sábado, 10 de novembro de 2018

Ainda o Brexit


                         
      
        Os irmãos Johnson marcam a própria presença na política britânica pela sua irrequietude.  Sob a fraca liderança de Theresa May, eles parecem ter a sua própria agenda, não obstante a circunstância de que a respectiva inventividade os empurre para papéis diversos, seja no Parlamento, seja no gabinete da ex- Ministra do Interior.
         Agora, um é favorável à permanência do Reino Unido na União Européia. Com efeito, Bo Johnson renunciou ao seu cargo no gabinete, por discordar do modelo de Brexit defendido pela May. Associou-se também ao movimento de convocar um novo plebiscito, para decidir se afinal os ingleses devem deixar ou não a União Europeia.
          Para Johnson, apoiar o acordo de saída que Londres e Bruxelas tentam finalizar, seria um "terrível erro". No entender do caçula dos Johnson, apoiar tal acordo equivaleria a deixar o Reino Unido economicamente fraco e sem poder de decisão nas regras que a UE manda seguir.
           Se examinarmos com seriedade o tal acordo, com efeito, ele apresenta grave erro de concepção. Ao querer tornar ambígua a sua saída do Mercado Comum, a May, em troca de acerto formal com Bruxelas,  cede o seu atual poder de voz e voto na organização de Bruxelas, em troca de certas vantagens no acordo final de separação.
            Pois não há negar que esse Brexit, ao marcar a separação, deixaria Londres economicamente fraca, eis que, não mais tendo acesso à câmara das decisões (o que os italianos chamam de camera dei bottoni), teria de contentar-se com posição secundária, sem voz em capítulo.
            Por sua vez, Boris Johnson, o irmão mais velho e sem trocadilho, que ocupava posições de maior poder no gabinete, já deixara o gabinete em julho, também por discordar da maneira com que o divórcio de Bruxelas estava sendo realizado. No entanto, Boris apoiara, no desastroso referendo ineptamente convocado pelo então Primeiro Ministro Cameron, a permanência do Reino Unido na U.E.
             Como se sabe, os problemas da May se originaram da convocação antecipada de eleições em Westminster, no qual processo ela pensara reforçar a própria posição. A jogada acabou por deixá-la sem maioria absoluta no Parlamento, e a força que julgara possível alcançar,na verdade, se transformou em fraqueza, a ponto de obrigá-la a negociar um acordo com o pequeno partido DUP, que é ligado à Irlanda do Norte e a seus problemas. 
               A hubris  da May, que a induzira à estulta jogada de reforçar a sua dúbia lide-rança recorrendo a uma eleição desnecessária, na prática a tornou dependente de um partideco norte-irlandês, que não obstante o número reduzido de membros, tem poder de vida e morte sobre o ministério da May.
                  Assim, o Brexit, chamado à vida por um inútil referendo (que decretou a morte política do Primeiro Ministro David Cameron), continua a vogar sobre mares tempestuosos e incertos, sob o incerto timão da limitada Theresa May, que pensara entrar para a História voltando aos tempos da Inglaterra rainha dos mares, e que decerto, pela condição ignara, desconhecia o esforço hercúleo da geração política inglesa anterior,  que teve de esperar  a morte política de De Gaulle para adentrar no ambicionado clube do Mercado Comum.    

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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