domingo, 2 de abril de 2017

Bernie Sanders e sua estranha visão

                                

         O Senador Bernie Sanders, democrata do Vermont, acredita que Donald Trump não ganhou a eleição, e sim que Hillary Clinton conseguiu perdê-la.
         Como se sabe, Sanders fez uma grande pré-campanha, colocando quase até o final a possibilidade de que lograria vencer a favorita do partido para a nomination.  A sua concorrência permaneceu quase até a Califórnia, quando o seu apoio desmoronou. Talvez essa postura tenha enfraquecido um tanto  Hillary, prejudicando-lhe o final de campanha.
        Pela idade, o senador do Vermont não parece ter muitas possibilidades, mesmo diante de um enfraquecido Trump, dentro de o que se espera de Administração desastrosa neste quadriênio.  O mais provável, por conseguinte, é que surja uma forte oposição ao 45º presidente dentro do GOP - se a sua atuação continuar na presente linha, com a queda de sua popularidade (hoje Trump dispõe de 40% de apoio, o que para um presidente recém-empossado já é inaudito), é mais do que possível que encontre na convenção republicana uma contestação de peso.
         Para o veteraníssimo Sanders, o que ele deseja é que a sua 'algoz' democrata venha a ser castigada daqui a quatro anos. Daí, essa estranha teoria de que a candidata Hillary tenha "perdido" a eleição, mais do que a surpresa Trump haja ganho.         

         Não se pode negar que Mr Sanders é político ardiloso, e fervilham na sua mente inúmeras ideias. Tudo isso corresponde a uma preocupação maior: entre todos os adversários, além daquele da idade, o que mais lhe incomodaria seria a recondução de Hillary Clinton, e não só pela circunstância de batê-lo ao cabo por vitória clara e difícil de esconder debaixo de um saco de desculpas de ocasião.

         Pois na verdade Mr Bernie Sanders semelha esquecido de um particular. Não foi Hillary quem perdeu. Além da campanha das mentiras na internet, todos os seus inimigos se serviram à tripa forra do famigerado caso do servidor particular do computador da Secretária de Estado.
         Na longa história da democracia americana dificilmente terá havido issue (questão) mais fajuta e artificial do que a desse servidor privado do computador (do Departamento de Estado). À custa dela, o diretor do FBI, James Comey, teve a audácia de no período final da pré-eleição 'distinguir' Hillary em três oportunidades: no seu depoimento ao Congresso, quando tratou a candidata democrata com desenvoltura próxima da grosseria (censurando de forma ríspida a sua alegada maneira desleixada de lidar com o computador) e, em mais duas outras, enquanto se acercava a temível fase terminal das eleições. Pois não é que contra todas as regras ele enviou carta aos líderes do Congresso em que se reportava ao tema, de forma a provocar nos democratas várias manifestações de desagrado. A última, no entanto, ultrapassaria todas as demais, eis que Comey, contra todas as regras do Departamento de Justiça a que está submetido, levantou estranhas suspeitas contra a candidata, a ponto de que ela viesse a declarar que o republicano (pois Obama, com o seu ramo de oliveira, escolhera um membro do GOP para o FBI) havia sido determinante  para prejudicar-lhe no chamado período da votação antecipada e, por conseguinte, para derrotá-la por suspeitas totalmente infundadas.

        Mais tarde se saberia que outras personalidades - e até  o país  de Vladimir Putin - se empenharam a fundo não só em bagunçar-lhe a campanha (através do hacking do Comitê Democrata) - além de todo o comovente empenho dos asseclas de Trump em seus contatos com os dignitários russos em Washington.
           Na triste eleição de Donald John Trump - cuja capacidade para a administração e a alta política vem sendo demonstrada, mas não da forma usual em se tratando de candidatos presidenciais - nunca uma figura de sua estirpe ficou devendo a tantos ajudantes que por série de circunstâncias não podem ter celebradas as respectivas ações e  eventuais méritos com a forma desenvolta e pública que é em geral reservada a tais atores.


( Fontes: The New York Times, The New York Review )

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