No artigo anterior, expus de
forma resumida o mecanismo político imperante no Brasil, que determinou a
primeira eleição de Dilma Rousseff. Já , sua reeleição, lograda apesar de
atuação decepcionante (abaixo itemizada),
foi obtida pelo aparelhamento do
Estado pelo PT (o que inviabilizou à candidata Marina direito de resposta,
mesmo no filmete em que a concessão de autonomia ao Banco Central era
equalizada ao roubo da comida da classe trabalhadora), e pela vitória de Dilma
no Norte e Nordeste, com o acréscimo de Minas Gerais. A derrota de Aécio no seu
estado natal decorreu da pouca atenção por ele dada à disputa em Minas. Tal
bastou para dar a Dilma vantagem de 3% no cômputo geral.
Mas a lua
de mel do eleitorado com Dilma não duraria muito. As pesquisas do Datafolha mostraram que Dilma alcançou a
pior avaliação desde 1999. Em dezembro
último, tinha 42% de ótimo e bom e 24% de ruim e péssimo. No início de
fevereiro, já tinha 23% e 44%. Despencara no
positivo, e aumentara no negativo.
Dentre as
avaliações de comportamento, pouco menos de 50% a considera desonesta, falsa (54%) e indecisa (50%).
Seis em cada dez entrevistados acham que Dilma mentiu para vencer. Quase 80%
dos entrevistados acreditam que
Dilma sabia da corrupção na Petrobrás.
Para 52%, sabia dos desvios de dinheiro e deixou que continuassem.
Para Lula,
segundo a coluna de Noblat de nove de
fevereiro último, há um golpe em marcha para depor Dilma. Mas o colunista
comenta “Bobagem! O golpe já foi dado.
Por ele, Dilma e o PT, ao encenarem a farsa eleitoral do ano passado.”
Sem
embargo, a avaliação de Dilma pela mídia a define como indecisa, incompetente,
grosseira. Não controla nem a bancada do PT, que está em aberta revolta contra
o ajuste fiscal – como se houvesse outra saída.
O Ministro Joaquim
Levy tem recebido notas negativas na imprensa, mas semelha bem
intencionado. O problema talvez seja a própria juventude e o fato de não estar
contido por personalidades mais experientes. A minha impressão é que deveria
cuidar mais da linguagem, o que lhe evitaria problemas, como no caso do “grosseiro” para as desonerações. O
cartunista Chico Caruso se tem aproveitado bem da falha, mas, na verdade, se
a orientação está certa, há que cuidar apenas da embalagem.
Dilma, a
mal-humorada, parece que aprecia e, por isso, pega leve em eventual
escorregadela do Ministro.
No
entanto, ainda no que tange à Presidenta, há processo que não deixa de ser
preocupante de relativa pulverização de sua liderança política e da autoridade
como chefe de governo. Passada a curtíssima lua de mel pós-eleitoral, houve,
por assim dizer, uma dissociação de realidades.
Além de ter sido escassa a maioria da
reeleição, os fatos do Petrolão se foram amontoando, com a
rápida erosão do crédito outorgado à vencedora. Os podres desse outro tipo de
aparelhamento da Petrobrás passaram a tornar difícil não acreditar que Dilma e a fortiori Lula, pudessem pretextar
desconhecimento desses ‘malfeitos’ (para usarmos essa dílmica linguagem). No
carnaval, para escrachar ainda mais, há foto de dois populares, com bastante
parecença, que de faixa presidencial e tudo, desfilam sob os cartazes que assim
proclamam: Lula ‘Eu e meus cumpanheiros gostamos mesmo é de reais, euros, dólar’ e Dilma ‘O Petróleo é nosso! A propina é deles).
A economia
não parando de trazer notícias ruins, com o aumento da inflação e das dívidas
(tanto a pública, quanto a privada), se adensam as perspectivas de rebaixamento
calamitoso de nota, passando ao grau especulativo, e por aí afora.
No panorama político, o isolamento de Dilma
se aprofunda, com o afastamento do PMDB. No último programa televisivo
político do PMDB, encabeçado pelo Vice Michel Temer, ela sequer foi mencionada.
O cenário da crise não para de piorar, e é aí que os céus se enfarruscam de
vez, diante do encolhimento da liderança que resta à Presidenta.
Tampouco
as suas decisões tendem a desanuviar a atmosfera. Como referi em blog anterior, em entrevista à Folha na 2ª Feira, o grande advogado Modesto
Carvalhosa,
ao avaliar os ditos acordos de leniência, urdidos pelo TCU, e apoiados pelo
Ministro da Justiça, AGU, Controladoria-Geral da União, afiançou que a Presidenta cometeria crime de responsabilidade, com viés de
prevaricação, ao se negar a aplicar a Lei Anti-Corrupção.
A Lista de 54
nomes de políticos no Congresso Federal, elaborada pelo Ministério Público
Federal e encaminhada ao Supremo
Tribunal Federal, foi firmada pelo Procurador-Geral Rodrigo Janot. Ela contém 28
pedidos de abertura de inquérito com os ditos 54 suspeitos de participarem
nos desvios da Petróleo Brasileiro S.A.
Por enquanto todos os procedimentos estão em segredo de justiça (há
inclusive pedido de arquivamento de sete petições, por falta de provas
suficientes para abertura de
investigação).
É de
notar-se que o Ministro Teori Zavascki, do STF, revisará a lista. Se a aprovar,
ela se tornará ostensiva, passando-se à fase dos inquéritos propriamente ditos.
Não
desanuvia decerto o ambiente que os únicos dois nomes que já vieram a público,
são o do Presidente do Senado Federal, Renan
Calheiros, e o do Presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha. Ambos são como se sabe do PMDB. Que as duas maiores
autoridades do Congresso Federal estejam por ser incriminadas formalmente já
diz muito sobre a situação em termos de quase banalização da corrupção. Não há
nenhum Cícero[1] disponível, mas a
exclamação O tempora, o Mores[2] continua
tristemente pertinente.
( Fontes: O Globo,
Folha de S. Paulo )
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