Dentre
as reações à aparição de Dilma Rousseff, fico mais com a atitude de Miriam Leitão. Na
imprensa, nota-se ainda certo temor reverencial, em se tratando de entrevistas
presidenciais. Como se a aparição e as desculpas apresentadas pela Presidenta
já fossem grande manifestação de apreço, que a colocassem, pelo próprio gesto
de responder às perguntas dos repórteres, acima dos valores habituais e de
eventuais críticas.
Haveria
aí resquício da postura sobranceira dos soberanos e de seus assemelhados,
tornando mais raras as respectivas presenças, e, por consequente, pensando
assim valorizá-las. Há dois exemplos na dita ‘entrevista’ que frisam essa
conotação.
Quando
declarou a corrupção ‘senhora bastante idosa’, ela na verdade não logrou
desmerecer do repúdio popular a essa prática. Pois dizer que um determinado
comportamento é muito antigo, na realidade nada acrescenta ao seu juízo de
valor (no caso negativo). Para que se
tenha ideia da falácia, seria o mesmo que
fazer pouco do homicídio como crime, se
porventura dissesse que tal tipo de delito é tão velho quanto o mítico assassínio
de Abel por Caim...
O que não se deve perder de vista no caso da
corrupção na Petrobrás e da revolta que provoca na população, não tem nada a
ver com a suposta idade dessa senhora. Nunca antes se assistira um assalto tão cínico
e façanhudo, quanto o aparelhamento da nossa maior empresa, pelo Partido dos
Trabalhadores e de seus gerarcas.
Não é
de esquecer facilmente que a brutal exploração na Petrobrás começou para valer
em 2003, ano primeiro do reinado petista.
Por
outro lado, a decantada ‘humildade’ de Dilma Rousseff se encaixa à maravilha
dentro desse retrato de corte, em que se resolveu inserir a Presidenta. E aqui
chegamos às palavras de Miriam Leitão: ‘Depois, em entrevista rápida, nada
declarou que demonstrasse ter entendido o que está se passando no país.” E mais
adiante, em comportamento que a colunista de O Globo define como ‘constrangedor’
: Um dia depois de avassaladoras manifestações populares, no dia exato em que o
tesoureiro de seu partido foi denunciado pelo Ministério Público, quando tantos
fatos graves abalam o país, a presidente tem a admitir um erro: o do Fies’.
Essa
postura majestática, essa alienação do sentir da maioria da população, ela se
torna mais saliente quando os poderosos de turno se vêem forçados, naqueles
tempos que os chineses cognominam de ‘interessantes’,
a manifestar-se acerca de o que sucede no seu país. Será nesta ocasião que mais
se sente o deslocamento e o nefelibatismo[1]
dos mandantes, em geral poupados pelas maneiras aveludadas e cuidadas omissões
do respectivo círculo de cortesãos.
Palavras talvez mais importantes as disse outra mulher, também
jornalista, que hoje escreve no Estadão, ao definir os acontecimentos
declanchados pelo quinze como ‘crise grave, mas sem saída’. Eliane Cantanhêde nos mostra a reversão dos
papéis, e como o PT mudou de lado : ‘bastaram doze anos de poder para o caçador
virar caça.’
Refere-se ela à explosão nas ruas em junho de
2013 da classe média assalariada com uma
pauta difusa de reivindicações e de acusações generalizadas contra ‘tudo o que
está aí.’
Como frisa
a Cantanhêde, “à crise política, aos erros na economia, aos desmandos éticos,
ao desmanche da Petrobrás, soma-se o último fator que faltava: as ruas.
Fecha-se o cerco. Não foi uma manifestação a mais, foi uma para entrar na
história, tal a dimensão e a extensão. (...) (N)este 15 de março de 2015,
jovens e velhos, mulheres e homens, empresários e assalariados tiveram uma
pauta bastante específica: a rejeição a Dilma, ao governo e ao PT.”
É de
registrar-se também – como o faz a Cantanhêde – “uma grande ausência: a do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não apareceu na sexta-feira nem no
domingo, fosse para aprovar ou desaprovar qualquer dos dois movimentos. Mas o pior não foi isso: as multidões, com
seus cartazes e slogans, simplesmente ignoraram Lula. Será que Lula, para o bem
e para o mal, também não é mais o mesmo?”
Por isso,
as respostas do governo batem sempre na mesma tecla inexpressiva. Diante de
tudo o que está aí e que à vista de todos o investe, continua a repisar reforma
política e pacote anticorrupção?
E será que
foi para provocar mais um panelaço que os dois Ministros – o da Justiça,
José Eduardo Cardozo, palavroso, mas pouco inspirador - e Miguel Rossetto, que tentou desfazer de
grande manifestação com palavras mesquinhas : ‘não votaram na presidenta Dilma’
– foram jogados no círculo de giz da mídia ?
‘Fontes: O Estado de
S. Paulo, O Globo’
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