sexta-feira, 13 de março de 2015

Desordem e Regresso ?

                                           

        Talvez esta expressão, que é o reverso do mote positivista de nossa bandeira, sirva não como lema mas à guisa de descrição do delicado momento que vive o Brasil.

         Mais cedo de o que esperava o Governo Dilma Rousseff paga o preço de propaganda enganosa, alimentada por façanhudas mentiras, a proteção dos tribunais, e a consequente destruição da única candidatura alternativa (Marina).

         Vaiada em São Paulo, em exposição a que chegara cedo (para evitar a presença do público), se tal, no entanto, não fora bastante para silenciar os apupos do pessoal de serviço e dos responsáveis pela feira da construção civil, Dilma Rousseff hoje, acuada pela mesma impopularidade, cancela sua ida a Minas Gerais. Teme vaias e protestos, que vem de direita e esquerda.

          Se as mentiras da propaganda, urdidas pelo marqueteiro de fé,  lhe permitiram, ainda que a duras penas, vencer por 3% o desafiante Aécio Neves,  elas deixam um rastro de insatisfação e mesmo revolta, que germina, se inflama e supura em manifestações de direita e esquerda, que pouco semelham ter em comum, a não ser a repulsa à Presidenta.

         Não é só o pesado preço de suas façanhudas falsidades, ditas com a convicção e a empáfia de quem está vestida nos ouropéis do poder. Tratar de burro o povo, que antes já elegera a ‘mulher do Lula’ é empresa arriscada, porque a raiva da gente humilde e laboriosa que nela acreditou há de aumentar diante das expostas artimanhas e dos embustes que repontam por todo lado.

         Já diz a sabedoria de nossos antepassados que quem semeia ventos colhe tempestades. Não se pode dizer uma cousa antes, e outra depois das eleições. Com o Plano Cruzado, o governo José Sarney e o PMDB obtiveram esmagadora vitória nas urnas. Comprovado o ludibrio, Sua Excelência sequer podia sair à rua, tal a revolta popular. Fica-nos na lembrança o presidente e comitiva no Rio de Janeiro, colhendo precário refúgio em um ônibus que populares coléricos com a trampa eleitoral apedrejavam.

           Nossa gente cunhou expressões que próximas de sua labuta diuturna expressam e mesmo vincam a veracidade desses tempos – que os chineses chamam de interessantes – em que entusiasmo e aplauso são escorraçados pela sanha da multidão. Na hora da onça beber água, convém que o espaço seja largo, e por isso a vaca sequer há de conhecer o próprio bezerro.

            Assim, não surpreende que Dilma Rousseff arrefeça caminho e cancele a ída às Minas Gerais. Lá, em outros tempos, não encontraria Dom Pedro I as aclamações do início do reinado, e de lá voltaria, em marcha quase batida, para o aziago Sete de Abril[1].

            Fica em Brasília, porque pode vir ‘fogo amigo’ das manifestações sindicais, que querem mais, e rejeitam o Ajuste Fiscal, que Joaquim Levy foi chamado a aplicar, por causa das insânias fiscais do Dilma I. Nesse quadro, e nessa travessia, nem a CUT, a valida claque de comícios passados, apresenta quadro confiável.

           Doutra parte, Lula da Silva quer voltar. Para tanto, todo meio seria válido. Chegou mesmo a invocar o exército de Stédile, o dos sem terra, capitaneado por quem é dito mamar nas tetas do governo. Como estultas palavras ao ar, já tiveram um efeito, ao destruírem o trabalho de longa pesquisa. Os atos vandálicos são o ápice da boçalidade. O que desejaria o torneiro mecânico com tal façanha? Na verdade, dirá, apenas um apelo a um cumpanheiro, do qual sequer pensou as consequências.

           O PT mostra cada vez mais, na inexperiência de Dilma e na improvidência do grande capitão, que o Brasil, pela sua democracia e desenvolvimento, prescinde desse sindicalismo de fancaria, a la Maduro ou a la Cristina Kirchner. Por contingência de um mando despreparado, abandonamos a diplomacia de estado para nos colocar o roto manto daquela de partido.

           Nessa funda incompetência, que ocasionais grosserias sequer disfarçam, eles ignoram até o lema de nossa bandeira, para não falar nos princípios da Constituição.

 

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )     




[1] Abdicação do Imperador, em favor do filho menor, D. Pedro II.

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