domingo, 29 de março de 2015

Levy e a manchete da Folha


                                    

        A edição de hoje da Folha de S. Paulo tem cabeçalho que discrepa dos títulos dos jornais dominicais. Em geral, o domingo, pela antecipação das edições, não se caracteriza por notícias candentes. Por isso, se dá destaque a temas de arquivo, que são reservados adrede para uma data em que as novas mais quentes não costumam repontar.

        Na primeira página hodierna, no entanto, está a rara exceção que dizem confirmar a regra: Dilma é genuína mas nem sempre efetiva, diz Levy.

        Abaixo, mas na mesma página, o leitor dispõe de mais detalhes da matéria de Joana Cunha: “O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que presidente Dilma Rousseff é bem-intencionada e genuína, mas nem sempre age de modo simples e eficaz.”

         Falando em inglês, a ex-alunos da Universidade de Chicago, sua alma mater,  ele deu esta opinião sobre a petista em evento fechado na terça, 24 de março, em São Paulo.

         Na mesma primeira página, declara a Folha que obteve a gravação. Se a palestra era fechada ao público, presume-se que gravações não seriam autorizadas. Surge a pergunta de como ela foi obtida. Excluído o interesse da sociedade, pelas implicações do discurso – o que não é aqui o caso – cabe perguntar dentro da ética jornalística, como  tal gravação foi obtida.

          O Ministro Levy, não só dada a relevância das respectivas funções, mas também o óbvio interesse nacional – a todos interessa, excluídos os partidários petistas irracionais, que ele tenha êxito na sua missão – deve procurar ser mais discreto. Talvez seja a relativa juventude, ou a relevância do próprio papel, nele aparece uma veia de excessiva franqueza que, ou não condiz com a respectiva posição, ou pode mesmo leva-lo a perde-la.

          Ministros podem ser conjunturalmente muito importantes – como aparenta ser o caso – mas tal deve ser motivo para funda discrição, e não observações do talante que a Folha reserva para a geralmente desenxabida edição dominical.

           Há dois aspectos que devem ser aqui considerados. O  New York Times, que é um dos grandes jornais do Ocidente, estampa na sua primeira página – a tradução é do autor – que ‘imprime tudo o que seja adequado imprimir’.  Não é auto-censura, mas afigura-se norma apropriada. Tem a ver tanto com o conteúdo, quanto  com a fonte.

            Por outro lado, Joaquim Levy chegou cedo à cadeira de Ministro. Se se entende a decorrente hubris, semelha relevante – se ainda for tempo – que ele se auto-policie, para evitar indiscrições, ou observações que dissoam do respeito que deve à sua chefe. Não nos esqueçamos, que um Ministro da Fazenda, mesmo com a sua relevante missão, é tão demissível ad-nutum quanto um opaco colega seu, com igual título de ministro,  que circule nos corredores do Planalto carregando nos ombros o manto cinza do anonimato e o que é ainda mais oportuno, a santa irrelevância dos que pouco ou nada contam.

               Não é o caso decerto do Ministro Levy. Agindo dessa forma, ele não encontrará pior inimigo.



( Fonte:  Folha de S. Paulo )             

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