segunda-feira, 23 de março de 2015

Não confundir roubalheira com esquerda

                                      

        Mais do que a atitude dos partidários do P.T. - que pode até entender-se como meio polêmico, em que o carimbo de direita constitui artifício de peso para contradizer e, sobretudo, tentar desmoralizar os críticos do imperante governo – importa compreender e situar a reação da maioria da população brasileira que se insurge contra a atual administração e, sobretudo, a incompetência deste regime, a agressiva má-fé de Dilma Rousseff nos debates televisivos e na propaganda eleitoral, que foi comparada por muitos a autêntico estelionato.

        Como já se verifica nos filmetes do marqueteiro – e é exemplo escrachado de propaganda enganosa o que assemelhava autonomia do Banco Central com o furto da comida da mesa dos pobres, a que a Justiça eleitoral sequer permitiu que Marina pudesse ter direito de resposta – se configurou a postura da Dilma candidata à reeleição – mentirosa, arrogante e autoritária.

        O povão ainda não sabia que a cortina fechada (a qual impedia a visão da realidade) só se reabriria quando a pobre Inês morta estivesse, e não mais em condições de influir no resultado das urnas. A dílmica propaganda tinha curtíssimo prazo de validade, mas bastante seria para garantir-lhe os três por cento que lhe deu o Nordeste e, incongruamente, Minas Gerais. De qualquer forma, a coisa terá andado preta, tanto que a evolução da decisão definitiva só foi liberada nos finalmente, quando os sufrágios da presidenta lograram superar os de Aécio Neves, já à vista do photochart...

        Nesse contexto, há aqueles que tudo sacrificam – inclusive a verdade – para reorientar a realidade do Brasil em panorama em que, com precedência sobre as reais condições, devam  imperar  os rótulos da esquerda e da direita (na ânsia da polêmica, o centro não os atrai).

       Como todas as embalagens, esse tipo de tratamento deve ser visto com muita cautela e até  desconfiança. Entende-se que fica mais fácil – para quem apóia um regime que passa do mensalão ao petrolão, e que, no primeiro mandato da mulher do Lula, irresponsavelmente reeditou quase todos os truques inflacionários anteriores ao Plano Real – que eles sempre combateram e, ao parecer, nunca tiveram a grandeza de aceitá-lo, como programa não de partido, mas da Nação brasileira.

       Não é justo, decerto, confundir com esquerda o estouvamento aloucado de Dilma Rousseff, no seu primeiro mandato, em que trouxe de volta a inflação, e construíu as bases do déficit fiscal (ao invés do superávit), a par de ressuscitar toda a bagunça econômica dos primeiros quatro anos, com a assistência de fé do fraco Guido Mantega e de seu impetuoso secretário do Tesouro, Arno Augustin.

        Chamar isso de esquerda é ofensa a grandes economistas do passado. Passada a eleição, não têm mais voga as estórias de ninar de Tia Dilma. Foi, então, hora de chamar a Joaquim Levy, que vem tentar pôr ordem nos despautérios da herança da Presidenta Dilma I. Não sei se ele logrará sucesso ou não, porque os cordões da bolsa não mais os pode segurar com firmeza a Dilma II. Mas daí a chamar isso programa de direita é injustiça a outro grupo de grandes economistas, que não merece ser injuriado por truque tão chulo e barato.

           Quando se fala das manifestações chapa-branca de esquerda, com o seu espetáculo raquítico, basta olhar para a contrastante imagem da semana em O Globo, com o mar de protesto no dia quinze de março, e o milhão que foi às ruas em São Paulo, e o restante milhão que apareceu por todos esses Brasis, inclusive no Nordeste, em que a presidenta vencera com folga as eleições...   

           Por isso, importa não nos perdermos nos cartazes enganosos de alegadas direitas e esquerdas. No atual contexto, seria, outrossim,  mais veraz e mesmo mais honesto  falar-se de situação e oposição. O brasileiro que aguenta as erradas apostas  de Dilma e a consequente carestia, a par da roubalheira da sopa de letras de partidos, não está abraçando a direita quando se opõe ao desgoverno que aí está.

            Apresentá-lo sob esta fórmula mais do que burrice é má-fé.

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )

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