quarta-feira, 25 de março de 2015

Uma Herança Difícil


                                           

          Joaquim Levy é o síndico da massa falida.  O seu trabalho, no entanto, de repor as coisas no seu lugar se vê bastante dificultado pela própria Chefe, a presidente Dilma Rousseff. A culpa, no entanto, é de atribuir-se à respectiva gestão presidencial.

          O desastroso primeiro mandato só apareceria na sua terrível transmissão para o segundo. Por conta de hábil retenção de informação, a verdade – esse personagem incômodo que ao cabo sempre aparece – pôde ser maquiada na travessia de Silas e Caríbdes, o que permitiu que muitas mentiras e falsidades fossem recobertas pelo diáfano véu da aparência e conveniência política.

          A construção do marqueteiro – e as assertivas da Presidenta nos debates – conduziram a candidata ao afanoso desembarque no porto seguro da reeleição. Mas a mentira, como reza o ditado, tem pernas curtas.

          A raiva do Povo soberano em sentir-se enganado, ela a sentiria mais tarde, ao despencarem os respectivos índices de aprovação sob o toque do tambor de outros arautos, que rasgavam os sedosos tecidos das estórias de faz-de-conta, para mostrarem a face verdadeira do mau governo, a que se acrescia a incrível estória do Petrolão.

          De repente, os velhos fantasmas da revolta popular, acicatada pelo ressaibo amargo de autêntico conto do vigário, foram buscá-la no seu carcomido pedestal. E é forte, incontornável, agressiva a cólera do Povão. Ninguém gosta de ser ilaqueado, e ainda mais com a empáfia e a soberba da Presidenta nas assertivas dos debates.

          Em consequência, na sombra da Lava-Jato,  os índices no Datafolha a colocaram junto da incômoda companhia de outro Presidente, de nome Fernando Collor. O viés da popularidade de Dilma roça de forma inquietante os percentuais da rejeição ao presidente da Casa da Dinda.

          Essa  súbita debilidade presidencial a expõe a todo tipo de dissabor. O  Partido dos Trabalhadores se vê sombreado por crise maior do que o Mensalão. Com  o Palácio do Planalto fragilizado, aumenta a certeza de que Dilma Rousseff já perdeu a força dos recém-empossados.

          Contrariada na véspera pelo Prefeito Eduardo Paes, que foi à Justiça para diminuir a dívida da municipalidade, a dílmica fraqueza se vê exposta em votação na Câmara, na quarta-feira, 24 do corrente, que investe contra a Lei da Responsabilidade Fiscal, ao determinar a mudança de indexador no ajuste fiscal, com a redução das dívidas de Estados e Municípios.

           Se desejamos pôr a casa em ordem, os truques fiscais – que proliferaram no quadriênio passado, no seu primeiro mandato -, essa mágica do Congresso não entra no compasso do tratamento sério, que venha a pôr ordem na nossa economia.

            Tem as pernas curtas como a mentira o intento de fazer agrados a estados e municípios devedores, renegociando as dívidas respectivas. Como o voluntarismo e a irresponsabilidade fiscal, que Dilma  mostraria no malogrado primeiro mandato, não há nesta esfera lugar para passes de mágica. A grande virtude da L.R.F. havia sido reimplantar  o realismo fiscal no Brasil.  Note-se que o PT então recorrera a uma alucinada oposição à responsabilidade fiscal, indo até ao Supremo para contestá-la.

              Se começarmos a tratar o ajuste fiscal dessa forma irresponsável, com falsos remédios e isenções intempestivas,  a maior preocupação está com o sinal que a renegociação das dívidas possa emitir em  momento de crise, como o atual.  Como não há medicação mágica para tais casos, qualquer eventual “perdão” de parte das dívidas estaduais e municipais poderia levar ao rebaixamento da nota do país pelas agências de avaliação de risco. Valendo-se de critérios heterodoxos, a economia brasileira se afastaria da lição de casa a aplicar no caso,  em que a ortodoxia é obrigatória. A incerteza dessas intervenções quebraria a confiança (fundada na obediência às regras), eis que não há espaço para mágicas no domínio fiscal.  Voltaríamos a uma condição que é própria das economias sob regime especulativo, sem a segurança do dever de casa bem feito.

              De qualquer forma, todas essas confusões e fórmulas extemporâneas, lançam a dúvida sobre as perspectivas do ajuste fiscal para pôr um cobro nas insânias fiscais do Dilma I.

              Se a irresponsabilidade e a demagogia prevalecerem – o que nesse Congresso sob domínio do PMDB não há de espantar – o ajuste fiscal irá para o brejo, e junto com ele as perspectivas de recuperação da economia brasileira.  Mas o quê esperar de um Congresso presidido por Renan Calheiros e Eduardo Cunha?

 

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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