As Contas do Levy
As contas ruins
do governo Dilma II são anunciadas
pela imprensa. O viés é tão negativo, no entanto, que sequer dá maior
importância ao superávit primário de janeiro.
Reporta-se a essa economia de R$ 10,4
bilhões para o pagamento dos juros da dívida público, e chega a compará-lo
com o ‘superavit’ do ano passado, que teria montado a R$ 13 bilhões.
Será que
acaso esqueceram que o superávit de janeiro de 2014 correspondeu a ‘mágica’
de Guido Mantega, com a manipulação
de dados e de restos a pagar – como se verificaria mais tarde – e que na
verdade o tal superávit de treze
bilhões não passava de malabarismo fiscal, bem à maneira da Fazenda no Dilma I
Para o ajuste fiscal – que é indispensável –
faltam os Silas e Caribdes do Congresso. Se por demagogia,
suas excelências resolverem deturpar o ajuste, estarão contribuindo para tornar
mais difícil o trabalho do Ministro da Fazenda – e por conseguinte a limpeza
nas cavalariças de Áugeas.
A
Presidenta parece resignada e mesmo conformada com o tratamento de choque.
Depois da farra fiscal do quadriênio passado, não há outro jeito. É de
esperar-se que no frigir dos ovos, PT e congêneres joguem menos para a
arquibancada e tomem umas pastilhas de juizol.
Simplificação de procedimentos
Acabar com
atávica burrice da burocracia nas exigências para formação e fechamento de
empresas é outra medida de grande importância, e que deveria dar início a uma
onda geral nesse sentido.
A burocracia
costuma ser tarda, indolente e burra. Não há símbolo melhor dela que o casaco
do servidor (ausente) devidamente pendurado no espaldar da cadeira, como se
pedaço de vestimenta fosse confirmação de presença.
É um truque
cediço e tão velho quanto a Sé de Braga, a que deveríamos pôr fim, junto com a
vergonha e o deboche da burocracia para com o público.
As medidas
anunciadas mostram que a velha herança portuguesa não é um destino imutável e
maldito, não suscetível de reforma e atualização.
Tornar
rápida e simples a formação de empresa, assim como o seu fechamento é outra
ótima notícia, que nos livra do desconforto de ter de conviver com a agressiva
e custosa burrice de dona burocracia.
Os emissários submarinos
Desde os
tempos de criança ouço falar nos chamados emissários
submarinos, cuja construção tem parecido aos prefeitos do Rio de Janeiro
desde o tempo em que aqui estava a capital da República como a solução moderna
e indispensável para o problema dos esgotos nesta mui leal e heroica Cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro.
Como já
se passaram muitos lustros desde que deixei os brinquedos da infância, os
estudos e folguedos da juventude, e adentrei uma profissão de estado – após
atravessar as forcas caudinas de um longo vestibular – e depois de mais de
cinquenta anos de serviço público na diplomacia fui aposentado por atravessar o
marco dos catorze lustros, enquanto se sentava na cadeira de Rio Branco ministro que cuidou de baixar
os requisitos de ingresso no Itamaraty para servir menos à instituição e mais a
quem o designara – devo confessar que principiei a achar deveras estranho que a
rústica tecnologia do emissário submarino – não descerei a detalhes em respeito
ao leitor –continue a imperar, como se para os senhores prefeitos a tecnologia
dos esgotos e como deles ver-se livre continuasse a mesma.
E não é
que aumenta o meu espanto em que o Senhor
Prefeito Eduardo Paes – que espero já tenha retornado de sua missão a Paris
(as autoridades das megalópoles não viajam, mas sim aceitam missões) –venha a
público falar de um enésimo emissário submarino, como se fora obra de grande
complexidade e relevância.
Mas
afinal o que é um emissário submarino, senão uma enorme tubulação que se propõe
jogar nos domínios do deus Poseidon
(ou de Netuno, se o preferir) todas
essas excrescências humanas e animais, para que as autoridades não mais
encontram espaço e serventia? O que me
espanta, Senhor Prefeito, é que depois de tantos decênios a tecnologia da
utilização do esgoto continue a imitar o movimento de um selvagem que livra-se
do lixo jogando-o fora, ao invés de incinerá-lo em fogueiras longe de suas
tabas.
Ouço
falar no Oriente em usinas de processamento desses resíduos, capazes de
transformar em águas límpidas e potáveis a malcheirosa carga dos esgotos. Será
que essa tecnologia ainda aqui não chegou? Como Vossa Excelência costuma seguir
o exemplo de seu padrinho, o senhor Sérgio
Cabral, é difícil acreditar que nos grandes roteiros não lhe tenham falado
das maravilhas da tecnologia pós-moderna.
Embora
ele não seja deste tempo, não duvido que o deus Poseidon agradeceria que não se emporcalhasse ainda mais os seus
vastos domínios, a que hoje ataca a fementida poluição, seja em dejetos
daqueles maravilhosos e mastodônticos navios-cruzeiro, seja no lixo das grandes
megalópoles, de que Don DeLillo nos
escreve em seu maçudo romance Submundo (Underworld).
Sendo jovem ainda, não creio que deseje ver a sua recepção da Olimpíada vir a
ser manchada por resíduos a que a pós-modernidade já encontrou maneiras mais
ecológicas de processar.
Adeus, Mujica !
A 1º de
março, o presidente José ‘Pepe’ Mujica,
de 79 anos, passa o governo do Uruguai ao aliado e ex-presidente Tabaré
Vázquez.
A
simplicidade é a marca registrada de Mujica. Embora a facilidade do acesso seja
uma característica da antiga Banda Oriental, Mujica a encarnou de modo mais
forte. O povo sentia que não havia demagogia em enjeitar a residência oficial,
viver numa granja na campanha, e dirigir um velho Fusca azul. Mujica deixa o governo com aprovação elevada,
em torno de 65%, mas se assinala que na sua primeira administração Tabaré a
concluiu com aprovação ainda mais alta.
Segundo refere a diretora da consultoria Cifra, Mariana Pomies, que faz
pesquisa de opinião as virtudes de Mujica são incomparáveis, como a franqueza e
o modo simples de dizer as coisas. Esse tipo de temperamento se coaduna com a
simplicidade típica das autoridades uruguaias. Nesse sentido, jovem diplomata,
em minha primeira missão ao exterior, foi recebido pelo presidente Haedo, com
cortesia e simplicidade, em Palácio Presidencial que a despeito do nome não se
caracterizava pelo grandioso e a suntuosidade a caracterizarem tais sedes, como se verifica na maioria dos
países.
Mujica passa uma imagem pouco comum nos dias que correm. A
honestidade: “a idéia da decência política, de alguém que sai do poder com
as mesmas posses que tinha quando entrou, é de uma simbologia muito forte num
continente marcado por escândalos de corrupção”, declarou à Folha Steven
Levitsky, professor de Harvard. Cidadania. O ex-guerrilheiro tupamaro
ficou quase 15 anos preso. Ao deixar o governo, recebe elogios não só por
pregar, mas encarnar na sua maneira singela os valores republicanos. Legislação
democrática. No seu período de
governo, entraram em vigor leis de direito civil, como a legislação do
casamento gay e do aborto, e está em processo de regulamentação a que transfere
ao Estado a produção e a distribuição da maconha. Em declarações a jornal
argentino, Mujica sublinhou: “não é uma lei hippie, não sou a favor da
marijuana. Queremos tirar o negócio das mãos do narcotráfico.”
Nem
tudo, porém, são flores. A criminalidade aumentou nos últimos anos, a ponto de
que a segurança se transformasse no tópico principal da última campanha. Outra
alegada fraqueza da administração Mujica foi a educação. O Uruguai obteve o pior resultado no PISA (programa internacional de
avaliação de estudantes), caindo de 47º ao 64° lugar.
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
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