terça-feira, 6 de novembro de 2018

Uma satisfação necessária


                    

           O blog, nas suas condições, é apenas um quadro negro ou até mesmo branco, que busca refletir a certa realidade. Nas palavras do poeta, ela será eterna enquanto dure. O problema, no entanto, está em lidar diuturnamente com esse gênero de manifestação. O dia-a-dia, quer queiramos, quer não,  induz e até mesmo nos leva a conferir-lhe uma presença que pode ser ilusória.        
            De repente, nos damos conta que não é bem assim.  Pensamos lidar com uma construção, como se fora talvez parede, ou até mesmo mural, e, pelas circunstâncias de quadro de que participam uma pluralidade de agentes, jogamos nessa situação caráter de suposta perenidade, que será apenas, na verdade, uma outra ilusão de nós, pobres criaturas, que, de súbito, nos descobrimos dependentes de forças tão várias e imprevisíveis, que nos estão acima, muito acima.
              A sua - e a nossa vulnerabilidade é gritante e para aqueles que pensaram poder senão controlá-lo, pelo menos levá-lo nesse estranho compasso que participa tão subdolamente[1] em nossas vidas,  chegando  a ser tal presença, em certos aspectos, tão constrangedora quanto exasperante. 
                As explicações podem ser várias, quiçá ilusórias,  e por mais que nelas nos aventuremos, o caminho tenderá a afunilar-se, como se, de repente, nos capacitássemos de o que somos, de o que pensamos ser, e de toda a irrealidade que tecemos à volta, em um jogo no qual interagem fantasia, incúria, além do insano mergulho naquelas mesmas insondáveis profundezas de que faz muito escarnece o mergulhador de Paestum, uma dessas estranhas figuras que nos lega quiçá in aeternum  a Antiguidade latina.

(a continuar ?)                


[1] Em português os dicionários ainda não consignam esta palavra. Mas ela faz parte da língua italiana, que em muitos sentidos está presente nas demais línguas latinas, que do Lácio se originaram.

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