sexta-feira, 20 de março de 2015

Vinhetas de Março

                                  
O gesto de Dilma

 
              O termo, pouco usado em prosa nesta acepção, já em poesia, sobretudo nos clássicos, aparece bastante.

               E o momento difícil que a Presidente ora atravessa, ela o trai no semblante marcado, no rosto emagrecido, com os vincos das preocupações, inquietudes e más notícias de que a crise, tão solerte quanto impiedosa, lhe traz.

               Nessa sazão infernal, as más novas as trazem a longa jornada, os recados timoratos dos assessores, o olhar contrafeito de alguns e enegrecido de outros.

               Tudo veio muito depressa, como a compensar o triunfo, obtido já próximo do photochart.

                Que esperar desse medíocre ministério, montado não em valores mas no toma-lá dá-cá,  nos contubérnios com a sopa de letras da chamada base de apoio?

                Contemplar-lhe o rosto, hoje marcado pela rebordosa e os temores vários dela decorrentes, é sentir que a política, na aparência volúvel, de repente surge implacável, a ameaça no esgar.

                 Dessarte, se tem a impressão  de que  adrede lhe é negado o alívio e o repouso das noites bem-dormidas, que cuida em transformar em cruéis trailers das jornadas que pela  frente se arrastam,  prometendo   apenas transtornos, incômodos e vãos esforços.

               Olhando à volta do teu apagado gabinete, em que muita vez o valor cede o lugar à cobiça e ao ganho prometido, onde encontrarás o olhar firme e valeroso, de quem pensa na sorte do país, e não na atraente, inda que medíocre, sopa de letras das sonhadas vantagens da política em  minúscula?
 

A economia afunda  mas as centrais se mexem   

 
                O dólar continua a subir. Está em R$ 3,30. Ele é a bandeira içada pelas finanças nervosas, que transmite para o mercado a insegurança da economia. A marca do dólar é sobretudo aquela do subdesenvolvimento e das economias frágeis. As viagens para os Estados Unidos ficam mais caras. E a pressão aumenta sobre a inflação.

                Não obstante, como se estivesse na terra da cuccagna – terra dos sonhos, em que das árvores tudo se colhe, como ensina o folclore itálico – os senhores sindicalistas agem em conformidade, não com a realidade econômica, mas tangidos pela sua sede de mais e mais  (que cai como a definição deste movimento, em que o apetite do ganho a tudo mais ignora).

                Joaquim Levy está empenhado em endireitar a economia, após as loucuras  do primeiro dílmico mandato. Nesse barco, continuam a querer jogar mais carvão nos altos fornos, para forrar a própria paga, pouco se lixando em mandar a breca o ajuste. Com isso, eles logram trazer de volta o dragão, para tudo recomeçar na segunda-feira.

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Pau1o )    

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