Há
muitos analistas venezuelanos que preferem qualificar a Venezuela de Nicolás
Maduro como uma democracia ameaçada.
Assim, segundo Elsa Cardozo, da Universidade Central da Venezuela (UCV) esse
país “se encaixa na categoria de regimes híbridos. Vemos cada vez mais
elementos autoritários, e nossa democracia está cada vez mais frágil”.
É
difícil para alguém, que apóia determinado partido, chegar à conclusão que, a
despeito das supostas boas intenções, não mais vigem condições que assegurem a
liberdade de opinião, e o império da Justiça.
Quando
o aparelhamento da Justiça chega a um ponto tal em que ela se torna
dispensável, como foi no caso da arbitrária prisão do Prefeito Ledezma (para a
qual não foi sequer necessária ordem judicial), não há mais condições para que
se mantenha o simulacro do respeito à ordem democrática.
Se um
ditador boçal pode ditar a ordem (e a desordem) na Venezuela, a manutenção
dessa ficção do regime legal só responde a interesses autoritários.
Se o
regime falhou no que concerne à economia e às mínimas condições de bem estar da
população, o autoritarismo deixou de ser ficção ou até mesmo uma ameaça. Se a
polícia e as milícias governamentais estão autorizadas a matar impunemente os
que se manifestam de forma pacífica contra a desordem imperante, se um ukase do tirano pode jogar em masmorras
e tenebrosas prisões políticos oposicionistas, se a segurança de dispor de
julgamento imparcial e equilibrado para os cidadãos não é uma ilusão em
universo judiciário aparelhado pelo poder imperante, se não pode haver
liberdade de imprensa por falta de licença de importar papel (como no antigo
México do PRI), se uma deputada pode
ser cassada no grito por gerarca do partido dominante, se a Carta Democrática da OEA é escarnecida
todos os dias, o que mais procura a intelligentsia
da Venezuela para aferrar-se na crença
da manutenção de uma democracia que nada garante àqueles que nela creem?
Por
fim, os democratas da Venezuela, ou estão na prisão, como o opositor Leopoldo
López, ou os ameaça um simulacro de ordem legal, como à oposicionista Deputada
Maria Corina.
A
diplomacia brasileira – que hoje virou de partido e não de estado – olha para o
outro lado, na sua cúmplice passividade diante do peronismo e do chavismo (sem
falar nos outros ismos, de Bolívia e Equador). Que o Brasil e o Itamaraty
tenham descido tanto, na ‘diplomacia’ de dona Dilma – a que a anexação da
Crimeia e a invasão da Ucrânia oriental não são questões de seu interesse – não
surpreende tampouco que a Casa de Rio Branco não tenha fundos para exercer o
seu mister, nem mais responda sozinha por seus encargos diplomáticos.
Mas o
desgoverno do Itamaraty não é um fator isolado.
Na verdade, ele assim participa da situação de todo o Brasil, dada a
manifesta incompetência da gestora que o fazedor de postes, na sua húbris, pensou poder colocar no
Planalto, a fim de perpetuar o mando do PT em nossa terra. Mensalão e Petrolão
mostram para quem queira ver que é um fenômeno passageiro.
Já disseram
que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Se é assim, tomem cuidado, pois
ao que consta já mexeram no Supremo os pauzinhos para que não se repitam os ‘erros’[1] da Ação Penal 470. Com efeito, se a roubalheira que quase
destruíu a Petrobrás, iniciada sob o governo Lula, em 2003, for julgada no STF, o Povo Soberano não mais terá
oportunidade de acompanhar pela tevê Justiça
o julgamento, como ocorrera com o dito Mensalão.
Qual
é o interesse de quem ora manda no STF de
que o juízo sobre a propina e o envolvimento dos partidos da base de apoio dos
Governos Lula e Dilma não mais seja assistido pelo povo brasileiro?
Essa
estranha decisão foi tomada sob manto de sigilo que não lhe recomenda. Porque aos senhores ministros – ou parte
deles - não agrada que as discussões sejam feitas em aberto, como no tempo do
Presidente Joaquim Barbosa? Será que ao atual presidente desagrada o
procedimento?
Grandes discussões e decisões devem ser tomadas em aberto, para que a
opinião pública delas tome amplo conhecimento. Já dizia Mangabeira que a
democracia é uma plantinha tenra, que requer constantes cuidados. Não a
abandonemos a conciliábulos, e a sessões secretas. Porque como mostrou uma vez
mais a Corte de Joaquim Barbosa conhecimento é poder, e a sua difusão só
reforça a democracia.
Será
nessas infames democracias adjetivadas, como antes havia na Europa oriental,
sob a manopla soviética, e hoje, ressurgem na companhia da corrupção e do
infame autoritarismo, na pobre Venezuela e em outros países (que ora ficam na
geladeira, como dizia colunista do século passado) dessas tristes bandas, que o
sigilo constitui a verdadeira mortalha da democracia.
( Fonte: O
Globo )
Nota para o leitor:
Mais uma vez a OI nos deixa sem comunicação telefônica, nem acesso à
internet. Por isso, este artigo, escrito
no domingo, quinze de março corrente, só pôde ser publicado no dia dezesseis.
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