quarta-feira, 5 de abril de 2017

Novo Adiamento

                

       O Tribunal Superior Eleitoral, em movimento não de todo imprevisto,  adiou na terça-feira, dia quatro abril, o julgamento que seria aberto nesta semana e que pode cassar a chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer, que vencera, como todos sabem, a eleição presidencial de  2014.
       Com efeito, os ministros decidiram reabrir a fase de instrução para ouvir mais testemunhas, entre as quais o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura - cuja delação foi homologada ontem pelo Supremo - e o ex-Ministro da Fazenda, Guido Mantega.
       Segundo assinala com oportunidade Miriam Leitão, são muitos "os interessados no adiamento do julgamento no TSE". Consoante a colunista,  "o grupo reúne o presidente Michel Temer, a ex-presidente Dilma e, até, por ironia, o PSDB, autor da ação". Miriam também inclui nesse grupo "os partidos da coalizão que ficaram com Dilma, e os que migraram para o governo Temer, os empresários e o mercado financeiro". E acrescenta, por fim : "Difícil é encontrar quem esteja interessado  em que o processo ganhe celeridade."
         Consoante foi apurado pela Folha, "o relator da ação, Herman Benjamin, percebeu que poderia ser voto vencido na questão do tempo para alegações ou que alguém poderia pedir vista dos autos do processo, o que levaria a suspender a sessão por tempo indeterminado.
          Além disso, minutos antes de a sessão começar, os ministros souberam que João Santana e Mônica Moura haviam fechado acordo de delação premiada com o Ministério Público, e que tal acordo tinha sido homologado ontem pelo Supremo.
           Na linha das mutações de última hora, espera-se que as delações do casal de marqueteiros sejam esclarecedoras, e por isso talvez se especule que a ex-presidenta não espere boas novas de o que venha a transcender das declarações do casal.
           Contribuíu igualmente para o adiamento, ainda sob o prisma do relator Herman Benjamin, seria a posição de que as decisões devem estar a salvo de contestação futura. Segundo tal interpretação de Marcelo Coelho da Folha: "Herman Benjamin concordou em conceder cinco dias de prazo para a defesa e determinou que novas testemunhas sejam ouvidas. A ideia dele é que, se isso não acontecesse, a defesa provavelmente argumentaria que foi cerceada. Nesse sentido, melhor incluir os depoimentos agora do que correr esse risco depois."
              A expectativa é que João Santana confirme haver recebido pelo menos R$ 20 milhões em caixa dois da Odebrecht, aumentando, por conseguinte os elementos disponíveis contra a chapa vencedora.
               Estima-se que o julgamento deva ser retomado em maio próximo, mas o Governo Michel Temer, que ganhou fôlego para levar avante votações importantes no Congresso, já dá como certo um novo adiamento.
              Tenha-se presente, outrossim, que possíveis votos de ministros  contrários às posições da defesa venham a ser afastados do julgamento pelo vencimento dos prazos regimentais  respectivos de permanência nesta sessão do Tribunal, como já foi referido em comentário  anterior por esta coluna.
               Diante de todas essas mutações, a expectativa, segundo refere O Globo, é que o julgamento não seja concluído antes do próximo semestre, e possa até prosseguir até 2018, que, como não se deveria esquecer, é ano eleitoral.
               Além disso tudo, vai contra o bom senso da magistratura tomar medidas que venham a contribuir para a cassação do mandato do vice-presidente Michel Temer, que assumiu o poder presidencial após a cassação pelo Senado Federal do mandato de Dilma Rousseff, por meio do instituto constitucional do impeachment. Que o mandato de Michel Temer seja cassado em tais circunstâncias, ainda por cima em ano eleitoral, vai contra qualquer ideia que fazer-se possa da necessidade de preservar a estabilidade institucional.


( Fontes:  Folha de S. Paulo,  O  Globo, Miriam Leitão )   

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