pagamento não será feito.

          Também nesta terça-feira, 30 de junho, se encerra o presente acordo de ajuda dos países da Zona do Euro à Grécia. Igualmente deixam de operar as linhas extras de liquidez  do BCE (Banco Central Europeu).

           Mantido por muito tempo com o auxílio de instrumentos, o paciente grego é observado nervosamente, e não só pela equipe encarregada de mantê-lo em vida e se possível atuante, na Zona do Euro.

           As inquietudes que desperta entrarão em nova fase.  Através das diversas cortinas dessa divisão especial, elas são ainda imprecisas e, por conseguinte, mais angustiantes para os nervosos mercados, que como parentes de milionária senhora circulam ansiosos à sua volta.

           E, no entanto, toda essa expectativa acerca da partida ou não da velha Hellás do exclusivo clube do Euro, semelha à primeira vista reação despropositada. Com efeito, de que modo uma economia que corresponde apenas a 2% daquela da União Européia pode provocar tanta celeuma e a paradoxal aparência de que um tão diminuto mercado possa colocar a Europa Ocidental à beira de ataque de nervos.

           Enquanto a velha senhora da Bolsa de Atenas ficará recolhida por uma semana, a apreensão igualmente tomou conta de todas as demais. A maior queda foi na bolsa italiana de Milão, com 5,17%. Ainda na Europa, a sua principal economia, encarnada pela bolsa de Frankfurt, teve queda de 3,56%, enquanto o recuo em Paris foi de 3,74% e em Londres, de 1,97 %. Do outro lado do oceano,  o Dow Jones caíu 1,95%, e o S&P, de 2,09%. Na Ásia, Tóquio teve perda de  2,88%. A menor queda foi a da Bovespa, com 1,8%.

            Antes de examinar as perspectivas desta crise após o referendo, parece-me oportuno transmitir a opinião do economista Prêmio Nobel Paul Krugman.

            Para ele, “ficou óbvio já por algum tempo que a criação do Euro foi um terrível equívoco. A Europa nunca teve os requisitos  para uma exitosa moeda única – acima de tudo, dispor de uma espécie de união fiscal e bancária que possibilitasse, por exemplo, se uma bolha residencial estoura na Espanha, Bruxelas protege automaticamente os seus idosos contra quaisquer ameaças a tratamento médico ou a seus depósitos bancários.”[1] 

            Por outro lado, Krugman frisa que abandonar união monetária  é decisão muito mais difícil e assustadora do que não ingressar nela. Por isso, mesmo as economias com os maiores problemas repetidas vezes preferiram não testar o abismo da respectiva saída e os governos comunitários têm optado por submeter-se às exigências dos credores por uma rigorosa austeridade, enquanto o BCE tem atuado para conter o pânico do mercado. 

            No seu artigo, datado de 29 de junho, o economista se manifesta pessimista quanto à evolução da crise. Como os bancos estão fechados temporariamente, o governo impôs controles de capital, o que vem a ser  limites ao movimento de fundos para fora do país. Nesse quadro, lhe parece provável que o governo comece a pagar pensões e salários em ‘scrip’ (papel-moeda provisório para a emergência), o que equivaleria a criar moeda paralela. E na próxima semana o país realizará um referendo se aceita ou não as exigências da ‘troika’ (as instituições que representam os interesses dos credores por ainda mais austeridade).

            Ao ver de Krugman, a Grécia deveria votar Não, e o governo helênico careceria de estar pronto, se necessário, para abandonar o Euro.

            O Prêmio Nobel de Economia explica por que toma tal posição. A maior parte de o que se tem ouvido sobre a gastança e a irresponsabilidade grega é falsa. Procede que o governo grego gastava acima dos próprios meios no fim da primeira década deste século. Mas desde então, tem repetidamente cortado despesas e aumentado os impostos. O funcionalismo caiu em 25% e as pensões – onde havia abusos – tiveram cortes profundos. Se todas as medidas de austeridade fossem somadas, elas seriam suficientes em tese para eliminar o déficit original e gerar um superavit !

            Por que isso não aconteceu?  Pela simples razão de que a economia grega entrou em colapso, basicamente por causa dessas medidas de austeridade,  que fizeram com que os rendimentos caíssem.

           Este colapso, segundo Krugman, tem muito a ver com o euro, que colocou a Grécia em uma camisa de força.  Os casos de bem-sucedida austeridade, em que os países restringem os déficits sem provocar uma depressão, decorrem em geral de desvalorizações da moeda, que tornam as suas exportações mais competitivas.  Isto foi o que aconteceu no Canadá, nos anos noventa, e, mutatis mutandis o  ocorrido com a Islândia, mais recentemente.

            O problema com a Grécia é que ela, sem o dracma, não tem mais  esta opção. No entanto,  Paul Krugman precisa que não está propondo a saída grega do Euro.  Para ele, o principal problema dessa ‘saída’ está no risco do caos financeiro, de um sistema bancário esfacelado, de retiradas em pânico, e dos negócios prejudicados seja pelas dificuldades bancárias, seja pela incerteza quanto ao status legal das dívidas. Esta teria sido a principal razão por que sucessivos gabinetes gregos aceitaram as exigências de austeridade, e igualmente a explicação de por que a coalizão Syriza estava disposta a aceitar austeridade que já tinha sido imposta. Tudo o que pediu era que houvesse uma parada quanto a mais austeridade.

             Para Krugman, a causadora da crise é a troika. Apresentaram à Grécia uma oferta que era na verdade um ultimatum. No seu entender, ao fazer a imposição, prepararam a chamada oferta-padrinho, que Tsipras não poderia aceitar.

             Já hoje, os prognósticos aparecem um pouco menos pessimistas. Cresce a idéia de uma solução, na linha da proposta do professor do Insper, Gino Olivares: ‘a situação só será resolvida com boa vontade política, tanto de credores, quanto do governo grego. Está na hora de os técnicos saírem de campo e entrarem os políticos.’

             Para Jens Nordvig o referendo tem importância política significativa e será decisivo para a eventual permanência da Grécia na Zona do Euro. Para Nordvig, se o “sim” for maioria (i.e., o povo corroborando a escolha para continuar na zona do euro) será praticamente impossível  que a Coalizão Syriza//Anel permaneça no poder.

               Como não poderia deixar de ser, o próprio premier grego Alexis Tsipras admitiu a contingência, ao afirmar que respeitará a decisão popular.

               Assim, se o Não vencer, não será o fim do mundo, mas o ingresso em faixa de mais adversidades e turbulências...

               A campanha para o Plebiscito tentará mostrar quais são as perspectivas. Os que favorecerem o SIM estarão votando por mais do mesmo, com a eventual flexibilização política.

               Para os partidários do NÃO, o que é um voto de confiança ao Syriza, mas isto não implicará necessariamente na saída da Grécia da Zona do Euro. Há muita especulação quanto aos efeitos dessa eventual saída da Grécia, e a sua volta ao dracma.

               Por outro lado, os grandes efeitos previstos precisam ser redimensionados, pelas modestas dimensões da economia grega.

               Afinal, a crise helênica não pode ser comparada à falência do Banco Lehman Brothers. Esta, com o seu efeito cumulativo, causou a Grande Recessão Internacional. Pelo tamanho reduzido da economia grega, não é provável que surja uma  crise financeira internacional. Dentro dessa hipótese, com prejuízos incidentais para outra economias, serão sobretudo os gregos que pagarão a conta. Somente um encaminhamento desse problema de forma exageradamente desastrada fará com que esse prognóstico não se efetive.

 

( Fontes: The New York Times ( artigo de Paul Krugman);  O  Globo ) 



[1] Nas últimas duas linhas adaptei os exemplos da citação à situação na Europa.
 

Dilma: trocando as bolas

                         

                                        

         Já ensinaram os nossos antepassados portugueses que não se deve confundir alhos com bugalhos. A figura do delator na história pátria nos é dada por Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência. Compará-lo ao instituto da chamada ‘Delação premiada’ no presente caso só pode originar-se de canhestra atitude ou de má-fé.

         Uma coisa é a revolucionária negar-se a dedurar seus companheiros, como foi o caso de Dilma. Os seus objetivos eram nobres, e a recusa sob tortura só engrandece quem age dessa maneira.

        Outra coisa bem diversa é a omertà[1], assim como a confissão, estimulada pela lei penal para os cúmplices de atos criminosos, com o incentivo da redução de pena.

        A senhora Presidenta está tratando da mesma forma dois casos bastante diversos. A delação propriamente dita é um ato torpe, conquanto o seu grau possa variar: máximo, no caso do traidor Joaquim Silvério, e menor no exemplo da revolucionária que trai seus companheiros seja por não resistir à tortura, seja por fraqueza de caráter.

        Não tem, portanto,  o menor cabimento que Dilma venha a confundir as bolas. A delação premiada pode não ser um grande gesto, mas é recurso facultado pela lei [2]que assim procede para lograr desmontar os pactos e as organizações delituosas.

        Como a propina paga a políticos corruptos é crime –  causou enormes prejuízos a Petrobrás, v.g. – a Lei confere ao Ministério Público e ao Judiciário a possibilidade de valer-se das delações de corruptores ativos e corruptos passivos para quebrar a proteção da omertà.

        Deblaterar contra a Lava-Jato, como está fazendo Lula – que acena inclusive a uma ação política contra essa maiúscula operação da Polícia Federal - é uma atitude que não diz bem do fundador do PT. Ou não fazem sentido, ou são erráticas as posturas do ex-presidente. Dá toda a impressão de alguém que só pensa na possibilidade de a lei do Juiz Sérgio Moro bater afinal à sua porta.  Dá toda a impressão de temer não se sabe bem o quê.

        Por outro lado, Dilma Rousseff  - que por suma ironia tem de confrontar tais questionamentos em momento de grande importância para ela e seu país, eis que não é todo dia que se passeia com o Presidente dos Estados Unidos, nem se recebe jantar de homenagem em salão da  Casa Branca – misturou canhestramente os dados. Como pode ser ela delatora, se é acusada de cumplicidade no escândalo das propinas e no assalto, iniciado por Lula, da Petróleo Brasileiro S.A.?

        Pode, além disso, deixar para seus ministros, como o Sr. Edinho Silva, declarar enfaticamente que as contribuições foram legalmente feitas e registradas pelo Tribunal Superior Eleitoral ? Se a delação de Ricardo Pessoa procede, e se foi sob ameaça do então Tesoureiro da candidata Dilma que a ‘contribuição’ foi feita para legalizar o processo com a encenação da obediência à Lei no registro da contribuição no TSE, todo o procedimento está inquinado de ilegalidade!     

 

( Fontes:  O Globo, coluna de Merval Pereira, Folha de S. Paulo )



[1] Italiano para ‘recusa de denunciar crimes’.
[2] Como sublinha com oportunidade Merval Pereira, colunista de O Globo, a designação oficial de delação premiada é ‘colaboração premiada’.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Notícias de Segunda

                                 

 
Declarações do Senhor Del Nero

 

                Então, está tudo explicado. Del Nero vem a público para defender Dunga. O sucessor do presidente José Maria Marin (atualmente preso em Zurique) defendeu neste domingo  vinte e oito  o técnico Dunga. A eliminação da seleção na Copa América, Marco Polo Del Nero, de forma corajosa, a  atribui a erros dos jogadores.

                Contou para a Folha que receberá  nesta semana relatório detalhado de Dunga e do coordenador de seleções, Gilmar Rinaldi, sobre o trabalho de quase um mês.

                Tirando qualquer dúvida de que Dunga e Rinaldi estão prestigiados, Sua Senhoria assevera: “É importante ressaltar que pretendo tê-los até  2018 passando pelas eliminatórias e a Olimpíada”, disse Del Nero.

                 Apesar desse primeiro revés, Del Nero aparenta estar muito seguro de uma longa permanência à frente da CBF. Não mais parece o escarmentado senhor que partiu às carreiras de Zurique, diante do trauma da prisão do colega Marin.

                 A despeito do decepcionante desempenho da selecinha no Chile, Del Nero negou que o Brasil esteja pior que os adversários.                 

                  “As seleções estão no mesmo nível, com favoritismo argentino por conta de possuir no elenco o atleta (sic) Messi. A nossa seleção foi desclassificada por um erro de um atleta (!!!). Sobre os penais (sic) perdidos, já assistimos grandes estrelas perderem até na Copa do Mundo”.

 
Comentário  

                  É realmente penoso transcrever essas declarações de Del Nero. Sob o aspecto ético, apesar de minha longa permanência como torcedor da seleção brasileira,  me é difícil recordar uma assertiva como a de Del Nero, que culpabiliza um jogador – o zagueiro Thiago Silva -  e seu eventual erro, como se fora a causa da débacle do nosso time.

                  Sob o aspecto tanto moral, quanto ético, é difícil classificar uma assertiva desse gênero, que torna bode-expiatório um bom jogador (que até gol fez durante o torneio) e que não pode responder pelos inúmeros erros do preparador Dunga, erros estes de que Sua Senhoria é contumaz. Além das suas explicações desencontradas e com uma linguagem que parece vir de outras épocas, Dunga errou (na verdade, repetiu os erros de Mano Menezes), por descurar da preparação para os pênaltis. Atribuir ao azar e ao fato de “grandes estrelas perderem até na Copa do Mundo” os ditos pênaltis, pediria, por favor, que Sua Senhoria Del Nero arranjasse outra desculpa.

                  Na desmemória que parece atacá-lo, Sua Senhoria esquece a também lamentável performance quando da primeira série de penaltis da Copa passada, igualmente contra o Paraguai.

                   Além de querer desculpar o técnico Dunga (à custa de um bom jogador, que não merece essa empurração de culpa), o senhor Del Nero convenientemente olvida que esse filme já foi visto há quatro anos atrás, quando da lamentável eliminação, também por pênaltis, e igualmente contra o Paraguai, de nosso brioso time, pela simples razão de que supostamente não haviam, pelo visto, tido tempo para o treinamento de penais. Dessa vez, é forçoso reconhecer, a seleção melhorou um pouquinho, pois converteu alguns. Da vez passada,  o vexame fora total.

             

( Fonte:  Folha de S. Paulo )

domingo, 28 de junho de 2015

Colcha de Recados C 24


                                        

A viagem de Dilma e a crise da delação

 

          Não foi só o espetáculo na Broadway, reservado expressamente, que ficou de repente incompatível com os horários da Presidenta.

          Dilma se disse ‘indignada’ com os supostos vazamentos seletivos.  Quem faz coisas erradas, fica sujeita a tais dissabores.

          Não é só para viagens que se reserva o fim de semana. Com o acesso de que dispõe a revista VEJA, torna-se provável e mesmo natural que notícias desse calibre rebentem no fim de semana.

          Assim, Dilma convocou reunião de emergência para tratar da crise. O bom amigo Aloizio Mercadante teve de cancelar a sua ida, logo ele que é do núcleo duro dos íntimos do poder dílmico.  Ficará para quê, se a confusão já foi aprontada?

          Como sempre, os Ministros de Dilma admitiram o que não pode ser negado, mas contestaram vivamente  quanto à motivação, dizendo nada terem feito de ilegal. Assim, Edinho Silva, que como disse Recardo Pessoa, agira de forma particularmente “elegante”, negou de pé junto haver ameaçado o dono da UTC.

          O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, aquele que disse preferiria morrer a ficar em nossas prisões, assinalou que “a presidente Dilma Rousseff desde o início orientou seu tesoureiro Edinho para que agisse estritamente dentro da lei”.  Que governo sério e republicano!, comentou a velhinha de Taubaté.

 

A viagem de Dilma e a Casa Branca

 

           Ela, que se disse “indignada”, como se sentirá no jantar programado na Casa Branca de Obama?

           Já fora forçada a cancelar a visita quando veio à tona a crise da espionagem de alto bordo nas suas comunicações pela agência americana de informações. Um a um os chefes de governo ocidentais se descobrem diante dessa desagradável contingência, como  Angela Merkel, a Chanceler alemã, e agora, François Hollande, o Presidente francês. Dilma, que não costuma no trato ser pessoa de grande cortesia, procurou tirar o máximo do entrevero, no que cometeria o erro de quem reclama demais. A Merkel ficou na dela e trataria de melhor modo as desculpas do Presidente americano.

           Agora, as suas estripulias eleitorais estouram justo na semana da viagem... Como ela se sentirá, sentada no salão da Casa Branca? A sua satisfação há de ser matizada pela água caída no chope... E depois, olhando em torno, em que pensará a nossa Presidenta? Que, por trás dos gentis cumprimentos, os convidados e o próprio anfitrião têm muito presente a crise política, o seu enfraquecimento nas pesquisas, e – não por último - a ameaça de impeachment.

            Os americanos sabem bem o que é impeachment...  Quiseram impedir o presidente Bill Clinton por causa do escândalo de Whitewater, e do caso com a auxiliar temporária Monica Lewinsky. O procurador-especial, Kenneth Starr, turbinado pelos republicanos, gastou milhões de dólares com o processo, mas fracassou... Por isso, ao aquilatarem a carga de processo desse gênero, haverá nos seus olhares sensações conflitantes, como coitada! ter de enfrentar essa barra...

 

 Aniversário do Estado Islâmico

 

          Consoante sublinha na sua coluna Clovis Rossi, junho é o mês do aniversário do Califado.  Nesse mês foi supostamente restabelecido o Califado Islâmico que, como instituição política, deixara de existir formalmente em 1924.

          Na verdade, a derrota na Grande Guerra, que depois viraria a Primeira Guerra Mundial, selaria o fim formal do Império Otomano. Mas o Ocidente vinha acompanhando há tempos a fatal enfermidade do Homem Doente da Europa. Na Turquia, o estado sucessor, surgiu, com a vitória contra a Grécia, sob o comando de Mustafá Kemal, aquele que mais tarde seria designado o AtaTurk, e uma de suas primeiras medidas seria a abolição formal do velho Califado, que na realidade já morrera há muito.

          O mundo árabe registra na atualidade vários estados que estão presa de sérias crises. A derrota e posterior assassinato de Muamar Kaddafi, comemorada (com razão no Ocidente – dona Dilma, é verdade dissentiu, ao declarar que não se festeja morte de grandes líderes’, mas o Brasil não participou da campanha contra o major que se iniciara na política derrubando o rei Idris) – não evoluiria com a criação de novo Estado na velha Líbia. O que se deparou foi o surgimento de uma quase república-falida, eis que não há segurança em suas principais cidades, onde as facções vencedoras na guerra civil se enfrentam em combates incessantes.

          Apesar de sua riqueza petrolífera, tampouco há estabilidade nessa nova república, com um governo que é quase de fachada, e que não tem força militar capaz de controlar os diversos grupos armados. 

           Valendo-se da falta de autoridade central, o E.I. se tem prevalecido da anarquia para os seus projetos terrorísticos e de desestabilização.  Mandado para a Líbia logo depois da vitória e consequente morte de Muamar Kadafi, o embaixador americano Christopher Stevens, um arabista de nomeada, foi na noite de 12/13 de setembro de 2013 covardemente assassinado no compound da Embaixada, que infelizmente não dispunha da proteção devida. O principal responsável pelo ataque (que matou o Embaixador e mais três pessoas), Ahmed Abu Khattala já foi preso em 12 de junho de 2014 e transportado para os Estados Unidos.

 

( Fontes: VEJA, Folha de S. Paulo, O Globo )  

Volta ao dracma ?

                                              

        Não é de hoje que a crise grega se arrasta e - o que é pior – se vai tornando na aparência cada vez mais intratável.

        Os últimos desenvolvimentos não induzem decerto ao otimismo. Assim, os países da Zona do Euro rejeitaram a proposta do governo helênico de prorrogar a dívida que vence nesta terça-feira, com vistas à realização de referendo na República Helênica no vindouro dia cinco de julho, que é um domingo.

       O presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, afirmou que o governo de Atenas “fechou as portas” ao propor o referendo.

       O raciocínio de Dijsselbloem se funda em que o gabinete Tsipras, ao inserir a variante da consulta popular, trazia para a questão um elemento imponderável, dada a complexidade da matéria, e a impossibilidade de uma opção objetiva, que realmente atentasse para todos os interesses em jogo.

       Talvez o grande problema nesse confronto esteja na postura radical do governo Tsipras, que julga possível valer-se de mecanismos financeiros, sem no entanto considerar a possibilidade de um esforço de composição, como foi realizado por outros países como a Irlanda, em similar situação precária aplicou os remédios sugeridos e conseguiu vencer a crise.

        A  proposta de votação popular – que introduziu o imponderável na negociação – que o Primeiro Ministro anunciou na noite desta sexta-feira, 26 de junho, e foi aprovada pelo Parlamento helênico, em sessão extraordinária – e põe extraordinária nisso – na madrugada do domingo corrente, 28 de junho.

        Qual é o principal desafio hodierno à Grécia ? Ela precisa evitar o calote de Euros 1,6 bilhão ao Fundo Monetário Internacional. Como não dispõe do caixa indispensável, quer desbloquear o acesso a Euros 7,2 bilhões, que é a última parcela do socorro de Euros 240 bilhões que vem recebendo do FMI e do Banco Central Europeu (BCE) a partir de 2010.

        Os credores exigem compromissos fiscais, cortes de gastos e reforma profunda na Previdência. Nesse contexto, o gabinete Tsipras fez proposta de ajuste de Euros sete bilhões e novecentos milhões. No entanto, os credores não aceitaram a proposta helênica.

         Em discurso no Parlamento, Alexis Tsipras, do Syriza (partido de esquerda, derivado do antigo Synapismo) resolveu esquecer os números, a dívida grega, e as medidas – enfrentadas e vencidas por outros países-membros em dificuldade financeira – de adequação à realidade (cortes nos gastos e reforma para valer na Previdência).

         Confrontado com a frieza dos números, resolveu partir para o emocional: “querem forçar a Grécia a aceitar um acordo ‘humilhante’”. E mais: “A Grécia não vai render-se. Não é uma decisão de romper com a Europa, mas querem que assinemos um acordo de recessão e morte lenta.”

         O ex-Primeiro Ministro Antonis Samaras, do Nova Democracia (centro-direita) declarou que o  referendo  (proposto pelo Gabinete Tsipras) é um “ suicídio”: os eleitores vão votar sem saber o que vai ocorrer se o resultado for contra um acordo com os credores.

         Entrementes, os ministros responsáveis pelas dezenove economias da Zona do Euro se reuniram em Bruxelas, no sábado 27 de junho,  para avaliar o pedido para prorrogar por um mês a dívida grega. Como não foi atendido, o Ministro grego Yanis Varoufakis abandonou a reunião.

        Nessa oportunidade, o holandês Dijsselbloem, declarou: “O referendo proposto foi um avanço negativo, e a Grécia rompeu as negociações com tal postura.” Segundo o chefe do Eurogrupo, não há garantias de que o governo vá implementar o acordo, mesmo na hipótese de que a população vote em favor desse acordo.

        Dando continuidade ao seu pessimismo, Dijsselbloem asseverou: “Acho que nós temos de nos dar conta de que a situação da Grécia vai piorar muito rapidamente.” E aditou: “ Não sei como o governo grego acha que vai sobreviver e lidar com tais problemas”.

        Se não adiar a dívida de alguma forma, a República Helênica parte para o calote e pode ficar sem ajuda externa, aumentando as possibilidades de ser forçada a abandonar a Zona do Euro.

         O primeiro e imediato problema a ser enfrentado será conter a insolvência dos bancos locais. A corrida bancária já é uma realidade de parte do povo grego, que deseja retirar do caixa bancário os próprios depósitos em euro. As previsíveis e intermináveis filas diante dos caixas eletrônicos no sábado 27 de junho é uma realidade que se depara  ante   todas as agência, e que torna a insolvência não mais uma probabilidade, mas uma certeza. Os saques, tangidos pela crise e pela inflexibilidade das Partes, superaram cinco bilhões de euros nas últimas duas semanas. Por isso, alguns bancos já impõem limites às retiradas.

           Eleito em janeiro sob a bandeira de oposição às medidas impostas pela Comissão Europeia, e portanto sob o vínculo de ser contra as medidas de austeridade, o grego Alexis Tsipras chega à hora da verdade: ou assente a um acordo que contradiz as suas propostas e o seu discurso da campanha, ou então, ao repisar o Não,  leva o país para uma direção que  o distancia cada vez mais da zona do euro.

           Tudo indica que o Primeiro Ministro acalente uma aposta de considerável risco político:  se a população optar, por meio do referendo,  pela negociação,Tsipras teria em tese de aceitar algo, segundo suas palavras, “humilhante” para a Grécia.

           Assinale-se, ainda, que o gabinete helênico rejeitou na sexta-feira, uma última oferta dos países da Zona do Euro, no sentido de prorrogar por mais cinco meses a dívida em troca de uma ajuda de Euros 16,3 bilhões. Essa injeção in extremis dos países da Zona do Euro, dependeria, no entanto, de a República Helênica concordar com as reformas...

            Até a votação do referendo a situação interna no sistema bancário e financeiro continua a evoluir. Dada a dimensão da corrida aos bancos, o governo grego determinou o fechamento dos bancos já no fim de semana. Por outro lado, o mercado de ações não funcionará na segunda. Além disso, imporá restrições nas retiradas de fundos e na transferência de numerário.

            O motivo principal da decisão da área financeira do Governo grego  de fechar temporariamente os bancos e impor os chamados controles de capital se deveu à iniciativa do Banco Central Europeu motivada pela corrente crise financeira helênica: o BCE fez saber que não estendeu programa de empréstimos de emergência que vinha dando suporte financeiro a bancos gregos nas últimas semanas, enquanto o Governo Tsipras se esforçava em chegar a acordo acerca da dívida com os credores internacionais.

             Como se verifica, o sistema financeiro europeu age em sincronia com a instância política de Bruxelas, como seria  de esperar. Sobrevinda a ruptura nas negociações da dívida – a causa do dissídio foi a declaração, considerada dissonante, do Primeiro Ministro Alexis Tsipras, de que deixava para o Povo grego decidir se devia ou não aceitar a última oferta dos credores.

             Ao expirar o prazo do programa de salvação, se realizará no próximo domingo cinco de julho o referendo que decidirá se o Povo grego aceita ou não as condições dos credores.

              Como outros países integrantes da União Europeia e da Zona do Euro, a República Helênica tem que tomar providências para superar as condições deficitárias de sua economia. As causas são conhecidas, e o principal erro está na falta de vontade política de sanar as causas do déficit estrutural para permitir a recuperação da economia helênica.

              O Governo Tsipras chegou ao poder sob uma bandeira de contestação irrealista à situação em Bruxelas. Ainda que gradualmente, Atenas precisa criar condições na própria economia e na sua previdência que atendam à necessidade de eliminar gastos abusivos ou desproporcionais, e procurar viver em uma economia que tenha perspectiva de equilíbrio e de contas sustentáveis.

               Talvez inebriado por uma importância que não corresponde à realidade, o gabinete de esquerda radical de Alexis Tsipras não se afigura infelizmente como êmulo de outros governos comunitários que souberam apertar o cinto e vencer o desafio. Demagogia nunca resolveu crise alguma.

               É necessário, no entanto, afirmar que não foi por acaso que povo helênico votou pelo governo do Syriza. Tal se deve ao fracasso do governo de direita da Nova Democracia que dispondo de condições relativamente mais favoráveis, tampouco teve a coragem de cortar os déficits na economia grega e corrigir o seu sistema previdenciário.

                O povo helênico, dentre as suas inúmeras qualidades,  é  gente trabalhadora. Sabe que para a economia doméstica não lhe venha a causar dívidas, os seus encargos devem sempre corresponder aos respectivos proventos. Não há milagres tanto nas finanças domésticas, quanto nas públicas. A diferença entre elas é apenas de dimensão. Por isso, a responsabilidade e a boa gestão das respectivas finanças caseiras é uma boa sinalização para ser aplicada  também na economia política nacional.

                 Se a gente grega, que tanto admirei quando de minha presença em Atenas em missão diplomática, aprecia e valoriza a oportunidade de pertencer à zona do euro, e dos benefícios consequentes, quero crer que é hora de enfrentar o problema com firmeza e boa disposição. Decisões apressadas e que possam parecer demagógicas devem ser evitadas, porque se tantos países, grandes, médios e pequenos, logram equilibrar as próprias contas, ou, recuperar o equilíbrio perdido, não por passes de mágica, mas pelo trabalho, o esforço conjunto e a busca de solução que garanta para a boa gente helênica uma situação estável, em que os direitos sejam respeitados, mas que não se procure viver acima dos respectivos meios.

                  A minha permanência aí, transcorrida nas comuns relações de respeito e amizade dos povos helênico e brasileiro, me dá confiança para acreditar que essa boa gente, que tanto valoriza o euro e as oportunidades que oferece, encontrará o caminho para continuar na Comunidade Europeia e na Zona do Euro.

 

( Fontes:  The New York Times, Folha de S. Paulo )                            

Mediocrizar a Seleção !


                                          

         Confrange um pouco, mas não se pode calar.  A verdade é que não é de hoje que estão empenhados em mediocrizar a seleção. A rebaixá-la ao nível da CBF. Depois de José Maria Marin, detido na Suiça, enquanto Sepp Blatter continua presidente da FIFA e – pior ainda! – pensando que pode empurrar a crise da corrupção com a barriga, temos  Marco Polo Del Nero, como sucessor de Marin! E um grau mais abaixo, o indicado de Marin, como preparador técnico da seleção, Dunga!

         Podia dar outra coisa? Eu me lembro – e a idade pode ser fonte de saudosismo – de um futebol brasileiro, mais alegre, de melhor técnica e sobretudo dando alegria ao povo. Não era só Garrincha que a distribuía às mancheias, mas Pelé, Nilton Santos e outros mais!

         Ao pensar e rever na mente os técnicos de hoje, cheios de esquemas mágicos em cabeça muita vez vazias, como não se relembrar dos técnicos do passado ?

         Enquanto a câmara da tevê nos mostra o estólido, perplexo, paralisado Felipão, enquanto o 7x 1 se gestava diante de seus olhos, e ele sequer reagia! Já dizia  velho boxeador que a gente vai a nocaute por um soco  que não se sabe de onde saíu, e a expressão fisionômica do festejado Felipão naquele momento dizia talvez mais do que muitas palavras e discursos.

         Não sei em que mundo vivem os nossos atuais técnicos da Seleção. Antes as coisas eram mais simples, talvez porque os jogadores fossem muito melhores, mas vejam o que fizeram com o Neymar, de boa gente o transformaram em menino mimado, que se entregou de pés e mãos atados à Comebol e aos senhores árbitros. O que ele deveria era jogar como no Barcelona e não fazer fouls, porque só técnico burro pede para o Neymar fazer falta, ele que tem todo esse futebol!?  E para quê? para virar um jogador qualquer, pendurado de cartões amarelos?

          Já disse isso muita vezes, mas a vida – e o nosso futebol – me induzem a repeti-lo. A Alemanha não é nenhum bicho-papão. Os técnicos brasileiros deveriam esquecer a própria mediocridade – se isto é possível... – e montar esquemas mais simples, que se sirvam da nossa ainda grande habilidade e técnica! Não é por acaso que quase todas as seleções do mundo têm jogadores brasileiros naturalizados...

          Tanto Dunga, ontem contra o Paraguai, como Felipão, contra a Alemanha, não tiveram condição de fazer o próprio dever de casa.  Vou repetir, porque para os sabichões da seleção tal é mister: o modesto time da Argélia, em partida contra a magnífica Alemanha terminou o tempo regulamentar com 0x0, e só perdeu na prorrogação, por 2x1! Ao invés de se deixar embalar pelo oba-oba, Felipão deveria haver estudado mais o seu adversário alemão. Portugal, como nós, fora destroçado por quatro gols relâmpagos, que desestabilizaram o time... Conosco, ocorreu parecido... Enquanto isso, a medíocre Argélia, porque dispunha de bom técnico, conseguiu até assustar o fantasma germânico, a ponto de entusiasmar o público em Porto Alegre, que passou, como é lógico, a torcer pelo timinho argelino (que atacava pelas pontas sem medo e levou muitos sustos ao esquadrão que seria campeão do mundo para nossa eterna vergonha).  E o gol da Argélia, que ninguém me contou, pois meninos, eu vi, foi daqueles de estufar a rede, feito com raiva e vontade...

          E ontem, gente? No tempo do Feola, ele deixava a turma jogar, e não inventava demasiado. Sei que a qualidade é muito diversa, e que o nosso Dunga gosta de gente medíocre e até implica com os melhores. Que explicação para ele preferir esse Firmino, que colecionou nessa curta Copa América a perda de gols incríveis. E ter tirado do time, minutos antes da bateção de pênalties, o único craque, Robinho?... Só se entende esse comportamento, se o interpretarmos como alguém que gosta dos jogadores sem brilho, sem classe, como ele mesmo o foi e é agora como técnico.

         Perder pela segunda vez nos pênaltys para o Paraguai não é destino, é burrice. Só pode ter sido o Dunga que fez a escalação dos batedores... E vocês viram como o Jefferson  encontrava sempre um jeito de se  jogar por onde  a bola não passaria ?! Pois se ficasse parado, a bola bateria nele, eis que os batedores do Paraguai escolhiam quase sempre o centro do arco... Dá prá entender? O triste é que dá, e que com um pouquinho de inteligência o assunto estaria resolvido...

        

( Fonte: Rede Globo )

O Impeachment chega mais perto


                                     

          Aparece, afinal, na imprensa a corrupção que o PT, e seus principais corifeus, Lula e Dilma, fabricaram. Terá, por acaso, Lula da Silva, sobejas razões  para esperar a batida da Polícia Federal à sua porta ? E com o passar dos dias, e a filtragem pela mídia, dos vários desdobramentos da Lava-Jato, os nomes dos principais petistas vão aparecendo.

          Quem tem culpa, teme. E quanto maior for a culpa, mais devagar passam os dias – e as noites! – enquanto os figurões colhem nervosos na imprensa – que Franklin Martins, com o apoio de Ruy Falcão, queria porque queria manietar e arrochar, enquanto ele e seus companheiros olham cúpidos o ‘bom trabalho’ do camarada Maduro com os jornais e tevê da Venezuela...

          Não é à toa que o bom suspense no cinema de Hitchcock vem costurado de insuportáveis pausas, de cruéis silêncios... Ter esse grande futuro, como o grande Lula da Silva, medalhão da República,  ex-presidente saído do Planalto nos braços do Povo, fazedor de postes e candidato confesso para 2018, e de repente ver-se supostamente ameaçado por um até bem pouco obscuro juiz de primeira instância !

          Como não compreender essa angústia que como sombra envolvente vá crescendo, dia a dia, nesse gélido abraço que irá gradualmente invadindo, com os ares do desconforto, o recesso de suas mansões, o triplex que o poder lhe trouxe, e que por tanto tempo só permitiam o acesso deferente e untuoso das boas e ótimas notícias.

          Os tempos mudaram e seu sofrimento está na circunstância de que, dentro dele, na velha consciência, ele sabe da razão. Por isso, o fundador do Partido dos Trabalhadores, que depois de amargar derrotas seguidas para a sua nêmesis Fernando Henrique Cardoso, e de conhecer dentro dele o que lhe reservavam as urnas, a despeito das palavras melífluas dos as, dos políticos na sua órbita, e dos eternos puxa-sacos de plantão, custou a acreditar que as coisas tinham afinal mudado – e para melhor!

          O Lula Paz e Amor chegara afinal, embalado pelo marqueteiro de fé, e ao cabo de dois mandatos, depois de considerar um terceiro, no que imitaria o Compadre Hugo Chávez, optou pelo forçado bom senso de eleger uma sucessora.

           Sabemos como logrou preterir os candidatos do PT, indicando para sucedê-lo a sua grande Chefe de Gabinete, que transformaria em magna gestora da República. Sabemos também como tudo ia terminar não na quarta-feira de Carnaval, mas na vitória da Mulher do Lula em 2010, e no estelionato eleitoral de 2014. Nesse último encontro, a criatura se rebelou contra o criador, e o seu cálculo de velho político de que atropelaria a Presidente em funções, para sua surpresa, a ingrata, se valendo dos instrumentos do cargo que ele lhe proporcionara, o deixou do lado de fora, chupando o dedo, ou discursando para as minguadas sobras do Povão que lhe dera as costas.

            Dilma, depois de ver-se livre de Marina Silva – tudo, menos enfrentá-la no segundo turno ! – logrou ainda reeleger-se, posto que com 3% apenas de vantagem.

            Dilma Rousseff, no entanto, não teve os cem dias que se dão aos presidentes eleitos. Bem governar nunca fora seu forte, e mesmo com o trago amargo de nomear Joaquim Levy – com que ela reconhecia todas as patranhas que levaram à confusão e ao descalabro de verbas e inflação que o jovem banqueiro ora vinha para tentar resolver – o manto manchado de mentiras surgiria para não mais deixá-la.

              E eis que a Polícia Federal, que o finado Ministro Ramiro Thomaz Bastos convencera Lula de torná-la autônoma, reponta lá longe na Avenida do Poder Petista com a Operação Lava-Jato !

              Notícia ruim não demora muito em espalhar-se. Talvez em suas viagens pelo mundo, ou nas conferências do Instituto Lula, com os cuidados do amigo de fé Paulo Okamotto, não haja filtrado a princípio a peçonha que a iniciativa policial trazia consigo.

               Mas Lula, com o seu longo passado de lutas, que viera do Nordeste de Caruaru para São Paulo maravilha, trazido em pau-de-arara, criança ainda, com a mãe lutadora e honesta, terá pressentido que boa coisa não aprontavam os policiais federais.

               Logo em seguida, principiaram as buscas, prisões e apreensões de documentos, determinadas por um juiz de Curitiba, de nome Sérgio Moro, que o ex-presidente, a princípio não de todo indiferente, aprenderia a conhecer melhor através do noticiário incessante da imprensa distribuidora de más notícias.

               Com os mandados de prisão, e os nomes dos figurões das empreiteiras – excluídas apenas as maiores, a Norberto Odebrecht e a Andrade Gutierrez – começou o purgatório astral do PT e não decerto por acaso as inquietudes de Lula e da própria Dilma começaram a repontar.

               Ele que se julgara o maestro das notícias se viu, muito a contragosto e quase de chofre na outra extremidade do fio dos eventos. Espectador contra a vontade, ele se descobre como potencial objeto de ações que possam afetá-lo diretamente.

               Nem mestre de cerimônias, nem diretor de grandes atos e empresas, mas alguém que na própria morada principia a entrever a possibilidade de que, de repente, os home (no caso a Polícia Federal) adentrem o recesso do seu próprio lar, com mandados firmados por outrem a convocá-lo para questões que jamais lhe passaram pela cabeça, desde o retorno da democracia, viriam a dizer-lhe respeito.  

               Contudo, todo processo político – e aquele sob a sombra da operação Lava Jato não seria exceção – pode reservar desenvolvimentos inesperados, não desdenhando mesmo de lances teatrais.

               Há dois dias circulavam rumores na imprensa de uma nova ruptura, pela qual protagonista do drama até agora preservada, se descobriria diretamente atingida.

               Desde muito, através de bilhetes escritos da prisão, Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC acenara por mais de uma vez sobre o envolvimento de personagens de relevo deste governo do PT.

               Negociada a delação premiada de Ricardo Pessoa, cabia ao poder esperar pelas eventuais denúncias do dono da UTC. Seria uma expectativa decerto informada, por evidentes razões que são de fácil presunção.

               Conforme noticia a revista VEJA em revelações hoje estampadas, o Ministério Público queria extrair de Ricardo Pessoa todos os segredos da engrenagem criminosa que desviou pelo menos seis bilhões de reais dos cofres públicos.

               Chegado o termo ao Supremo, na última semana a negociação arrastada e difícil acabou na última semana, quando o Ministro Teori Zavascki, do STF, homologou o acordo de colaboração firmado  entre o empresários e os procuradores do Ministério Público.

               Consoante a citada revista, que teve acesso aos termos do acordo, o conteúdo é demolidor. Resumindo, as confissões do empreiteiro deram origem  a quarenta anexos recheados de planilhas e documentos que marcam o caminho do dinheiro sujo. Num depoimento de cinco dias, prestado em Brasília,  Ricardo Pessoa  descreveu como financiou campanhas à margem da lei e distribuíu propinas. Segundo asseverou, ele usou dinheiro do Petrolão para bancar despesas de dezoito figuras coroadas da República. Assim, foi com a verba desviada da estatal que a UTC doou dinheiro às campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2014. Foi com tal verba que igualmente garantiu o repasse de R$ 3,2 milhões para José Dirceu (para que o mensaleiro liquidasse suas despesas pessoais). 

                No que tange à  candidata Dilma Rousseff, Ricardo Pessoa  relatou que teve três encontros em 2014 com Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma e atual Ministro de Comunicação Social.  Foi aí tratado, como disse ironicamente “de maneira bastante elegante”. Segundo relatou, Edinho lhe disse: ‘Você tem obras na Petrobrás e tem aditivos, não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Eu estou precisando.’ A abordagem elegante lhe custou dez milhões de reais, dados à campanha de Dilma. Um servidor do Palácio chamado Manoel de Araujo Sobrinho acertou os detalhes dos pagamentos diretamente com Pessoa. Documentos entregues pelo empresário mostram que foram feitos dois depósitos de 2,5 milhões de reais, cada um. O restante do pagamento, outros cinco milhões para o caixa eleitoral de Dilma, foi paga metade do valor pedido e os outros 2,5 milhões ficaram para depois das eleições. Como Ricardo Pessoa foi preso antes, essa ‘quota’ acabou não sendo paga.

                 Como pelo visto o dinheiro do Petrolão foi para a campanha de Dilma Rousseff,  além da óbvia ilação de que Dilma Rousseff, Presidente da República não ignorava que o dinheiro desviado da Petrobrás foi empregado na sua campanha à reeleição, a pergunta que não deve ser calada é se esta delação do presidente da UTC já não constitui o equivalente, em termos jurídicos, do Fiat Elba que fundamentaria a aprovação do impeachment de Fernando Collor.

         

( Fonte:  VEJA, número 26, data 1 de julho de 2015. )        

sábado, 27 de junho de 2015

O ISIS ou a Vanguarda da Bestialidade


                                

        O ISIS continua no noticiário, o que não é exatamente boa nova para a Europa e países que dependam do turismo europeu.

         Há oportunistas do Bem e do Mal, e creio que não há dúvidas sobre os objetivos do Exército Islâmico.

         A sua estratégia midiática lembra a frase de um autopropagandista sem escrúpulos: falem de mim,  pouco importa se bem ou mal.

         O Exército Islâmico é uma cria da al-Qaida. Não se deve, no entanto, subestimá-lo, como o demonstram seus resultados  - teria um caixa de oito bilhões de dólares. Como já referido, o Califado dispõe de capital (Raqqa), boa parte da terra de ninguém da Síria (a faixa oriental), e se aproveita das deficiências em armamento dos peshmerga, no fragmento de Curdistão (norte do Iraque), e ainda em áreas próximas, da fraqueza do exército iraquiano (ocupam Mosul e áreas vizinhas, no setentrião do Iraque).

          Agora, tentam realizar um terrorismo comanditário, vale dizer, sob encomenda. Houve há pouco tentativa nos Estados Unidos, buscando instrumentalizar evento anti-islâmico, mas os supostos agentes do E.I. (exército islâmico) foram abatidos por policiais americanos.

          É substancial a imigração de jovens e menos jovens para os domínios do E.I., procedentes de países europeus. Existe na Europa uma parcela da população, notadamente, mas não necessariamente, de naturalidade de país árabe ou islâmico, em geral jovens desempregados ou mal-empregados. Eles configuram uma espécie de proletariado, mas não no sentido marxista, mas sim toynbeeano. Sob o já referido exemplo proposto pelo grande historiador Arnold Toynbee no que respeita às populações no tardo Império Romano, as quais viviam nas cercanias do limes (fronteira) do domínio de Roma já na decadência.

          Esse proletariado estava ligado idealmente não ao estado romano, mas às diferentes nacionalidades que lindavam com o poder imperial. Vivia dentro dos limes de Roma, mas idealmente estavam ligados às entidades bárbaras a que a fronteira romana, por força da decadência, já não fornecia a mesma segurança e/ou barreira. Daí a ligação psicológica desse proletariado, que vivia nominalmente sob o poder de Roma, a nacionalidades que estavam além dos limes romanos.

           Há muitos países da Europa Ocidental que têm um proletariado no sentido toynbeeano do termo: França, com numerosíssima etnia islâmica; Bélgica e Países Baixos, com proletariado jovem, vivendo em guetos e subúrbios; Reino Unido, por força do antigo Império, destino de muitos imigrantes de credo islâmico, em condições similares às de outros proletariados na Europa Ocidental; Alemanha, com a sua mão de obra de origem turca, que pode ser fonte de atrito, eis que largos extratos vivem em condições de relativa desvantagem; Bélgica e Holanda, aonde está igualmente presente esse proletariado interno, que pode funcionar como informal centro de recrutamento de extremistas islâmicos. Os Países Baixos, inclusive, oferecem perspectiva pouco alentadora para uma nação cristã ocidental.  Pela pauta da natalidade, o componente muçulmano é muito mais prolífico do que o dos holandeses tradicionais, e existe, por conseguinte, a possibilidade nada teórica de que o componente  islâmico supere a  população autóctone ainda neste século.

               Reportei-me em blog anterior à enorme receptividade  dos extratos jovens dessa população ao simplismo do Islã, com suas regras por vezes de aparência contundente. Há inúmeras reportagens que documentam o fluxo de população mais jovem para os domínios do ISIS. O acesso, em geral, é feito através da fronteira da Turquia com o espaço oriental (hoje quase terra de ninguém) da Síria (a ‘capital’ do E.I. é uma cidade síria, Raqqa, no norte oriental da antiga Síria - antes da revolução).

              Depois de uma indoutrinação muçulmana, sob o viés maximalista, os ‘candidatos’ a súditos do Estado Islâmico logram transferir-se para o dito califado, de forma ilegal, em verdadeiro contrabando humano voluntário.

               As causas desse mini-êxodo são muitas e têm a ver com a crença em existência aventurosa, sob a égide de  Islã maximalista, quase numa reedição das conversões forçadas do tempo (a partir do século XV) da implantação do poder otomano, que veio suplantar o velho e debilitado antigo Império bizantino.

              A atmosfera um tanto opressa dos guetos do Ocidente, em que a juventude se vê encaminhada para soluções simplistas de um Islã intolerante, é a antessala da partida para os domínios do ISIS.

                                                                                           (a continuar)

 

( Fontes: The New York Review, The New Yorker, Folha de S. Paulo )     

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Na Contramão ?

                                             

        Por ordem de Lula, a executiva do PT, reunida em São Paulo, aprovou resolução em que se apressa em atender-lhe as críticas. Como mandava o ex-presidente, o Partido endurece o confronto  com os investigadores da Operação Lava-Jato.

        Quatro de seus itens são dedicados à investigação. Quem lê o texto ficará confuso pelo menos, pois se tem a impressão de que a hierarquia petista se refugia na negação e na fuga da realidade.

        Abstendo-se de mencionar o Juiz Sérgio Moro, que é o responsável pelos processos da Lava-Jato, o presidente do Partido dos Trabalhadores, obedecendo às cobranças do Grande Líder, classificou de “inexplicável e inaceitável” a manutenção da prisão do ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.

         Como a argumentação da cúpula partidária, que pelo visto se submete às posturas do grande líder, no que apresenta inquietantes sintomas de quem desconhece a realidade, creio útil transcrever o que diz o dicionário Houaiss no verbete esquizofrenia:

         termo geral que designa um conjunto de psicoses endógenas cujos sintomas fundamentais apontam a existência de uma dissociação da ação e do pensamento, expressa em uma sintomatologia variada, com delírios persecutórios, alucinações especialmente auditivas, labilidade (instabilidade) afetiva, etc.” (meu o grifo)

         Num sentido de quem vive em diversa realidade daquela que confronta a sociedade brasileira e sua imprensa, a resolução aponta na Lava-Jato,  violação dos “princípios  da presunção da inocência, que prisões preventivas sem fundamento se prolongam e que um estado de exceção está sendo gestado em afronta à Constituição.”

         Na dita Resolução, o PT extrapola, e chega até a defender as empreiteiras acusadas de participar do esquema de corrupção na Petrobrás, argumentando com o risco do desemprego:

          “Preocupam o PT as consequências para a economia nacional do prejulgamento de empresas acusadas no âmbito da Operação Lava-Jato. É preciso apressar os acordos de leniência, que permitam  a recuperação de recursos eventualmente desviados e que não se paralisem obras, a fim de impedir a quebra de empresas e a continuidade das demissões daí resultantes.”

           Comovente, não lhes parece?  Essa preocupação social do grande Líder só surge quando o ataque dos corruptos à Petróleo Brasileiro S.A. é desvendado pela operação da Polícia Federal e vem sendo julgada, com exação e coragem, pelo Juiz Sérgio Moro.

          Nesse contexto se insere o estranhíssimo pedido de habeas corpus preventivo que foi protocolado em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa iniciativa teria sido tomada exclusivamente por Maurício Ramos Thomaz, e seria para evitar  uma eventual prisão preventiva de Lula da Silva.

          O desembargador João Pedro Gebran Neto negou o pedido, considerando não existir fundamento legal:  “Cuida-se apenas de aventura jurídica que em nada contribui para o presente momento, talvez prejudicando e expondo o próprio ex-presidente,uma vez que o remédio constitucional (habeas corpus preventivo) foi proposto à sua revelia.”

           De qualquer forma, o tal habeas corpus preventivo causou comoção política e turbulência no mercado financeiro.  Assim que a notícia começou a circular, a Bolsa de São Paulo intensificou  a tendência de queda pela iminência da crise política. Nesse sentido, o Instituto Lula pediu que a Justiça Federal desconsiderasse a solicitação. O próprio Juiz Sérgio Moro se manifestou a propósito, afirmando que Lula não é investigado na Lava-Jato.

            Não se sabe a que atribuir esse factóide, se confeccionado pela oposição, se por alguém condoído pelas inquietudes expressas pelo líder petista, que não fez segredo sobre a circunstância de que pensava estar na mira do Juiz Sérgio Moro.

            No seu presente estado de alguma excitação,  Lula parte para uma intromissão exacerbada nas questões de Governo e partido.  Assim, nesta segunda feira, o grande timoneiro disse que o partido precisa “fazer uma revolução interna, colocar gente nova, gente que pensa diferente”. Entre outras medidas, a Executiva decidiu ontem, 25 de junho, criar um Conselho com a participação até de não filiados. Segundo o solícito Falcão, será instância para ‘trocar ideias’ sobre a conjuntura política.

             Será o nervosismo de Lula da Silva, a quem irrita a passividade do PT, que empurra o Partido dos Trabalhadores a agitar declarações e quem sabe até  factóides, para dar impressão de um movimento determinado.

              Segundo Falcão, “vai ser um conselho ligado à presidência do PT com entre quinze e vinte participantes. Faremos uma reunião a cada trinta ou quarenta dias, com participação de gente do PT e gente amiga do PT.”

              O ativismo de Lula – não é por acaso que observadores o acham ‘pilhado’ – incluíu visita do Ministro da Comunicação Social, Edinho Silva.

               Por outro lado, supostamente para baixar a temperatura, a bancada do PT  na Câmara adiou a divulgação de documento respaldando as críticas de Lula, como havia feito a do Senado, e convidou o ex-presidente para  reunião na próxima semana, em Brasília.  O encontro aconteceria enquanto Dilma Rousseff visita afinal oficialmente o Presidente Barack Obama.   

                Lula parece por vezes um canhão solto no convés de navio que enfrenta mar agitado. Atira e reclama para todos os lados, e, pelo visto, desejaria  que se avalie como coerentes e construtivas as suas muitas e nem sempre lógicas posturas.

                Deblatera e investe não contra moinhos de vento, mas no que tange à realidades que se foram conformando, muita vez à revelia do Governo Dilma Rousseff e  do próprio Grande Comandante.

                As instâncias partidárias – que nele vêem a última esperança da manutenção do poder ainda além da Taprobana – atendem a todos os seus caprichos, ou pelo menos se esforçam em tal sentido. Sua Excelência estária próximo de um ataque de nervos? Ele decerto não é personagem de Almodobar, mas por vezes se tem a impressão de que ocorreria aqui outro fenômeno de conhecimento dos cinéfilos, mas só que de outro filme e outro cineasta, no caso Woody Allen.  No sentido contrário da Rosa Púrpura do Cairo, Lula batalha por sair da platéia  e adentrar o espaço do filme, onde tudo que lhe interessa estaria acontecendo. A manobra não é das mais fáceis, mas quem pode subestimar a Lula da Silva?

 

( Fonte: O Globo )