sábado, 10 de novembro de 2018

Angela Merkel será uma líder em extinção ?


                       
         Provocou alguma consternação o anúncio de Ângela Merkel de que abandonará o governo alemão na próxima década?
           Não sei se terá sido oportuna tal declaração. A qualidade da Chanceler germânica não está decerto em dúvida, mas, pensando nas matreirices mineiras, não estou seguro de que dar prazo antecipado ao respectivo exercício do poder não seja maneira de referir um acontecimento, cujo processo inercial, sem o querer, a autoridade em causa já estaria pondo à baila.
           Mas quem sou eu para duvidar do acerto de tais assertivas, que terão sido longamente meditadas ?
            De toda forma, nesse deserto relativo de líderes da pós-modernidade, é de deplorar-se que personalidade da estatura da Merkel já esteja meditando sobre a data de sua partida da vida política.
             As grandes personalidades deixam vácuos, quando anunciam tais propósitos. Como as nossas bancas (sem falar de lojas dedicadas a publicações estrangeiras, que de repente se tornaram quase inexistentes) têm digamos um cosmopolitismo moderado - e nem sempre a internet nos proporciona a resposta - muita vez ficamos restritos às dúvidas que sóem acompanhar afirmações que andem na dúbia companhia de uma falta de detalhes pertinentes.
                Quando me reporto à partida de líderes alemães, há dois que me repontam na memória: o desenho famoso do Punch sobre a pouco sábia destituição do Chanceler von Bismarck, que desce a escada do portaló de navio de guerra, sob o olhar algo ausente do soberano, o jovem Guilherme II. É famosa, e a um tempo premonitória, a charge britânica. Sem o saber, o desenhista intui o que o Reich alemão - e o mundo - vão perder.
                 Por outro lado, Ângela Merkel faz parte de outro quadro. Originária da Alemanha Oriental - a DDR - a sua terra natal não lhe impediu a ascensão. Para tanto, teve a proteção do Chanceler Helmut Kohl - que lhe reconheceu as grandes qualidades e capacidade de liderança. Por isso, ela o sucederia na Chancelaria germânica.
                  Através dos anos subsequentes, a sua trajetória, se terá deparado os inelutáveis e inevitáveis óbices, sempre lhe mostrou a qualidade de somar, de ouvir, e, por conseguinte, liderar. Em termos de refugiados, a própria heróica decisão de acolher os infelizes da Síria marcou a um tempo a sua grande coragem como líder, e o quanto uma figura de tais parâmetros éticos reponta no quadro mundial, com presença que se compreenda deva constranger a certas provadas mediocridades atuais, que devem, coitados, sentir-se diminuídos na sua presença, tudo isso apesar da habilidade natural da Merkel em pôr os próprios interlocutores a suo aggio. [i]



[i] a suo aggio, dar tratamento adequado a alguém.

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