sábado, 22 de abril de 2017

Maduro, que rei és tu?

                    

        Nicolás Maduro, na verdade, não se apega ao poder.  É tal a sua negação da realidade que, ao ver a quase unanimidade nacional - só dela excluídos os famigerados coletivos, tropa enquadrada, os sem caráter e a turma do mercado negro (nunca os lucros foram maiores) e do narcotráfico, ele realmente acredita que possa ainda ter futuro o seu projeto de pauperização nacional...
        Diante da hiperinflação, do caos na economia, no desabastecimento generalizado, não espanta que se sucedam nos subúrbios de Caracas as madrugadas violentas. Os saques aos estabelecimentos que ainda dispõem de víveres se sucedem durante a madrugada.
        Chamado às pressas mais outro órgão de segurança - a Guarda Nacional Bolivariana (o poder chavista continua cinicamente a denominar com o Bolívar da liberação do jugo as forças da  repressão, como se o nome do Libertador pudesse livrá-las de sua pecha de órgão antipopular...) - houve um saldo de doze mortos. Dez desses óbitos são de desesperados que tentaram invadir órgãos provedores de alimentos, e foram abatidos pelos guardas.
          As enxovias do poder chavista já regurgitam de infelizes e consoante a Mesa da Unidade Democrática (MUD) 751 pessoas já foram presas.
           Quero crer que os régulos das prisões brasileiras, conhecidas pelas suas péssimas condições em uma categoria na qual a concorrência se manifesta mais para baixo da escala humana do que para cima, lograriam certa melhora quanto ao respectivo ego de carcereiro, se se tiver presente o submundo que é colocado à disposição dos infelizes que nele foram jogados.
             Se revisitarmos as irrupções do gênero - o caracazo que preparou o fim  da democracia sob Carlos Andrés Pérez - essas manifestações, pelos seus danos e perdas humanas surgem hoje como mofinas em comparação com a luta diuturna dos infelizes que saindo das favelas - não se esqueçam que Caracas chega à sofisticação de ter transformado um arranha-céu de mais de vinte andares em moradia popular (i.e., favela). O Governo de Maduro poderia ser comparado às sete pragas do Egito, se tal fosse condicionado a uma aumento em progressão geométrica de tais transtornos, turbulências, devastações e saqueios generalizados.
            Tanto os supermercados, quanto os armazéns rivalizam nas prateleiras vazias. A hiperinflação corrói o crédito e retira qualquer incentivo à poupança. Quando o dragão perde as estribeiras, os bolívares viram um papel com valor próximo a zero.
            Se Hugo Chávez legou à Venezuela esse presente de grego que é o caminhoneiro Nicolás Maduro, a hiperinflação passará no futuro a ser       matéria a ser estudada, em seus efeitos sociais e outros, dessa virtual pulverização do dinheiro, que é segredo guardado a quatro chaves por Nicolás Maduro e sua gang.
            Humor negro à parte, a população - que não tem acesso aos polpudos ganhos do mercado do narco-tráfico, que é monopólio do governo chavista, sob a douta orientação de algum cérebro como Diosdado Cabello, consoante se especula - vive o seu particular inferno, com o dia-a-dia pontuado pelas tentativas de saqueio nos poucos armazéns que ainda existem dotados de bens consumíveis. Como os próprios jornais chavistas advertem, essa prática pode ser perigosa para a saúde ou eventual incolumidade física de quem a pratique.
             E, mais uma vez, pondo o humor negro à parte, os saques se repetem. Além disso, a xenofobia governamental agora parte para expropriar os bens de estrangeiros que por manifesta desrazão resolveram em priscas eras investir no país chavista.  É esta a explicação mais plausível da recentíssima desapropriação da única fábrica  da General Motors na Venezuela.
               Por outro lado - sob o argumento da falta de bom senso de persistir em terra tão contrária ao comércio e à indústria como os seres humanos normais a entendem  - parece que Maduro iniciou  o processo de expropriação da operadora de telefonia  Movistar, subsidiária da espanhola Telefónica, acusada de ter feito parte da "marcha golpista de quarta-feira".
                A situação está tão ruim e o governo Maduro pior ainda, que para não chorar os venezuelanos recorrem às piadas de humor negro. Sem embargo, o humor, mesmo negro, carece de um cenário mínimo de realidade vivível. Como esta - e basta olhar ao redor - já deixou de existir faz tempo um ambiente propício para que as antirregras do humor possam existir. No entanto, se pela destruição do país e de suas riquezas é forçoso reconhecer que os nacionais, a continuarem nesse ritmo tresloucado, dentre em breve perderão quaisquer condições de poder ter acesso a  qualquer tipo de humor, seja el negro, vermelho ou rosa.
                 Talvez a solução para tal cataclismo seja aquela da velha piada do tempo de Salazar, feitas no cartaz as necessárias adaptações:
                a Venezuela mudou-se...


( Fonte: O  Estado de S. Paulo )

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