quinta-feira, 12 de março de 2015

Saudades de Joaquim Barbosa

                                      

      O Ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, ofereceu-se para integrar a turma que está com apenas quatro membros, por especial desatenção da Presidenta Dilma Rousseff, que até hoje não submeteu ao Senado a sua indicação para suceder ao Ministro Joaquim Barbosa, que optou, por motivos não revelados, antecipar o seu pedido de aposentadoria desse colendo tribunal.

      Como se sabe, essa omissão presidencial, que já dura dez meses, e que já foi, inclusive, objeto de duras palavras do decano do STF, Ministro Celso de Mello, vem criando alguns dispensáveis empecilhos para os julgamentos desse sobrecarregado colegiado.

       Perdurando em dez o número de ministros em atividade, a possibilidade de que os juízos quedem indecisos vem atrapalhando deveras os trabalhos. É difícil de entender que a Presidenta postergue tanto o que constitui um dever constitucional seu. As indicações do Planalto, pela omissão, que, por um conjunto de fatores que não carece esmiuçar, não semelha o Congresso levar muito a sério o ditame constitucional de examinar as qualificações (e eventuais ligações política não-recomendáveis) dos candidatos a serem submetidos ao Senado Federal.

       Em mais de cem anos de interação, desde a primeira constituição republicana saída da quartelada de Deodoro da Fonseca, o Senado apenas não aprovou uma indicação do Executivo, no caso do Vice-Presidente Floriano Peixoto, que apresentara como candidato ao Supremo o nome de um médico. Fê-lo amparado, ao seu dizer, no enunciado da então Constituição, que falava apenas de notório saber, sem especificar que de jurídico se tratava... Em todos esses anos – caminhando e cantando para o sesquicentenário - tão só rejeitar um único nome é acusação para lá de irrespondível, que muito diz, seja da displicência, seja negligência ou até mesmo reverencial temor do Senado diante da Presidência da República.

       O próprio Dias Toffoli, indicação petista de muitos costados, tinha contra ele o fato de ter sido secretário do então Ministro José Dirceu e, a fortiori, a circunstância importuna de haver sido reprovado em dois concursos para juiz singular. Nada disso, impediu que os senadores – inclusive os da oposição - o aprovassem no curso de uma única jornada, ao cabo de superficial sabatina...

       Agora Dias Toffoli atende ao apelo do Ministro Gilmar Mendes, e vai presidir – vejam só! – a turma que vai ocupar-se da questão da Lava Jato, cujas implicações se afiguram tão óbvias que não carece aprofundá-las. Seja dito de plano que Sua Excelência tem crescido no exercício de suas atribuições, em especial na presidência do Superior Tribunal Eleitoral. Submetê-lo, no entanto, a problemas de consciência, ao ver-se sob a injunção de pronunciar-se a favor de condenações, entre outras, de anteriores companheiros petistas, semelharia, S.M.J., provação desnecessária.

       Depois de aceitar o convite-aberto do veterano Gilmar Mendes – que é da safra de FHC – não é que o Ministro Dias Toffoli foi recebido pela atenazada Presidente Dilma Rousseff, em audiência em que estiveram presentes o Ministro Aloizio Mercadante (com a cabeça a prêmio pelo chefe Lula da Silva), e o Ministro José Eduardo Cardozo, que não por acaso é da Justiça, e, em tese, está em condições de opinar sobre a propriedade de ouvir as partes...

 

( Fontes:  O Globo, coluna de Merval Pereira )

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