Enésima sessão em honra a Netanyahu
O recente discurso
de Benjamin
Netanyahu perante o Congresso americano em sessão conjunta foi mais um
episódio da reversão de papéis entre Washington e Tel-Aviv.
Netanyahu fez
questão de frisar que a sua alocução na sessão conjunta não tinha objetivo
eleitoral. Teria sido mais conforme à realidade se o Primeiro Ministro
israelense houvesse, ao invés, asseverado que ela era mais uma intervenção
dentro de sua campanha para continuar à frente do gabinete de Israel...
Feita à revelia
da Administração do Presidente Barack Obama, Netanyahu, diante de
um público majoritariamente republicano, se empenhou em querer demonstrar que o
acordo sendo costurado com o Irã pelos Estados Unidos (e outros países do
Ocidente) seria um mau acordo (a bad deal),
a que o Premier se opõe desde sempre.
Netanyahu foi
partidário ardoroso de Mitt Romney, candidato
republicano em 2012. Somente dentro da peculiaridade que preside às relações
entre o estado cliente e a superpotência, é que existe uma quase-normalidade em
que Tel Aviv tome partido abertamente nas relações com Washington e possa até
permitir-se abraçar candidatura de oposição ao presidente americano em funções.
Daí decorre uma
série de liberdades do estado cliente em relação à potencia nominalmente líder.
Os convites dos líderes congressuais ao Primeiro Ministro israelense para que
compareça a sessões conjuntas em sua homenagem se repetem tanto que há uma
tendência à banalização de tais sessões solenes. Como o apoio a Israel consta ser,
junto ao eleitor estadunidense – e não apenas aos votantes de origem judaica –
um imperativo que pode traduzir-se em
votos, sobretudo na costa leste, as tais sessões conjuntas são eventos que se
repetem de forma amiudada. Nesta última, ao que consta, a própria Casa Branca
foi escanteada, eis que o escopo precípuo do discurso do ‘homenageado’
Netanyahu era de combater a atual orientação da Administração Obama de concluir
acordo nuclear com Teerã.
Se tais
ocasiões solenes são instrumentalizadas e um tanto barateadas pela oposição
republicana – a sessão foi presidida por dois republicanos, i.e., o Speaker da Casa de Representantes, John Boehner, e pelo segundo do Senado
(a Câmara Alta é sempre presidida pelo Vice-presidente em funções, no caso Joe
Biden, que não compareceu, pois a cerimônia fora convocada à revelia do
Presidente Obama), que é o líder da maioria no Senado (o GOP, como se sabe, nas últimas eleições intermediárias venceu os
democratas).
Em fim de
contas, a performance de Bibi Netanyahu
– que mantém relações frias com Obama – representou um show de influência política, porém no caso despojada de qualquer
possibilidade, seja de mudar a posição estadunidense quanto à oportunidade do
acordo com o Irã, seja de ter alguma influência junto ao eleitorado israelense.
Ao que consta, malgrado a dura posição anti-iraniana de Netanyahu, não parece que essa movimentação
colateral terá algum peso, quer no resultado do pleito, quer em alguma mudança
na política ocidental contra Teerã, na sua versão um pouco menos rígida do governo
de Hassan Rouhani, na terra dos ayatollahs.
Dentro de mal disfarçada hostilidade contra o líder da oposição a Putin, Boris Nemtsov, abatido a tiros em ponte
próxima do Kremlin, o governo russo
negou visto de entrada a diversos políticos europeus que pretendiam participar
das exéquias do prócer assassinado.
O óbvio propósito
é o de diminuir o realce das eventuais demonstrações de pesar a Nemtsov. Seria
como se mesmo inanimado, o ex-colaborador direto de Boris Ieltsin, influente
deputado na Duma, e das maiores expressões na aguerrida
bancada democrática, pudesse apresentar alguma ameaça ao autoritarismo e à
prevalente corrupção do regime de gospodin
Vladimir
Putin.
De qualquer
forma, se não surpreende pela truculência ínsita nessa disposição que traduz
grande insegurança – se o temem depois de morto, imagine-se em vida -,
evidencia uma postura à parte que se dissocia das normas ocidentais europeias.
Com maternal presciência,
a genitora temia pela vida do filho, e atribuía ao presidente Putin desígnios a
que o pobre Boris parecia não dar tento.
A Ucrânia
perde um grande defensor. Consta que as hordas rebeldes – com surpreendente
êxito contra o exército regular de Kiev – não dispõem apenas de armas pesadas de
procedência moscovita, mas também de cerca de doze mil ‘voluntários’ russos,
segundo comentou o comandante da NATO.
O que mais
surpreende nessa organização a que os inquietos países da área – os quais têm
sobejas razões para temerem os propósitos imperialistas de Vladimir Putin –
desejariam tivesse posição mais afirmativa no que tange a Moscou, é que
continue a negar à Ucrânia meios para se defender. Enquanto o armamento mais
sofisticado e letal é confiado às turbas ditas ‘separatistas’ da Ucrânia
oriental, por enquanto os meios para tentar conter o senhor do Kremlin se cingem a missões diplomáticas
que tanto se assemelham aos patéticos esforços dos europeus ocidentais diante
do agressivo imperialismo de Herr Adolf
Hitler, às vésperas da eclosão da IIª Guerra Mundial.
E por falar
nisso, dois porquês permanecem sem resposta: por que preocupava tanto a Putin que Boris
Nemtsov desejasse fazer campanha em prol da Ucrânia; e por que o governo russo
está em guerra não-declarada contra Kiev, para tanto instrumentalizando a carne
de canhão dos separatistas, reforçada com os ‘voluntários russos’,
nesse clássico conflito por interpostas pessoas, com escopos ainda não
suficientemente elucidados, dos quais o exercício das manobras de abril ultimo
na Crimeia - hoje integrada no mando moscovita - constituíra o amargo prelúdio,
no fim anunciado da Paz por aquelas bandas.
( Fontes: Folha de S. Paulo, The New York Times
)
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