O
empresário brasileiro, Carlos Ghosn, um
dos responsáveis pela união entre a
Renault (francesa) e a Nissan (japonesa), foi preso pela polícia japonesa.
Segundo consta, Ghosn
é acusado de fraudar sua declaração de renda e de usar recursos corporativos
para benefício pessoal.
Conhecido pela
capacidade de cortar custos e recuperar negócios em crise, a acusação contra o
executivo brasileiro originou-se de denúncia interna e teve a colaboração da
Nissan nos últimos meses.
Analistas vêem o
caso como uma ameaça à supracitada aliança Renault-Nissan, firmada há quase vinte anos.
O escândalo em
apreço ocorre um ano após Ghosn deixar o comando do dia-a-dia das operações da
Nissan. Sem embargo, ele se manteve à frente do grupo que reúne as três
montadoras, cargo no qual ele havia expresso o desejo de permanecer pelo menos
até 2020.
Sem embargo, diante
da magnitude do ocorrido, a Nissan divulgou nota pedindo "sinceras desculpas" pelas
dificuldades que a investigação causará a acionistas e parceiros.
Dentro da mesma
linha, a montadora japonesa marcou reunião do conselho para a próxima
quinta-feira, na qual será votada a demissão de Ghosn. Nesse sentido, é dada
como certa a saída do executivo brasileiro.
A apuração das
autoridades japonesas envolveu práticas de Ghosn e do executivo estadunidense
Greg Kelly. "A investigação mostrou que, por muitos anos,tanto Ghosn
quanto Kelly informaram valores de remuneração no relatório de valores mobiliários
da Bolsa de Valores de Tóquio, que eram menores do que a quantia real, para
reduzir a quantia divulgada da remuneração de Carlos Ghosn", asseverou a
Nissan, em comunicado.
Esse aspecto
mais lúrido na atuação de Carlos Ghosn, com subdeclaração de valores, se
contrapõe à atuação exitosa tanto na França, quanto no Japão do executivo
brasileiro. Dessarte, após anos de êxito na França, Ghosn chegou ao Japão com
fama de superestrela corporativa. Ele é um dos raros casos de estrangeiro que
conseguiu se manter no topo de um grupo japonês. Com efeito, Ghosn ficou tão
famoso que sua história de vida passou a ser contada no estilo de estória em quadrinhos.
Contribuíu
muito para a projeção de Carlos Ghosn, a circunstância de que, desde 1996, a
Renault teve, por seu intermédio, papel fundamental na união com a Nissan, em
1999. O grupo também inclui a Mitsubishi
desde 2016. É de notar-se que juntas as três montadoras venderam 10,8 milhões
de unidades em todo o mundo em 2017 -
mais do que o volume individual
de Toyota, Volkswagen e GM.
Na
Nissan, Ghosn é creditado por salvar a japonesa do colapso financeiro.
Implementou uma série de mudanças na companhia,
incluindo o fechamento de cinco fábricas, com a demissão de 21 mil
trabalhadores. Para Ghosn, o mercado global de veículos de passeio estava muito
pulverizado. Por isso, ele agregou a Mitsubishi à aliança. Outro breakthrough
importante do executivo brasileiro foi o seu investimento em carros elétricos,
antes de seus rivais.
É bastante triste o quadro superveniente, em
função dos deslizes do executivo brasileiro. Essa prisão teve impacto
direto nas ações da francesa Renault, que fecharam em queda de 8,43% na
Bolsa de Paris. Pela manhã, os papéis chegaram a recuar 13%. A súbita
saída de Ghosn deve levantar questões sobre o futuro da aliança por ele
moldada, e que se comprometera a consolidar e aprofundar ao longo dos próximos
dois anos. "A reação inicial das ações mostra como ele é fundamental nesse
processo", disse à Reuters o analista do Citigroup, Raghav
Gupta-Chaudhary.
Para inúmeros analistas do mercado, o executivo brasileiro é a
"cola" que vem mantendo a aliança coesa. Nesse contexto, é oportuno lembrar que já houve
casos de fusões do setor automotivo que tiveram de ser desfeitas. V. a propósito,
o caso da Daimler-Chrysler, que soçobrou em 2007.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo, caderno de Negócios.)
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