quarta-feira, 26 de abril de 2017

E então Comey criou Trump



               A Presidência Trump, na prática, conforme consta  do noticiário do New York Times e das suficientes mostras dadas pelo 45º presidente quanto a seu caráter a-sistêmico e sua falta de coerência, oferece para o observador, com o próprio caráter desconexo e oportunista,  abertura única para elucidar o mistério de como lhe foi possível surgir para o eleitorado como alguém com mais qualidades do que Hillary Clinton.

               O leitor que me honra seguindo o blog, já terá presentes os juízos feitos acerca das óbvias limitações deste Presidente. Acompanhou igualmente a incrível intervenção de um funcionário republicano,  que Barack Obama escolheu para chefiar o Federal Bureau of Investigations - as razões de tal escolha serão sempre um enigma, malgrado todos os comentários da imprensa, ressalto a propósito os da New York Review, de autoria de David Cole "Trump viola a Constituição" (Fev. 23/num.3), bem como a descrição pela politóloga Elizabeth Drew das incríveis primeiras semanas de Donald John Trump na Casa Branca (9 de março, núm. 4).

                  James Comey foi escolhido pelo ainda verde Barack H. Obama para chefi
ar o FBI. Ainda que os republicanos não tenham maiores pendores para favorecer o bipartidismo - o que a mais perfunctória leitura da imprensa tende a convencer qualquer um - quero crer que a sua indicação desse atlético republicano famoso pelo próprio caráter haja sido gesto no sentido de incrementar o bipartidismo.

                   Não terá havido na história americana gesto mais fatídico para a sorte da candidatura democrata.  Os republicanos azucrinaram Hillary desde a morte do Embaixador americano na Líbia, tentando prejudicá-la para a próxima eleição (ela sempre foi de longe a candidata mais provável dentre os democratas). Hillary nas audiências na Câmara de Representantes - feudo próprio do GOP pelo gerrymander aplicado depois do landslide (vitória por larga margem) provocado pelo primeiro biènio de Obama, desastroso sob alguns aspectos, embora com grandes resultados na saúde e no controle de Wall Street. O pobre  embaixador que era um arabista acabou sendo assassinado por um grupo de fanáticos árabes. Pareceu natural, portanto, ao GOP tratar de responsabilizar Hillary pelo assassínio de Christopher Stevens.  Hillary se saíu sempre bem das infernais audiências que a maioria republicana na Câmara preparava com muito cuidado, como o lobo saliva um próximo encontro com tenro cordeiro. Só que Hillary não é exatamente tenra com republicanos..

                     O erro de Hillary foi ter optado por um servidor privado no seu computador do State
Department.  Vários hierarcas republicanos tentaram dissuadi-la, mas ela, pensando na respectiva utilidade, julgou que poderia obviar os problemas advindos do manuseio com um computador particular das comunicações públicas, muitas delas confidenciais, É importante, no entanto, assinalar que foi um erro menor de Hillary, que seria cruelmente instrumentalizado pelo Partido Republicano.

                      Já às vésperas da eleição regurgitou (com o perdão da Palavra) a questão do servidor privado. Vindo à Câmara, o atlético Mr James B. Comey, sempre no FBI (que examinava o tal computador para ver se encontrava algo de ilegal) disse que nada fora encontrado no aparelho, apenas  a incrível desordem nos papéis utilizados pela Secretária Clinton.

                       Infelizmente Mr Comey não se cingiu à desnecessária grosseria da observação. Mais tarde, no momento chave da chamada votação antecipada (dentre os votantes americanos,  há muitos que pensam útil valer-se de período  para votar (que precede o dia oficial da votação), porque assim julgam ganhar tempo  não enfrentando longas filas).

                      Pois foi neste período que Mr  James Comey cometeu - sem querer, segundo uns poucos, adrede, de acordo com a maioria - um grande, imperdoável erro. Na saga dos exames de computadores - que só é crível em USA - haviam encontrado mais um computador. Este foi achado na residência de Weiner, ex-marido de Huma Abedin, a principal secretária de Hillary no State Department.  E não é que nesta ocasião Mr Comey resolveu contra todas as regras da Secretária de Justiça (a que está subordinado o FBI), que determina a não veiculação para os eleitores de notícias com conteúdo político, que possam ser suscetíveis de influenciar o votante, seja no período antecipado, seja no próprio dia dos comicios.

                      O New York Times depois de uma exaustiva matéria sobre o comportamento nesta ocasião de Mr Comey chega a um veredicto dúbio,em que pensa ter agido Comey de boa fé, ao anunciar pelos meios de comunicação que havia sido descoberto mais um computador que podia ter sido usado pela Secretária de Estado.  

                        Depois de afirmar tal barbaridade - ele Comey não dispunha de nenhum elemento que o levasse a dizer que havia material comprometedor para Hillary no computador do ex-marido de Huma Abedin - ele retirou-se da campanha, não acrescentando mais nada. O New York Times acha que ele Comey realmente influenciou a votação - depois dessa inaudita mensagem, a votação favorável a Trump cresceu e a de Hillary caíu.

                          Por esta razão, por pensar que Hillary tinha feito algo de errado, os americanos durante  a votação antecipada se bandearam para o incrível americano típico Donald Trump.

                          Será objeto de um próximo blog o quanto este erro (de má-fé ou boa fé) pode criar problemas não só para os Estados Unidos, mas também os demais habitantes do Planeta Terra.

                          Segundo a politóloga Elizabeth Drew (Terrifying Trump) o novo presidente americano não tem condições intelectuais para governar, Expertos em psicologia assinaram atestado que o declara impróprio para exercer as respectivas grandes responsabilidades da presidência americana. E que dizer do comportamento desse presidente diante do jovem ditador da Coreia do Norte, adentrando num jogo perigoso de ameaças e contra-ameaças,que na prática dão ao ditadorzinho do inferno coreano uma chance de aparecer ao sol e o que é pior, chegar a pensar na eventual utilização dos brinquedos nucleares de que esse senhor dispõe. Qual foi o presidente americano antes de Trump que tenha consentido em altercar-se verbalmente com Kim, implicitamente colocando-se no mesmo nível deste senhorito? Nenhum, excetuado Mr. Trump...

                          É só pensar nisso  para que uma série de erros graves que permitiram à Coreia do Norte adquirir o segredo nuclear e desenvolvê-lo (no que a China tem também óbvia responsabilidade) levaram a constituir o presente quebra-cabeças. Mr Comey "elege" Donald Trump.
Este, uma vez eleito nas condições em que o foi, abre-se todo um leque de sinistras possibilidades.
E notem: que nem mais gospodin Vladimir Putin, que ajudou - e como ajudou - com seus hakers a eleição do amigão Trump, já saíu chamuscado pela reação do presidente americano contra o seu "protetor" russo... É o mesmo que um míssil com problemas sérios  no sistema de direção...


( Fontes:  The New York Review.  The New York Times, Et Dieu créa la Femme )

           

           


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