Declaração de Levy
Pelo visto, o
Planalto preferiu não cair no sensacionalismo da Folha. Ao invés de convocar o Ministro da Fazenda para uma
repreensão em regra, a Presidente preferiu baixar os decibéis de sua reação.
Encarregou,
segundo reporta o Estado de S. Paulo,
o ministro Mercadante para transmitir a Joaquim
Levy a irritação presidencial.
Ricardo
Noblat, no seu artigo das 2ªs. feiras, registra as diversas observações de
Levy que, por divergiram da linha governamental, mereceram chamadas da
Presidenta.
Para
defender-se, o Ministro alegou que suas palavras foram retiradas do contexto. A
avaliação do Palácio do Planalto, segundo refere o Estadão, é que tal tipo de
discurso, vindo do principal Ministro da área econômica e responsável por
sanear as contas públicas do País, dificulta as negociações em torno do ajuste
fiscal.
Compreende-se,
por conseguinte, que Dilma tenha ficado irritada e mesmo indignada ao tomar
ciência de mais esta observação crítica do Ministro Levy.
Nesse
contexto, um membro da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) – o suplente José Serra – de que a audiência com Levy
está marcada para amanhã, afirmou: “Do ponto de vista político, a fala do
Ministro é temerária: ironiza a presidente em público. Isso corrói ainda mais a credibilidade do
governo a que pertence.”
Por outro
lado, o Senador Cristovam Buarque
(PDT-DF), igualmente integrante da CAE disse que perdeu o cargo de ministro da
Educação por haver criticado o governo de forma mais branda de o que fez Levy.
“Fui dizer coisas desse tipo sobre o Lula, sem citar o nome dele, e acabei
caindo”. Na verdade, Lula faltou com o respeito ao então companheiro de
partido, demitindo-o pelo telefone. Não obstante, é outra a importância de
Joaquim Levy dentro da atual constelação política e os muitos percalços da
administração Dilma II.
Entrevista de Frei Betto ao Estadão
Expressão da
antiga corrente do PT igrejeiro, Frei Betto
não esconde o seu desencanto. Se reconhece que se assiste “ao começo do fim. O
PT tende a virar um arremedo do PMDB”, em meio às suas declarações, se percebe
ainda que bate o coração do velho militante que tem dificuldade em reconhecer
que o destino do Partido dos Trabalhadores venha a ser o que em momentos de desalento venha a
admitir.
Dessarte,
frisa: “não tivemos em doze anos nenhuma reforma de estrutura, nenhuma daquelas
prometidas nos documentos originais do PT. Nem a agrária, nem a tributária, nem
a política. E aí poderíamos acrescentar nem a da educação, nem a urbana. Em suma, o que falta ao governo – e desde
2003 – é planejamento estratégico.”
A análise de
Frei Betto desvela o militante do PT igrejeiro, com viés marcado de esquerda,
que não se conforma com a evolução – ou involução – do PT transformado em
governo. “O grave do governo do PT –
tendo sido construído e consolidado pelos movimentos sociais – foi ao chegar ao
Planalto, ter preferido assegurar a governabilidade com o mercado e com o
Congresso e escantear os movimentos sociais. Hoje, eles são tolerados ou, como
no caso da UNE e da CUT, manipulados, invertendo o seu papel. Com isso, o PT
ficou refém desse Congresso, dependendo de alianças espúrias. Agora o seu
grande aliado, o PMDB, se rebela, cria – com a perdão da expressão- uma cunha renana (meu o grifo) para asfixiar
o Executivo. (A saída é) o PT ser fiel às suas origens. Buscar a
governabilidade pelo estreitamento de seus vínculos com os movimentos sociais.
Ou seja, o segmento organizado, consciente e politizado da nação brasileira.
Fora disso, tenho a impressão de que estamos começando a assistir ao começo do
fim. Pode até perdurar, mas o PT tende a virar um arremedo do PMDB.”
E frisa, na parte relativa aos movimentos sociais que
seria ainda possível recuperar a imagem do partido. Ao concordar com o papel
fundamental dos movimentos para tal recuperação, Frei Betto afirma: “O PT
precisa sair da posição de bicho acuado em que se colocou. O partido, até hoje, não declarou se os
envolvidos no mensalão são inocentes ou culpados; o partido, até hoje, não
declarou se ele, que governa o Brasil, e, portanto, a Petrobrás, tem ou não
responsabilidade na devassa que está sendo feita na maior empresa brasileira.”
E numa alusão clara à corrupção que campeia no governo, “hoje me pergunto: onde
estão os líderes do PT que, aos fins de semana, voltam para as favelas e
periferias? Onde estão os líderes do PT
que não tiveram um assombroso aumento de seu patrimônio familiar durante esses
anos, a ponto de não se sentirem mais à vontade em uma assembleia de sem-teto,
em uma aldeia indígena, em um fim de semana em um quilombola? Onde estão
eles? Existem. São raros. Não vou citar
nomes, mas tenho profundo respeito por militantes e dirigentes do PT que são
muito coerentes com aquele PT originário. Mas, infelizmente, eles são exceção.”
A entrevista
de Frei Betto é importante sob vários aspectos. Primo, por desvelar os objetivos de sua corrente, a do PT
igrejeiro, que teve muita importância nos albores do partido. Secondo, por reconhecer a corrupção –
embora evite o termo – sem perder aquela inabalável fé no planejamento
estratégico, que continua a fazer falta. E Terzo,ao
lamentar o desaparecimento de “um projeto de Brasil minimamente emancipatório,
como era o Fome Zero”, observa que “
próprio governo que o criou o matou, substituindo-o por um programa
compensatório chamado Bolsa Família - que é bom, mas não tem caráter
emancipatório”.
A feição
romântica do Fome Zero faz Frei Betto
louvá-lo, mas esse programa foi abandonado por problemas de gestão e não
realização dos fins que se propunha o governo do PT. Já a Bolsa Família, ainda retirada do seu contexto, tornou-se um projeto
de poder, com as consequências conhecidas, como o próprio mapa da votação do
último pleito presidencial tende a demonstrá-lo.
Diga-se, por
fim, que por sua integridade e franqueza, as declarações de Frei
Betto constituem documento
relevante para entender-se e aprofundar-se muitas coisas, inclusive a abissal
distância entre os fins do PT igrejeiro e os do atual partido do poder e no poder.
( Fontes: O Estado de S. Paulo, O Globo )
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