A edição de hoje da Folha de S. Paulo tem cabeçalho que
discrepa dos títulos dos jornais dominicais. Em geral, o domingo, pela
antecipação das edições, não se caracteriza por notícias candentes. Por isso,
se dá destaque a temas de arquivo, que são reservados adrede para uma data em
que as novas mais quentes não costumam repontar.
Na primeira
página hodierna, no entanto, está a rara exceção que dizem confirmar a regra: Dilma é genuína mas nem sempre efetiva, diz
Levy.
Abaixo, mas na mesma página, o
leitor dispõe de mais detalhes da matéria de Joana Cunha: “O ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que presidente Dilma Rousseff é bem-intencionada
e genuína, mas nem sempre age de modo simples e eficaz.”
Falando em
inglês, a ex-alunos da Universidade de Chicago, sua alma mater, ele deu esta
opinião sobre a petista em evento fechado na terça, 24 de março, em São Paulo.
Na mesma
primeira página, declara a Folha que
obteve a gravação. Se a palestra era fechada ao público, presume-se que
gravações não seriam autorizadas. Surge a pergunta de como ela foi obtida.
Excluído o interesse da sociedade, pelas implicações do discurso – o que não é
aqui o caso – cabe perguntar dentro da ética jornalística, como tal gravação foi obtida.
O Ministro
Levy, não só dada a relevância das respectivas funções, mas também o óbvio
interesse nacional – a todos interessa, excluídos os partidários petistas
irracionais, que ele tenha êxito na sua missão – deve procurar ser mais
discreto. Talvez seja a relativa juventude, ou a relevância do próprio papel,
nele aparece uma veia de excessiva franqueza que, ou não condiz com a
respectiva posição, ou pode mesmo leva-lo a perde-la.
Ministros podem ser conjunturalmente
muito importantes – como aparenta ser o caso – mas tal deve ser motivo para
funda discrição, e não observações do talante que a Folha reserva para a
geralmente desenxabida edição dominical.
Há dois aspectos
que devem ser aqui considerados. O New York Times, que é um dos grandes
jornais do Ocidente, estampa na sua primeira página – a tradução é do autor –
que ‘imprime tudo o que seja adequado
imprimir’. Não é auto-censura, mas
afigura-se norma apropriada. Tem a ver tanto com o conteúdo, quanto com a fonte.
Por outro
lado, Joaquim Levy chegou cedo à cadeira de Ministro. Se se entende a
decorrente hubris, semelha relevante – se ainda for tempo – que ele se
auto-policie, para evitar indiscrições, ou observações que dissoam do respeito
que deve à sua chefe. Não nos esqueçamos, que um Ministro da Fazenda, mesmo com
a sua relevante missão, é tão demissível ad-nutum quanto um opaco colega seu,
com igual título de ministro, que
circule nos corredores do Planalto carregando nos ombros o manto cinza do
anonimato e o que é ainda mais oportuno, a santa irrelevância dos que pouco ou
nada contam.
Não é o
caso decerto do Ministro Levy. Agindo dessa forma, ele não encontrará pior
inimigo.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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