O gesto de Dilma
O termo,
pouco usado em prosa nesta acepção, já em poesia, sobretudo nos clássicos, aparece bastante.
E o
momento difícil que a Presidente ora atravessa, ela o trai no semblante
marcado, no rosto emagrecido, com os vincos das preocupações, inquietudes e más
notícias de que a crise, tão solerte quanto impiedosa, lhe traz.
Nessa
sazão infernal, as más novas as trazem a longa jornada, os recados timoratos
dos assessores, o olhar contrafeito de alguns e enegrecido de outros.
Tudo
veio muito depressa, como a compensar o triunfo, obtido já próximo do photochart.
Que
esperar desse medíocre ministério, montado não em valores mas no toma-lá
dá-cá, nos contubérnios com a sopa de
letras da chamada base de apoio?
Contemplar-lhe o rosto, hoje marcado pela rebordosa e os temores vários
dela decorrentes, é sentir que a política, na aparência volúvel, de repente surge
implacável, a ameaça no esgar.
Dessarte, se tem a impressão de que adrede lhe é negado o alívio e o repouso das
noites bem-dormidas, que cuida em transformar em cruéis trailers das jornadas
que pela frente se arrastam, prometendo
apenas transtornos, incômodos e vãos esforços.
Olhando
à volta do teu apagado gabinete, em que muita vez o valor cede o lugar à cobiça
e ao ganho prometido, onde encontrarás o olhar firme e valeroso, de quem pensa
na sorte do país, e não na atraente, inda que medíocre, sopa de letras das sonhadas
vantagens da política em minúscula?
A economia afunda mas as centrais se mexem
O dólar continua a subir.
Está em R$ 3,30. Ele é a bandeira
içada pelas finanças nervosas, que transmite para o mercado a insegurança da
economia. A marca do dólar é sobretudo aquela do subdesenvolvimento e das
economias frágeis. As viagens para os Estados Unidos ficam mais caras. E a
pressão aumenta sobre a inflação.
Não
obstante, como se estivesse na terra da cuccagna
– terra dos sonhos, em que das árvores tudo se colhe, como ensina o
folclore itálico – os senhores sindicalistas agem em conformidade, não com a
realidade econômica, mas tangidos pela sua sede de mais e mais (que cai como a definição deste movimento, em
que o apetite do ganho a tudo mais ignora).
Joaquim Levy está empenhado em endireitar a economia, após as
loucuras do primeiro dílmico mandato.
Nesse barco, continuam a querer jogar mais carvão nos altos fornos, para forrar
a própria paga, pouco se lixando em mandar a breca o ajuste. Com isso, eles
logram trazer de volta o dragão, para tudo recomeçar na segunda-feira.
( Fontes: O Globo,
Folha de S. Pau1o )
Nenhum comentário:
Postar um comentário