Quis a sorte madrasta
que a infeliz jogada do Brexit, aceita pelo Premier David Cameron
caísse no colo da Primeiro Ministra Theresa May.
Alguém com um pouco mais de
experiência política, ou talvez de massa cinzenta, não teria caído neste falso aut-aut, em que se consome desde a
partida do criador do desastre a novela do Brexit.
Há muitos problemas relativos à esse
pobre neologismo, que mais em verdade chegou para desarvorar a velha
Inglaterra, e submetê-la a meses de incerteza e de falsos caminhos, que era
tudo o que não desejavam os prógonos britânicos da antojada reunião ao
Continente Europeu.
Uma
vez encetado o referendum sobre a
União com Bruxelas, e a indescritível maneira com que ele foi conduzido: a
displicente aceitação por Cameron -
que pensara, quiçá, imitar a Tony Blair (cujo também dispensável
apelo a mais um referendo sobre a questão obtivera decisão favorável à
permanência no Mercado Comum Europeu),
não é que alguém com menor sentido histórico (dos que propugnaram,
contra tudo e sobretudo de Gaulle, levar adiante a união necessária e, na verdade,
indispensável, para a velha Àlbion) volta a ocupar-se do tema.
Reacende-se a fogueira das ambições
- e os nomes daqueles que pensam colher preciosos frutos em uma estranha
terra-nova, que na verdade é mais velha do que a Sé de Braga - e ressurgem os
ávidos gananciosos agentes, que auguram redescobrir na suposta independência
política novas avenidas que lhes conduzam
quem sabe ao magnífico isolamento de um retorno aos países de antanho.
Mas o retrocesso promete mais. Encarrega-se a alguém sem demasiado
brilho para conduzir o povo inglês pelas novas-velhas
sendas dos descaminhos políticos.
Rever
o avanço da May através das trilhas da separação da União Europeia, é sentir um
aperto quanto a tamanha falta de orientação, que, na verdade, apenas repete os
erros do próprio antecessor, que, ao dar-se conta, da enormidade do respectivo
falso passo, renunciara depressa a Downing
Street nº 10 e a todos os descaminhos que uma tal posição de mando sói
oferecer a todo aquele que é tangido menos pela capacidade, do que pela confusa
ambição aos ambíguos acenos da chefia do
Gabinete de Sua Majestade.
Alguém poder lograr inserir-se na cadeia de nomeada, que inclui Asquith,
Disraeli e Churchill, mas infelizmente sentar-se na dita cadeira, não garante
que esse alguém será inebriado pelos mesmos gases de discrição, sentido de
oportunidade, e um sopro da eventual grandeza que é a poucos reservada.
Faz meses que, pelos movimentos no Parlamento e em Downing Street, se
vem gritando aos céus, que, com toda a cautela e prudência necessárias, se
criem as condições para a magna consulta que entregue a quem de direito a
escolha suprema de uma questão pela qual o Povo da velha Britânia - que, não por acaso, irá incorrer nas consequências - tem demonstrado, por sem-número de indícios
e sinais, de que deseja ardentemente assumi-la com todas as suas consequências.
Não é necessário aparelho especial para detectar tal pulsão, que cruza
as grandes e pequenas metrópoles dessa vetusta, porém mui importante ilha. Ela
se manifesta em toda a parte, por passeatas, por comícios, por discursos e o
que mais exista e possa para transmitir humanas aspirações.
Não vamos baratear este jogo com consultas a mofinas e desimportantes
políticas, que se contorcem pelas dificuldades paroquiais do mau acordo, que
seriam de pronto varridas pela decisão, com a coragem e o descortínio que não
mais estão em aparência com a necessária disponibilidade, pela qual a
relevância do momento continua a clamar.
Entrementes, pensando na sua tacanha maioria, de que careceu ao cabo de
outra insensata decisão, a May continua a ser perseguida pelos reclamos de um
mofino partido, a União protestante da Irlanda do Norte, que supostamente da à
Primeiro Ministro os votos necessários para guarnecê-la dos ataques que sofre
em Westminster, pela própria sobrevivência política.
Se a May pensasse grande,
enjeitaria as mofinas querelas e reclamos da DUP, e aceitaria entregar
a decisão de tal momentosa querela a quem de direito deve ao cabo decidi-la,
pois será quem irá sofrer as eventuais
mesquinharias e desacertos.
Se Theresa May pensar grande, ela
terá a sabedoria de confiar por vez última a decisão dessa questão - se o Reino
Unido fica ou não na União Européia - ao próprio Povo inglês, que já colheu, ao
cabo desse longo e inconclusivo entreato, a percepção de o que irá
irremediavelmente perder, uma vez consumada e, em verdade, enterrada qualquer
esperança no que tange a uma redescoberta do óbvio - de que o futuro do Reino
Unido não está no passado, mas sim no cometimento desta magna questão não mais
a consultas de afogadilho, mas sim a uma
verdadeira decisão do Povo inglês, que, diante do aviso de seus maiores, opta
pelo caminho que se abriu desde o primeiro ingresso de Londres na União
Europeia.
Só o Povo inglês pode
na verdade decidir o que consultas de veraneio não podem determinar. Como a
França, a Alemanha e a Itália, o porvir
da Inglaterra está na União Europeia. Isso foi sentido por grandes políticos,
que lograram o objetivo, uma vez que a grande rocha deixou de influir pelo
silêncio, no destino de uma grande
Nação, que é tão europeia quanto a tantas outras que ouviram o apelo dos
tempos, e a gritante necessidade da união dos povos do Velho Continente.
A
hora é de olhar para o futuro, com confiança e determinação.
( Fontes: The Independent, O Globo, et. al.)
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