Falando em ordem unida presidenta,
ministros e PT atribuem panelaço a ‘terceiro turno eleitoral’.
Manifestação
espontânea da população em pelo menos treze capitais, num primeiro momento, sem
preocupar-se com o ridículo, os líderes petistas disseram que tais protestos
tinham sido ‘financiados’ pela oposição. Talvez seja defeito de quem já não
acredita possam existir reações naturais a uma determinada situação.
A colunista
econômica de O Globo, Miriam Leitão, escreve hoje análise magistral da fala
presidencial. E emprega linguagem dura, que não lhe é habitual. E em três
frases anuncia o próprio raciocínio. “Qualquer governante pode pedir suor e lágrimas. Só não pode fazer isso
mentindo. O teor do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff foi muito ruim.”
Na campanha,
ela faltou com a verdade sobre a situação econômica e energética do país. Nesse
diapasão, não se pejou de acusar os candidatos Marina Silva e Aécio Neves de
preparem um tarifaço de energia, de quererem “plantar inflação para colher
juros”. Com despejada desenvoltura, ela investiu contra os candidatos da
oposição alegando estarem tramando um ajuste fiscal desnecessário para tomar medidas impopulares, isto é “contra
o povo”.
Há um termo –
que não empregarei – que define quem cinicamente atribui ao adversário aquilo
que se propõe fazer. Do impacto da mentira, e mais além, ela fez uso na
campanha a mancheias. O velho conselho terá ressoado em seus ouvidos: ‘Mentí! Menti
sempre! Algo ficará!’
Sabemos bem quem plantou a inflação, e de
forma no seu caso irresponsável. Tampouco foi a crise hídrica que trouxe o
aumento da energia. Na análise de Miriam Leitão, foi o governo Dilma que
contratou o tarifaço. Assim, em 2015, a energia terá subido 100%
em dois anos, e “só em parte” se deve à falta de chuvas. Como não é
incomum nessa administração, há um rosário de equívocos: ‘reduzir o preço de forma
populista e irreal, deixar as empresas sem contrato por erro de gestão,
postergar o problema, mandando as distribuidoras pegarem empréstimos para serem
repassados ao consumidor’.
Além de
ignorar os alertas, era do pleno conhecimento da Presidenta que a energia teria
de subir bastante em 2015, com chuvas ou não. E a forma de pagamento escolhida
pelo governo transferiu toda a conta para o consumidor. Como explica Miriam
Leitão, os empréstimos bancários foram
dados com o aval da Aneel para as distribuidoras cobrarem do consumidor com
juros e correção monetária a partir de 2015...
Outra
inverdade da Presidenta é que a energia vai subir apenas temporariamente. Com
efeito, até o aumento da bandeira tarifária vai demorar bastante a ser
revertido. A causa está em que as empresas ainda estão pegando empréstimos
bancários que continuarão nos próximos anos sendo jogadas na conta do povão...
Mais uma
estória da carochinha é que a situação enfrentada pelo Brasil se deveria à
crise internacional. Fica difícil aceitar isso quando a economia dos Estados
Unidos está bombando, com baixo nível de desemprego, e retomada do consumo
(cresce, de resto, a possibilidade, de restabelecimento de uma taxa de juros
para o dólar estadunidense, o que afetará então a corrente de investimentos
para os países emergentes).
O vezo de
atribuir para o estrangeiro a crise econômica brasileira não se sustenta. Até a China ainda cresce a 7%, o que
é uma redução no ritmo de desenvolvimento para ela, mas não uma crise.
Como uma
biruta de aeroporto, ela muda de orientação à vontade depois da eleição, e
pensa que esquecemos os ataques vitriólicos contra os adversários e seus
assessores (quantas vezes mencionou Armínio Fraga, suposto ministro da fazenda de
Aécio, com tom de censura, como ave de mau agouro, que só traria arrocho...).
Ora chamou Joaquim Levy, que é justamente encarregado de aplicar similar ajuste
econômico e financeiro...
O que está em causa, não é a substância dos
ajustes fiscais que o novo Ministro da Fazenda preconiza e procura implementar,
mas a má-fé de dividir a realidade em dois momentos: o de antes das eleições e
o pós-eleições. Naquele tempo, a situação
era outra; agora, como por efeito de deus
ex-machina tudo mudou, e o que antes se verberava como errado e sinistro,
hoje se diz que é certo e mais do que oportuno...
(a
continuar)
( Fontes: Coluna de
Miriam Leitão, O Globo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário