Em momentos de crise,
inimigos, adversários e até amigos viram ameaças e como tal são tratados.
Com o
governo à deriva, os eventos se sucedem e eles não estão aí para dourar a
imagem da Senhora do Planalto.
Que uma
administração de repente se descubra acossada e sitiada, como é o caso do
governo de Dilma Rousseff, a confusão se instala, e os ‘conselhos’, na verdade,
mais parecem tiros a esmo, de uma cidadela que se sente sitiada, e que está sem
aparente comando.
Em tais
transes, pensa-se até nas vantagens comparativas do parlamentarismo. Com tal
rebordosa, em que manifestações de milhões se contrapõem à raquítica jornada
das entidades amamentadas pelo PT, não se pode chorar sobre o leite derramado.
A Constituição
de 1988 foi feita pensando-se no formato parlamentar, que no Brasil fora
abandonado desde a quartelada de quinze de novembro, que derrubara a única
república nas Américas, no dizer de estadista argentino.
Houve
até referendo e a república continuou presidencialista, ainda que a redação da Constituição Cidadã (conforme Ulysses
Guimarães) guarde marcas de seu destino inicial.
Em tais
momentos, é vão cogitar de instrumentos que seriam mais flexíveis do que a
norma vigente.
O erro
inicial, no entanto, aí está. Na arrogância de criador, Lula da Silva, impedido de pleitear o terceiro mandato (o que
importaria de vez o chavismo para essas bandas) arrefeceu caminho e preparou a
discípula para esquentar-lhe o assento.
Malgrado
ponderações em contrário, a que aludiu a seu tempo Ricardo Noblat, o torneiro-mecânico se aferrou ao respectivo
projeto, e as consequências ainda estão pelo caminho.
O
primeiro mandato da discípula foi desastroso, pois trouxe de volta a inflação
alta, pactuou (após o débil arreganho da chamada faxina) com a corrupção, que já era sistêmica e que, dentro de
lógica infernal, lograria manter segredos que só seriam desvelados em praça
pública depois dos comícios e da vitória, relativamente apertada, da anterior
candidata de algibeira, que agora tomara o freio nos dentes, e se sentira forte
o bastante para enjeitar a tentativa do próprio criador de voltar ao Planalto.
É mister de todo segredo cair em praça
pública. Assim, malgrado o escarmento do mensalão, o ativismo de um
mestre-sala não logrou barrar-lhe o
caminho, a despeito da assistência que tinha dentro da praça inimiga. Não
contaram com Joaquim Barbosa, sua
capacidade e determinação. Hoje, a coisa está sendo aguada, porque a tropa do
forte vem mudando, por maneiras que só o Senhor Futuro há de revelar.
Mas
desse figurino, havia outro filhote, bem mais parrudo e nocivo. É o que hoje se
vê no chamado Petrolão, mecanismo
infernal que desarvorou a Petróleo Brasileiro S.A., e que é ainda batalha em
curso. Se os heróis estão na magistratura e na Procuradoria, afora os vilões
pululam. Há os de baixo e alto clero,
mas resta a impressão de que ainda estão excluídos dos instantâneos revelados
os grandes ideadores e mandantes. É uma gesta em progresso, e nessa
característica residem muitos dos percalços e dos supostos mistérios.
Neste momento histórico, assistimos, entre a perplexidade e a
indignação, o debater-se de um governo que foi adrede confiado a mãos inexpertas. Não é decerto só culpa de eleitorado
por vezes amorfo, que preza mais as migalhas que lhe jogam da mesa, do que a
qualidade e a folha corrida dos candidatos ao Planalto.
Luiz Inácio Lula da Silva se gaba (ou se gabou) de lograr eleger postes
no Brasil. Como se sabe, fora no passado uma singular forma de protesto da
cidadania brasílica de ‘eleger’ animais ou mesmo postes. Diz muito mal da democracia brasileira que um presidente saído
dos retirantes do Nordeste venha mais tarde a jactar-se de conseguir o feito de
eleger postes, com Dilma na presidência e Haddad
no governo de São Paulo.
Em
termos de saber e preparo, não há comparação entre os dois. Ironicamente,
contudo, o mais preparado foi guindado a posto municipal, ainda que da maior
prefeitura de nossa terra.
Quanto à Dilma, Lula verificou – para seu desconforto – que quanto à
reeleição (essa nociva invenção de FHC) a antiga maravilha como chefa
de gabinete ora prescindia de qualquer ajuda do antigo mestre.
Estamos vendo nessa época interessante
– infelizmente no sentido chinês do termo – o quão danosa pode ser essa soberba
de impingir escolhas ao povo (v.g., a
mulher do Lula em 2010).
Hoje, em meio à senhora dona Crise, não é que vaca desconheça bezerro,
mas a falta de direção, a anomia (do grego a-nomos,
falta de lei ou de norma) é quem manda, com baixarias no Congresso, e com
estultices da chamada Secom. O
ministro encarregado – nesse gabinete há ministros para tudo – soltou documento,
e viajou autorizado para os Estados Unidos.
Cito o que refere a coluna de Merval
Pereira: ‘As responsabilidades da comunicação oficial do governo federal e
as do PT/Instituto Lula/bancada/blogueiros são distintas.’ Após asseverar o ululante
óbvio, segue adiante: ‘É natural que o governo (este ou qualquer outro) tenha
uma comunicação mais conservadora, centrada na divulgação de conteúdos e dados
oficiais.’ Até aí, se pronuncia o
Conselheiro Acácio. Como sempre, a mordida do escorpião vem no fim: “A
guerrilha (sic) política precisa ter
munição vinda de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele”
(sic!).
O
bom governo não carece de tais meios. Estamos em outro campo, e a lidar com outra gente. Quando se põe
confiança em tais instrumentos, em que a verdade e a lisura são as gatas borralheiras,
não creio que o governo sem rumo de dona Dilma careça de outra mais corrosiva
definição.
( Fontes: O Globo;
Folha de S. Paulo )
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