O blog,
nas suas condições, é apenas um quadro negro ou até mesmo branco, que busca
refletir a certa realidade. Nas palavras do poeta, ela será eterna enquanto
dure. O problema, no entanto, está em lidar diuturnamente com esse gênero de
manifestação. O dia-a-dia, quer queiramos, quer não, induz e até mesmo nos leva a conferir-lhe uma
presença que pode ser ilusória.
De
repente, nos damos conta que não é bem assim.
Pensamos lidar com uma construção, como se fora talvez parede, ou até
mesmo mural, e, pelas circunstâncias de quadro de que participam uma
pluralidade de agentes, jogamos nessa situação caráter de suposta perenidade,
que será apenas, na verdade, uma outra ilusão de nós, pobres criaturas, que,
de súbito, nos descobrimos dependentes de forças tão várias e imprevisíveis,
que nos estão acima, muito acima.
A sua - e a nossa vulnerabilidade é gritante e para aqueles que pensaram
poder senão controlá-lo, pelo menos levá-lo nesse estranho compasso que
participa tão subdolamente[1]
em nossas vidas, chegando a ser tal presença, em certos aspectos, tão
constrangedora quanto exasperante.
As explicações podem ser várias, quiçá ilusórias, e por mais que nelas nos aventuremos, o
caminho tenderá a afunilar-se, como se, de repente, nos capacitássemos de o que
somos, de o que pensamos ser, e de toda a irrealidade que tecemos à volta, em
um jogo no qual interagem fantasia, incúria, além do insano mergulho naquelas
mesmas insondáveis profundezas de que faz muito escarnece o mergulhador de Paestum, uma dessas estranhas figuras
que nos lega quiçá in aeternum a Antiguidade latina.
(a continuar ?)
[1]
Em português os dicionários ainda não consignam esta palavra. Mas ela faz parte
da língua italiana, que em muitos sentidos está presente nas demais línguas
latinas, que do Lácio se originaram.
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