quarta-feira, 25 de março de 2015

Bernardo Pericás Neto (1941-2015)

                              

         Bernardo, em sua longa e brilhante passagem pela Casa de Rio Branco, será sempre lembrado como ótimo colega e chefe, em que a inteligência, a competência funcional e o bom senso se davam as mãos, na companhia de fina ironia, a par de  compreensão que surpreenderia até os que estivessem quase diuturnamente a seu lado, no trabalho da chancelaria, pois encontrava soluções que a outros haviam escapado, sempre guiado pelo interesse da instituição e na tradição de nossos maiores.

        Despachar com Bernardo não era ocasião burocrática, mas oportunidade de sopesar as questões da diplomacia multilateral, muita vez em verso e reverso, sempre pautado por visão abrangente e a posição da Chancelaria, condimentada aqui e ali por sua experiência, e algum detalhe inesperado, que muita vez relativizava  ou enriquecia a questão, e a expunha na luz inclemente do bom senso e da velha tradição herdada desde o Casarão da Rua Larga.

        Quando um diplomata parte – e Bernardo nos deixa com antecipação excessiva – o seu legado, sobretudo na subitaneidade desta viagem sem volta, fica mais por conta de seus contemporâneos. Dados os seus dons e capacidade, é pelo menos reconfortante que, sob o brutal impacto do fio cortado pelas cruéis Parcas, já repontem muitos traços de seu trabalho. Na tradição de Italo Zappa, Bernardo foi grande Assessor de imprensa, no terreno ainda minado do regime militar. Prova disso se acha na lembrança e no testemunho dos que tiveram a fortuna de frequentar-lhe a  sala.

         A transição da ditadura para a democracia é caminhada eivada de perigos e suspicácias. Dentro dos parâmetros da instituição, Bernardo sempre guardou a necessária isenção, o bom senso e o equilíbrio, a par de fino  e agudo intelecto, nessa senda caprichosa em que condimentava franqueza com prudência, que o acompanhava sempre como se fora uma segunda natureza.

 

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