Os irmãos Johnson marcam
a própria presença na política britânica pela sua irrequietude. Sob a fraca liderança de Theresa May, eles parecem ter a sua própria agenda, não obstante a
circunstância de que a respectiva inventividade os empurre para papéis diversos,
seja no Parlamento, seja no gabinete da ex- Ministra do Interior.
Agora, um é favorável à permanência do Reino Unido na União Européia. Com
efeito, Bo Johnson renunciou ao seu cargo no gabinete, por discordar do
modelo de Brexit defendido pela May. Associou-se
também ao movimento de convocar um novo plebiscito, para decidir se afinal os
ingleses devem deixar ou não a União Europeia.
Para
Johnson, apoiar o acordo de saída que Londres e Bruxelas tentam finalizar,
seria um "terrível erro". No entender do caçula dos Johnson, apoiar
tal acordo equivaleria a deixar o Reino Unido economicamente fraco e sem
poder de decisão nas regras que a UE manda seguir.
Se examinarmos com seriedade o tal
acordo, com efeito, ele apresenta grave erro de concepção. Ao querer tornar
ambígua a sua saída do Mercado Comum, a May, em troca de acerto formal com
Bruxelas, cede o seu atual poder de voz
e voto na organização de Bruxelas, em
troca de certas vantagens no acordo final de separação.
Pois não há negar que esse Brexit,
ao marcar a separação, deixaria Londres economicamente fraca, eis que, não
mais tendo acesso à câmara das decisões (o que os italianos chamam de camera dei bottoni), teria de contentar-se
com posição secundária, sem voz em capítulo.
Por
sua vez, Boris Johnson, o irmão mais velho e sem trocadilho, que ocupava
posições de maior poder no gabinete, já deixara o gabinete em julho, também por
discordar da maneira com que o divórcio de Bruxelas estava sendo realizado. No
entanto, Boris apoiara, no desastroso referendo ineptamente convocado pelo
então Primeiro Ministro Cameron, a permanência do Reino Unido na
U.E.
Como se sabe, os problemas da May se originaram da convocação antecipada
de eleições em Westminster, no qual processo ela pensara reforçar a própria
posição. A jogada acabou por deixá-la sem maioria absoluta no Parlamento, e a
força que julgara possível alcançar,na verdade, se transformou em fraqueza, a
ponto de obrigá-la a negociar um acordo com o pequeno partido DUP, que é ligado
à Irlanda do Norte e a seus problemas.
A hubris da May, que a induzira à estulta jogada de
reforçar a sua dúbia lide-rança recorrendo a uma eleição desnecessária, na
prática a tornou dependente de um partideco norte-irlandês, que não obstante o
número reduzido de membros, tem poder de vida e morte sobre o ministério da
May.
Assim, o Brexit, chamado à
vida por um inútil referendo (que decretou a morte política do Primeiro
Ministro David Cameron), continua a vogar sobre mares tempestuosos e
incertos, sob o incerto timão da limitada Theresa May, que pensara entrar para
a História voltando aos tempos da Inglaterra rainha dos mares, e que decerto, pela
condição ignara, desconhecia o esforço hercúleo da geração política inglesa
anterior, que teve de esperar a morte política de De Gaulle para adentrar no ambicionado clube do Mercado Comum.
( Fonte: O
Estado de S. Paulo )
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