domingo, 8 de março de 2015

Colcha de Retalhos C 9

                                    

A disputa pelo butim no PP

 
          No primeiro mandato de Dilma, o Ministério das Cidades passou a ser cota  do Partido Progressista. A princípio, o grupo de Mario Negromonte (BA) se assenhoreou da pasta. Gerindo a ‘quota’ dada ao PP pela divisão das propinas nos contratos da Petrobrás, o bando de Negromonte se autofavoreceu a tal ponto que provocou a revolta do grupo que ficara de fora das remessas feitas pelo doleiro Alberto Youssef.

          Por força da sanhuda reação dos ‘enjeitados’, esse segundo grupo, com o Senador Ciro Nogueira (PI) e deputados Arthur Lira (PI), Eduardo da Fonte (PE) e Aguinaldo Ribeiro (PB) forçou a demissão de Mario Negromonte, que saiu queixando-se do ‘fogo amigo’.

           Foi substituído pelo deputado Aguinaldo Ribeiro.

           Dentro da partidocracia, cercada por senhores feudais, ter-se-á dona Dilma, como titular soberana, perguntado então da razão da troca de ministros? 

 

Os tempos passam

 

           Na primeira página da Folha, se depara a fisionomia entre abatida e preocupada do Senador Lindbergh Farias (PT/RJ). Como assinala Bernardo Mello Franco, Lindbergh despontou entre os cara-pintadas nos atos pelo impeachment de Fernando Collor em 1992.  Liderança estudantil e depois mais de uma vez candidato pelo PSTU no Rio de Janeiro, Lindbergh acabou emigrando para o PT, pela impossibilidade de eleger-se sozinho por aquele partido, eis que não lograva vencer a barreira da legenda.

           Como é do seu feitio, a atitude do senador Lindbergh Farias é aberta e franca. Ele confirma haver recebido R$ 2 milhões por intermédio do então diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa em 2010. Nega, no entanto, haver participado do esquema de corrupção na estatal.

           Lindbergh, segundo declarou, conheceu Costa ao participar de inaugurações da estatal no Rio, com a presença do então presidente Lula. Assim, ao candidatar-se, decidiu procurar Costa: “Eu sabia que ele era uma pessoa muito bem relacionada na Petrobrás e perguntei se ele conhecia alguma empresa que pudesse me receber. Ele ligou para alguém da Andrade Gutierrez e pediu para me receber.”

          Lindbergh falou “algumas vezes” com Otavio Azevedo, presidente da construtora. Então “fui na Andrade Gutierrez, falei da minha campanha. Ninguém falou mais de Paulo Roberto. Ninguém falou de propina, muito pelo contrário.”

          O  Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, sustenta que Lindbergh “tinha conhecimento do caráter ilícito dos valores recebidos, pois não haveria qualquer justificativa lícita razoável” para recorrer a Costa.

          Para Lindbergh, o Ministério Público não tem provas: “Você acha que alguém disse: ‘Olha, esse dinheiro aqui que eu vou te ajudar é de uma propina?’ Isso não existe.”

          Diante da conexão estabelecida pelos investigadores entre as doações feitas a políticos  pelas empreiteiras e as propinas que elas pagavam para fechar contratos  com a estatal, pondera Lindbergh : “Como eu poderia saber que o dinheiro de uma empresa grande estava saindo para a minha campanha de um processo como esse ? Eu não sabia. Ninguém sabia disso aí.”

           Por isso, o senador pelo Rio de Janeiro acusa o M.P. de “criminalizar doações legais”. E acrescenta: “do jeito que a lista foi lançada, estão misturando gente que recebia mesada de propina com doação legal de campanha.”

           Nesse contexto, Lindbergh lembra que “essas empreiteiras ligadas à Lava Jato fizeram mais de 60% das doações nas últimas campanhas. Se eu recebo dinheiro de uma grande empresa, nunca passou pela minha cabeça saber se era ilícito ou não era.”

            A conexão com Collor reponta na vida do jovem Senador. Despontara como cara-pintada na campanha pelo impeachment de Fernando Collor. Agora entra numa lista em que o seu retrato está em outro escândalo, em que agora estaria do mesmo lado do ex-presidente.  “É horrível. O Collor tem uma acusação real, concreta. O meu caso é diferente.” E acrescenta: “estou numa lista que é praticamente uma condenação. Nunca sofri tanto. Pedi doação legal e entrei na lista com gente que fez atos bárbaros de corrupção. Isso pode estar destruindo a minha carreira política.”

 
Pronunciamento de Dilma no Dia da Mulher

           

               Pegando carona neste dia oito de março, em cadeia nacional a Presidenta vai defender os ajustes propostos por sua equipe econômica. Vai uma vez mais responsabilizar  o agravamento da crise internacional pela necessidade das medidas já tomadas.

               Para o que muitos vêem como responsabilidade do Dilma I, ela tenta justificar-se apontando para uma crise econômica internacional como a real  causadora dos problemas ora enfrentados  pelo Dilma II.

               É de assinalar-se que é a primeira vez que Dilma Rousseff recorre à cadeia nacional de rádio e tevê  para falar das medidas econômicas de seu Ministro Joaquim Levy.

               O discurso de Dilma ocorre uma semana antes dos protestos  contra o governo e pró-impeachment, marcados para o vindouro dia quinze de março em várias cidades.

               Segundo indicação da Folha, o texto foi elaborado pelo marqueteiro  João Santana e o Ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil).  Além de colaborações do Ministro Joaquim Levy, da Fazenda.

 

FHC rejeita ato em defesa de Dilma Rousseff

 
        O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB,  divulgou nota datada de sábado, sete de março,  em que rejeita  a tese de promover um pacto com aliados da Presidenta (PT).  A esse propósito, FHC diz que “qualquer conversa não-pública com o governo pareceria conchavo  na tentativa de salvar o que não deve ser salvo.”

        Sem embargo, a nota se insere em discurso anterior em que o ex-presidente teria admitido a aliados a hipótese de aproximação com a petista, na tentativa de ajudar a achar uma saída para  a crise política e econômica do país.

        A despeito de tais supostos intentos tucanos de conciliação, a nota de ontem tem uma tônica mais dura: “o momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Este quer antes de mais nada que se passe a limpo o caso do Petrolão”.

         Se houve algum aceno conciliatório, o  Senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), em outra nota, chama de “delírio sem qualquer  fundamento na realidade” a tese de um acordo pela governabilidade de Dilma...

 
O FSB prende suspeitos da morte de Nemtsov

 

       O FSB (antigo KGB) compareceu, através de seu Chefe, Aleksander Bortnikov,  à televisão para anunciar a prisão de Anzor Gubashev e Zaur Dadaev, ambos do norte do Cáucaso, como suspeitos da morte de Boris Nemtsov.

        A ida do Chefe do FSB (Serviço Federal de Segurança) à televisão para anunciar as detenções é um fato raro, que assinalaria o empenho do Governo Putin na solução do crime.

         O caminho, no entanto, é ainda longo. No caso de Anna Politovskaya, os primeiros juízos não avançaram, por se desconhecerem os reais mandantes da eliminação da corajosa jornalista.

         Putin, a quem Nemtsov não poupava em suas críticas, fez declaração exigindo que o Ministério do Interior previna  crimes políticos como “o descarado assassinato  de Nemtsov em pleno centro da capital”. Nesse quadro, Vladimir Putin afirmara anteriormente que o crime era uma “provocação” para desestabilizar a  Rússia, a par de prometer que os autores serão julgados.

          Na oposição, há uma certa discórdia quanto à responsabilidade pela autoria do crime.  Se Aleksei Navalny, que é o principal opositor a Putin, acusou os “serviços especiais” russos e até mesmo o Kremlin de estar por trás do assassínio,  sem embargo, os partidários de Nemtsov não acusam diretamente a Vladimir Putin, mas sim   círculos governamentais  de criar o ambiente propício, ao plantar a ‘semente de ódio’ contra os opositores.

          A par de sua contestação ao Presidente Putin, contestação essa convalidada pela relevância do papel de Boris Nemtsov na política russa (com posições de relevo no governo Ieltsin e depois na oposição a Putin), dentre os motivos de sua eliminação estariam as críticas ao conflito na Ucrânia (e participação de ‘voluntários’ russos junto dos rebeldes separatistas na ação contra Kiev), assim como sua condenação ao ataque contra o semanário Charlie Hebdo, e suas caricaturas (que ocorreu em janeiro último).

           Nesse contexto, a morte de Nemtsov seria imputável ao ódio muçulmano (entre outras palavras, compareceriam os militantes da Tchetchênia como possíveis suspeitos). Muitos, no entanto, discordam dessa genérica imputação, que escanteia gente que teria motivos muito mais próximos para mandar o pobre Nemtsov entrar na barca de Caronte...

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

      

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