terça-feira, 10 de março de 2015

Há razão para impeachment ?


                                    

      Falando em ordem unida presidenta, ministros e PT atribuem panelaço a ‘terceiro turno eleitoral’.

      Manifestação espontânea da população em pelo menos treze capitais, num primeiro momento, sem preocupar-se com o ridículo, os líderes petistas disseram que tais protestos tinham sido ‘financiados’ pela oposição. Talvez seja defeito de quem já não acredita possam existir reações naturais a uma determinada situação.

      A colunista econômica de O Globo, Miriam Leitão, escreve hoje análise magistral da fala presidencial. E emprega linguagem dura, que não lhe é habitual. E em três frases anuncia o próprio raciocínio. “Qualquer governante pode pedir  suor e lágrimas. Só não pode fazer isso mentindo. O teor do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff  foi muito ruim.”

       Na campanha, ela faltou com a verdade sobre a situação econômica e energética do país. Nesse diapasão, não se pejou de acusar os candidatos Marina Silva e Aécio Neves de preparem um tarifaço de energia, de quererem “plantar inflação para colher juros”. Com despejada desenvoltura, ela investiu contra os candidatos da oposição alegando estarem tramando um ajuste fiscal desnecessário  para tomar medidas impopulares, isto é “contra o povo”.

        Há um termo – que não empregarei – que define quem cinicamente atribui ao adversário aquilo que se propõe fazer. Do impacto da mentira, e mais além, ela fez uso na campanha a mancheias. O velho conselho terá ressoado em seus ouvidos: ‘Mentí! Menti sempre! Algo ficará!’

        Sabemos bem quem plantou a inflação, e de forma no seu caso irresponsável. Tampouco foi a crise hídrica que trouxe o aumento da energia. Na análise de Miriam Leitão, foi o governo Dilma que contratou o tarifaço. Assim, em 2015, a energia terá subido  100%  em dois anos, e “só em parte” se deve à falta de chuvas. Como não é incomum nessa administração, há um rosário  de equívocos: ‘reduzir o preço de forma populista e irreal, deixar as empresas sem contrato por erro de gestão, postergar o problema, mandando as distribuidoras pegarem empréstimos para serem repassados ao consumidor’.

         Além de ignorar os alertas, era do pleno conhecimento da Presidenta que a energia teria de subir bastante em 2015, com chuvas ou não. E a forma de pagamento escolhida pelo governo transferiu toda a conta para o consumidor. Como explica Miriam Leitão, os empréstimos bancários  foram dados com o aval da Aneel para as distribuidoras cobrarem do consumidor com juros e correção monetária a partir de 2015...

         Outra inverdade da Presidenta é que a energia vai subir apenas temporariamente. Com efeito, até o aumento da bandeira tarifária vai demorar bastante a ser revertido. A causa está em que as empresas ainda estão pegando empréstimos bancários que continuarão nos próximos anos sendo jogadas na conta do povão...

         Mais uma estória da carochinha é que a situação enfrentada pelo Brasil se deveria à crise internacional. Fica difícil aceitar isso quando a economia dos Estados Unidos está bombando, com baixo nível de desemprego, e retomada do consumo (cresce, de resto, a possibilidade, de restabelecimento de uma taxa de juros para o dólar estadunidense, o que afetará então a corrente de investimentos para os países emergentes).

         O vezo de atribuir para o estrangeiro a crise econômica brasileira não se sustenta. Até a China ainda cresce a 7%, o que é uma redução no ritmo de desenvolvimento para ela, mas não uma crise.

         Como uma biruta de aeroporto, ela muda de orientação à vontade depois da eleição, e pensa que esquecemos os ataques vitriólicos contra os adversários e seus assessores  (quantas vezes mencionou Armínio  Fraga, suposto ministro da fazenda de Aécio, com tom de censura, como ave de mau agouro, que só traria arrocho...). Ora chamou Joaquim Levy, que é justamente encarregado de aplicar similar ajuste econômico e financeiro...    

         O que está em causa, não é a substância dos ajustes fiscais que o novo Ministro da Fazenda preconiza e procura implementar, mas a má-fé de dividir a realidade em dois momentos: o de antes das eleições e o pós-eleições.  Naquele tempo, a situação era outra; agora, como por efeito de deus ex-machina tudo mudou, e o que antes se verberava como errado e sinistro, hoje se diz que é certo e mais do que oportuno...

                                                                                                    (a continuar)

( Fontes: Coluna de Miriam Leitão, O Globo) 

Nenhum comentário: