sexta-feira, 14 de abril de 2017

A ferida infecta

                                         
         No passado, antes do aparecimento da penicilina e de sua coorte de medicamentos, havia grande temor da chamada festering wound, que era vista, em termos médicos, como signo de péssimo agouro para o paciente.
          No presente, pergunto-me onde estavam as autoridades das grandes potências, que permitiram que o segredo nuclear viajasse para os páramos da Coréia do Norte, e de tal maneira, a ponto de tornar críveis recorrentes crises entre Pyongyang e Washington, passando por Seul?
          No entretempo, os serviços competentes dos Estados Unidos e de Beijing permitiram que o segredo atômico viajasse tanto - dizem que a partir do Paquistão - a ponto de tornar-se arma para ameaçar não só ao Japão e a Coréia do Sul, mas também aos próprios Estados Unidos.
          Que um desastre nuclear esteja ao alcance de países como aquele governado por Kim Jong-un, me parece decerto consternador, e por conseguinte merecedor da maior atenção.
           Há muitos responsáveis pela existência e durabilidade de uma tal situação. Todos os países que são chamados a intervir nas crises originárias desse pequeno Estado nuclear terão alguma responsabilidade no que tange ao magno problema de que armamento suscetível de inviabilizar a vida como conhecemos no Planeta Terra possa ser acionado numa crise acaso desencadeada pelo hierarca de turno em Pyongyang.
            Que isto seja pensável como um cenário com alguma credibilidade, já constitui pesada acusação contra todos os protagonistas desse recorrente drama. Como responderão, notadamente Beijing e Washington, e no passado, incluindo Moscou, se e quando perguntados acerca de o que fizeram para proteger não só os próprios países, mas também no que respeita a medidas apropriadas para controlar tal situação no que tange aos vizinhos não-nucleares, e aos demais habitantes do Planeta Terra?
             Agora, o quadro se complica um pouco mais, pois começa a mexer no tabuleiro um estranho no ninho, ao cabo dessa estranhíssima eleição que catapultou Donald John Trump para a Casa Branca.
             A legião dos desencantados com Mr Trump ganhou há pouco um novo participante - que através de hackers e de outros incongruentes aliados, pensara haver adquirido muito crédito no armazém de Trump.
              E isto me faz lembrar a velha frase, que ouvi no Alvorada, que não há nada de seguro no subdesenvolvimento.[1]
             Trocando em miúdos, Trump adentrou a Casa Branca com o voto dos insatisfeitos, seja com o fato do estar desempregado a perder de vista, seja do amigo do Kremlin (que pensou ter várias promissórias por ele subscritas), e a despeito da mulher-candidata, com ficha invejável, mas, infelizmente, se preferida da maioria, mas não do cômputo do sufrágio  indireto - que é o que ainda vale -, nunca esquecendo o precioso aporte dos republicanos, notadamente as vazias, mas pontuais advertências quanto ao misterioso uso de um terminal particular de computador.
               Reza o saber popular que quem pariu um monstro, que o embale. Mas se a turma da vez for incapaz ou - o que dá no mesmo - temerária, como é que fica?
                          
(Fonte: The New York Times: "A China adverte quanto às Nuvens de Tempestade no enfrentamento (Standoff) de Estados Unidos e Coreia do Norte" )    



[1] Com o passar do tempo, não mais limito subdesenvolvimento a questões econômicas.  A História, esta Senhora tão rica em exemplos - muitos deles deprimentes - não mais me parece tão estrita quanto aos eventuais efeitos.  

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