O Senador republicano pelo Texas
tem grandes ambições, mas vistas muito estreitas, como disse Jean-Jacques
Rousseau do Abbé de Saint-Pierre[1]. Mas pelo menos seja dito que a censura de
Rousseau fustigava o Abbé pela generosidade e pouca adequação às realidades da
política internacional.
Não é o caso
de falar de generosidade desse primeiro candidato do GOP à presidência. Havido por muitos como um demagogo da
extrema-direita (a sua origem é a facção do Tea
Party), já foram vistas nesse hispano-americano muitas e inquietantes
semelhanças com o maior demagogo da direita de todos os tempos, o Senador Joseph McCarthy.
Ele é o
primeiro candidato de maior peso político a entrar na liça para 2016 no Partido
Republicano.
A famosa nomination, que para os muitos será
apenas miragem no deserto, na sua ambição decerto não duvida de que
subirá ao pódio para ‘aceitar’ a chamada indicação para representar o Grand Old Party na eleição presidencial.
Que ele chegue
até lá semelha pouco provável, porque todo grande partido político procura
evitar extremistas, e não por motivos pessoais.
Por isso, têm medo de programas demasiado radicais, menos por questões
de princípio, que por razões de bom senso.
Não o
subestimemos contudo. Em pouco tempo, se tornou um expoente da direita
ultraconservadora, e o espicaçam ambição sem limites e uma autoconfiança que
lhe semelha ir muito além das barreiras da sociedade a noveis personagens na
cena política. Bom orador, logrou afirmar-se no Senado americano, rompendo com
as barreiras que em geral limitam a atuação dos jovens senadores. Como a
personalidade a quem foi comparado – e da qual intenta dissociar-se – a ousadia
é o seu cartão de visitas, e a quase insolência na própria afirmação se lhe
reflete tanto na postura, quanto nos lances que confundem aqueles que se apegam
às tradições e regras estabelecidas.
Após escolher
a dedo o local do lançamento de seu repto à presidência – a Liberty
University em Lynchburg, na Virgínia – o jovem público conservador saudou entusiasta o quadro esboçado de
otimismo sem fronteiras: “Imaginem os jovens saindo da faculdade com quatro,
cinco, seis ofertas de emprego. Imaginem ao invés de estagnação econômica, um
boom de crescimento econômico.” E tem mais: “imaginem a inovação espoucando na
internet, os Estados Unidos finalmente
se tornando auto-suficientes em energia”. E por fim, “Imaginem um governo
federal que proteja os direitos à privacidade de cada americano.”
São imagens
decerto idílicas, mas é importante também olhar como Ted Cruz pretende trazer a
mítica terra da Cuccagna (onde todos
os desejos são concedidos) aos Estados Unidos. O hispano-americano Cruz tenciona selar as fronteiras – a América para
os americanos.
Ele pretende
igualmente abolir o Serviço da Renda Interna, vale dizer a Receita Federal de Tio Sam.
Sendo do Tea Party, é óbvio que tem ódio da
grande reforma da saúde américana, a Lei do Congresso que instituiu o ACA, o
atendimento médico custeável para todos, e que já está funcionando, e bem,
obrigado. Sem embargo, os republicanos e
o senhor Cruz é um deles tem ódio irracional contra o Obamacare, que o termo pejorativo por eles inventado para expressar
o seu repúdio contra essa disposição que estendeu a assistência médica a
milhões de americanos, que antes dela não dispunham. É difícil determinar as
razões dessa negação limitada do GOP,
contra essa reforma sanitária. Será porque ela foi inspirada pela reforma
sanitária do estado de Massachusetts, implantada pelo governo estadual
republicano de Mitt Romney?
Como não
poderia deixar de ser, Ted Cruz não acredita no papel do homem como fator para
o agravamento do aquecimento global. Está fechado com os opositores do aborto
nos Estados Unidos, um direito lá arrancado pelas mulheres, com base no
respeito à sua privacidade, na célebra sentença Roe v. Wade, da Corte Suprema
de 1973 (que hoje está sendo podada
pelas bordas pela maioria conservadora dos senhores juízes dessa corte[2]).
Por seu
lado, a principal candidata democrata, Hillary Clinton, vai avançando no
terreno minado que lhe saúda sua
renovada aspiração. A grande imprensa já inventou uma questão para
atrapalhar-lhe a progressão como primeira colocada na corrida para a Casa
Branca (do lado democrata). O New York Times, que a seu tempo saudara
a candidatura do marido com investigação
que denominada Whitewater custaria
muitos dólares ao Erário Público, e uma ida ao grande júri da esposa Hillary,
não é que inventou outra, com o caso dos e-mails
particulares de Hillary Clinton, enquanto foi Secretária de Estado?
É uma das
contradições americanas. O New York Times,
o maior jornal do mundo, e que defende posições liberais estadunidenses, vez
por outra realiza investigações contra políticos democratas, que patrocinam
causas também liberais (a esquerda é um nome feio na América, de que todos os
políticos com futuro se dissociam nervosamente).
Isto posto,
será que Hillary Clinton afinal
chegará a empolgar a nomination do
partido democrata? Seria demasiado que desejasse igualmente enfrentar esse
jovem dinossauro da política texana, de nome Ted Cruz?
( Fonte:
The New York Times ).
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