quarta-feira, 11 de março de 2015

Há razão para impeachment ? (2)

                                  

         Embalada talvez pelas sedosas palavras dos áulicos, a Presidenta terá pensado que os banhos de público, se escolhidos a dedo e com a prudência dos marqueteiros de ocasião, são boa ocasião para reverter a onda e voltar a rolar nas palmas, vivas e sorrisos  do povão...

         No meio palaciano, os cortesãos se assanham com os céus enfarruscados da popularidade. Tornam o humor da Senhora um pouco mais azedo  e um tanto inseguro. Quando sopram os maus ventos, a empáfia e a arrogância com que ela os fustiga, hão de encolher-se, nem que seja um pouco. Por um instante, se esquecerá de seus 54,5 milhões de votos. Parece difícil que tal aconteça, mas nada como um dia depois do outro para que a ficha caia.

        De repente, o velho cenário não mais funciona. Escolhe um evento, de preferência na locomotiva São Paulo, e lá pensa ter pela frente momento aprazível. Assim, em ambiente restrito – ela ali aparece antes da abertura ao público – como não estariam dadas as melhores condições para boas fotos de gente risonha, alegre em saudar a sua Presidenta?

        Estava combinado assim. Dilma será recebida no ‘Salão Internacional da Construção Civil’ com a acolhida bem-educada, que o PT de São Paulo e os profissionais da exposição, sem a interferência do zé-povinho, tampouco lhe negarão...

        Será que os suados, nervosos prepostos do núcleo palaciano nada temiam? Em que mundo vive essa gente?  Infelizmente nas horas de cara feia, broncas e grosserias da Presidenta, eles se refugiam nos tarjas-preta, nos Valium e  Lexotan, quando não em coisa mais forte...

        Pois não é que uma peça seria pregada aos pobres funcionários? Sob vaias, gritos de  fora, Dilma!’ e  fora, PT’, surge a turba de mal-educados, que de repente, saídos do nada, vem interromper e bagunçar a ocasião que eles pensavam ter organizado tão bem, com a providencial exclusão do público-visitante...

         Assim, em  passe de mágica, se esvanece a lorota de que  panelaço e vaias do domingo foram embustes da oposição, que os financiou em treze capitais...

         Será que os fins justificam os meios?  O marqueteiro fiel – de que ela é capaz de ler peças tão sensaboronas e potoqueiras, como a do passado domingo – crê ter a solução mágica que há de fazê-la singrar pelos mares encapelados da impopularidade, e chegar indene ao porto-seguro do regular e constitucional fim de mandato...

          E, no entanto, para quem navega com a altivez dos poderosos, não bastarão as tapeações dos marqueteiros e cortesãos de plantão, se de chofre o seu mundo começa a cair, e as verdades que os do seio de Abraão cochicham nervosos estourem para todos ver e ouvir, inclusive o próprio roufenho criador, que ainda acalanta esperanças para 2018...

         A mentira não é aconselhável como alavanca do poder.  Até que às vezes funciona, mas o seu prazo de validade nos parece curto por demais...

         Como para outros antecessores – Collor, Sarney – o refúgio da impopularidade e sobretudo da mentira, só funciona se a autoridade está em fim de mandato. A história pode ser outra, se a prometida feliz travessia de mais um quadriênio mal dá os seus primeiros e tenteantes passos...

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo,  O  Globo )  

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