A digestão da Crimeia
Vladimir Putin,
em veia reminiscente, se digna revelar que a anexação da península da Crimeia –
que Krushev concedera em 1954 à Ucrânia, então república soviética – ele já a
pensava há tempos, quando a revolução Maidan
enxotara do palácio o cleptocrata Viktor
Yanukovich. Afinal, na lógica do Senhor do Kremlin, o governo de Kiev deveria pagar de alguma forma por esse
malfeito...
Passado um ano da anexação, excluído o papel
pouco dignificante de alguns países[1],
que se prestaram a aprovar um ato à revelia do direito internacional e dos pacta sunt servanda, as sanções do
Ocidente, e dos Estados Unidos em especial, continuam a punir o procedimento
irresponsável e imperialista da Federação Russa sob o punho de gospodin Putin.
O turismo
não é bem-vindo por aquelas plagas, eis que os voos internacionais não mais
incluem a península nas suas conexões. Por outro lado, o turista só pode
virar-se com dinheiro vivo, eis que os cartões de crédito não têm validade
naquela área. Tampouco pode usar celular. Quanto às franquias, como a McDonald´s, só ficou a casca, mas não o
serviço. Dessarte, hotéis, restaurantes, bares e supermercados, como assinala
um enviado da Folha, só aceitam o
dito dinheiro vivo.
O que
Putin tem feito com a Ucrânia, mandando doze mil soldados para transformar os
‘separatistas e rebeldes’ da região oriental em ameaça crível, além de toda a
artilharia pesada para lá transportada, serve a projeto autoritário de poder,
perante o qual o regime de Kiev ainda não encontrou a resposta adequada.
Outra
vítima desse processo foi o político honesto (uma raridade e não só naquelas
paragens) e experiente Boris Nemtsov, abatido nas
vizinhanças do Kremlin. Ele, entre
outros projetos, se preocupava com a agressão do regime Putin contra a vizinha Ucrânia.
Nesse sentido, nas vésperas do assassinato, ele se empenhava na promoção de
marcha em favor da terra de Kiev,
infelizmente tão próxima da Rússia.
Foram
prontamente indiciados suspeitos tchetchenos para esse assassínio por
encomenda. Apresentadas celeremente pelo
FSB (o sucessor do KGB), tais designações, dados os laços
da poderosa agência com o poder, mais servem para mostrar serviço do que
propriamente encontrar o mandante e eventuais autores materiais do magnicídio.
Hillary responde a acusações
Como é seu
feitio, que lidera as pesquisas dentre os candidatos democratas à Casa Branca,
respondeu de forma direta às dúvidas lançadas pelo grande jornal nova-iorquino
acerca da propriedade de não utilizar-se de e-mails oficiais.
Disse
Hillary que o fez por motivos de praticidade. Os meios publicísticos não estão
convencidos, eis que, no seu entender, os e-mails
oficiais, pela natureza das questões, muitas vezes seriam mais apropriados.
Outra
questão pendente é se a então Secretária de Estado terá tratado de assuntos classificados (i.e., confidenciais ou secretos) na sua longa série de e-mails particulares. Hillary garante que não, mas para se ter
certeza um exame abrangente semelha
indispensável.
Visto de
longe, o tópico pode ser de lana caprina,
mas semelha difícil prima facie afastá-lo. De qualquer forma, por
motivos nem sempre fáceis de determinar, a mídia não tem uma boa relação com
Hillary Clinton. O levantamento dessa
questão, que corresponde decerto à indústria de um repórter, pode ser indicação
suplementar desse relacionamento não
exatamente fácil.
Superpoderes para Maduro
O país de Nicolás
Maduro sofre de aguda desorganização. Falta tudo nos supermercados
venezuelanos, a inflação é a mais alta da América Latina, e o sentir da
população não pode ser mais o do início do mandato, tais as comoventes provas
que o sucessor de Hugo Chávez vem dando. Daí o temor oficial de uma vitória
oposicionista nos comícios para a Assembléia Nacional.
Por
outro lado, as prisões de expoentes da oposição se sucedem, sempre com
acusações vagas de conspiração. Depois
do prefeito de Caracas, mandado ilegalmente para a cadeia onde já está o líder
López, a perspectiva de cada prócer mais
ativo das forças políticas contrárias ao regime chavista na sua versão atual do
caminhoneiro é ser mandado para as masmorras do poder.
Há
pouco lá esteve uma missão da Unasul
que não agradou aos lideres oposicionistas como Maria Corina Machado, pela timidez no que tange ao regime. Dessa
forma, a missão não achou oportuno reunir-se com opositores, a par de não
denunciar as violações aos direitos humanos.
Como
sói acontecer em regimes incompetentes (e corruptos), Maduro em discurso
perante a Assembleia Nacional, pediu mais um ano de superpoderes. Ao agitar o
espantalho da intervenção americana – sob a imposição de sanções pela
Administração Obama a sete funcionários ligados ao Governo – Maduro pediu o
apoio da maioria chavista para mais uma Lei
Habilitante, que lhe permitirá governar por decreto.
Por
outro lado, em ‘retaliação’ às sanções americanas, Maduro determina que o
pessoal da embaixada americana seja reduzido para os mesmos dezessete
funcionários que a missão venezuelano tem em Washington.
Eis uma
medida típica do regime de Nicolás Maduro:
pro-forma e ineficaz, serve apenas para a dúbia satisfação de ter
forçado a superpotência a manter o mesmo número de pessoal diplomático do que a
sua própria embaixada na capital americana...
( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo, The New York
Times )
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