Como se sabe, o atual gabinete italiano
é presidido pelo Primeiro Ministro Giuseppe Conte. Não tendo apoio de base partidária, a sua força
relativa tende a ser administrativa. Em um universo de líderes partidários, o
seu papel político tende a ser menor.
Tal não é o caso de Matteo
Salvini. Ele compartilha com Luigi
di Maio, ministro do Trabalho, e
líder do movimento Cinco Estrelas (esquerdista), a posição de vice-Premier.
Enquanto Ministro do Interior, Salvini - líder da ultra-direitista Liga
Norte,
que foi criada na década de noventa, em que preconizava a secessão da Itália
(hoje abandonada). A princípio, ficou na sombra
de Berlusconi e o Forza Italia, até o último março,quando desbancou o
parceiro na coligação conservadora.
O outro parceiro importante no gabinete
italiano atual é o Movimento Cinco Estrelas. Até o presente, a despeito de
posições contrastantes, os chefes dos dois partidos, Salvini e Di Maio deram,
segundo o diretor Molinari de La Stampa,
" a resposta certa à classe média, projetando uma imagem de proteção
contra a desigualdade, a corrupção e os
imigrantes". Ainda no entender de
Molinari, "Salvini é mais forte, porque é mais fácil vender uma mensagem de
proteção na seara da imigração do que na da desigualdade."
Há um traço demagógico, e até mesmo
com cores xenofóbicas, em Salvini, que faz relembrar posições anteriores da
Liga Norte. Sem embargo, para o
professor universitário Fulco Lanchester, de Ciência Política, o trunfo do
ministro do Interior é lançar ataques
contra alvos claros: uma elite cosmopolita e sua suposta falta de amor pela
pátria.
A cruzada do Vice-Premier inclui
declarações em que os associa a estupros, roubos e tráfico de drogas. Além
disso, tem ações concretas, que não
tendem a projetar imagem favorável para a Itália: proibição de desembarque de
navio de resgate de africanos que ficaram à deriva a caminho da Europa.
A despeito do caráter un po rozzo de certas posturas de Salvini, Antonio Villafranca,
coordenador de pesquisa do Instituto para Estudos de Política Internacional, vê
continuidade em relação ao governo anterior, de centro-esquerda, do respeitado Matteo Renzi.
"Salvini usa palavras mais
duras, mas a natureza dos pedidos que o país faz à União Europeia é a
mesma." Assim, "pede-se a introdução de um mecanismo permanente de
realocação de refugiados dentro do bloco e se negocia com milícias que
controlam a Líbia para estancar o fluxo dos que se lançam ao mar. Isto já existia."
Há outros traços, no entanto, do
comportamento de Salvini que lembram mais a sua atuação, com alegadas simpatias
fascistas, na Liga Norte.
Há dificuldades na relação com a UE em termos de economia. A proposta de
orçamento para 2019 prevê déficit de 2,4% do PIB, que seria necessário, segundo
o governo, para financiar obras de infraestrutura e uma renda básica universal,
que iria impulsionar a economia.
Bruxelas discordou. A previsão de gastos em nada contribuía para
diminuir a dívida pública (hoje, em 131% do PIB). Pediu por isso nova versão,
que voltou com o mesmo prognóstico de déficit. O clima com Bruxelas não é, portanto, dos
melhores.
Tampouco ajuda que Salvini e Di Maio se aproximem dos fascistóides Viktor
Orban (Hungria) e do polonês Andrzej Duda...
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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