Bernardo, em sua longa e brilhante
passagem pela Casa de Rio Branco, será sempre lembrado como ótimo colega e
chefe, em que a inteligência, a competência funcional e o bom senso se davam as
mãos, na companhia de fina ironia, a par de compreensão que surpreenderia até os que
estivessem quase diuturnamente a seu lado, no trabalho da chancelaria, pois
encontrava soluções que a outros haviam escapado, sempre guiado pelo interesse
da instituição e na tradição de nossos maiores.
Despachar com
Bernardo não era ocasião burocrática, mas oportunidade de sopesar as questões
da diplomacia multilateral, muita vez em verso e reverso, sempre pautado por
visão abrangente e a posição da Chancelaria, condimentada aqui e ali por sua
experiência, e algum detalhe inesperado, que muita vez relativizava ou enriquecia a questão, e a expunha na luz
inclemente do bom senso e da velha tradição herdada desde o Casarão da Rua
Larga.
Quando um diplomata
parte – e Bernardo nos deixa com antecipação excessiva – o seu legado,
sobretudo na subitaneidade desta viagem sem volta, fica mais por conta de seus
contemporâneos. Dados os seus dons e capacidade, é pelo menos reconfortante
que, sob o brutal impacto do fio cortado pelas cruéis Parcas, já repontem
muitos traços de seu trabalho. Na tradição de Italo Zappa, Bernardo foi grande Assessor
de imprensa, no terreno ainda minado do regime militar. Prova disso se acha na
lembrança e no testemunho dos que tiveram a fortuna de frequentar-lhe a sala.
A transição
da ditadura para a democracia é caminhada eivada de perigos e suspicácias.
Dentro dos parâmetros da instituição, Bernardo sempre guardou a necessária isenção,
o bom senso e o equilíbrio, a par de fino e agudo intelecto, nessa senda caprichosa em
que condimentava franqueza com prudência, que o acompanhava sempre como se fora
uma segunda natureza.
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