segunda-feira, 24 de abril de 2017

A pauperização do Rio (II)

                                 

      No blog de ontem, me ocupei precipuamente das causas da pauperização da Belacap ou Cidade Maravilhosa. Hoje tratarei  sobretudo das consequências dessa diminuição de recursos, que também atinge os órgãos estatais cariocas.   
       Nesta semana, passava de táxi na área vizinha à Praça da Paz, exata-mente aquela em que, a pretexto de construir garagem subterrânea, e estação de metrô com duas saídas, o prefeito Eduardo Paes - que é também caça da Lava Jato, como as últimas listas o demonstraram -  quando dei com a parte frontal do prédio que abriga (ou melhor, abrigava) agência da Caixa Econômica Federal parcialmente destruída.
       Hoje se sabe que esta explosão e mais cinco outras foram realizadas em uma semana pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Das duas últimas, ambas na madrugada de sexta-feira, uma foi em Ipanema (a que acabo de me referir), pelas seis da manhã, e outra no município de Tanguá, região metropolitana.
        O Grupo de Atuação Especial em Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP  estuda esse tipo de crime há coisa de nove meses.  Descobriu   que criminosos do Rio, ligados ao Comando Vermelho (CV) - facção até o ano passado ligada ao PCC - receberam da quadrilha de São Paulo "aulas" sobre como manusear  e posicionar os explosivos.  O escopo precípuo desses "cursos" era ensinar a não danificar o dinheiro guardado nos caixas. O promotor Fabiano Gonçalves explica: "Existe um intenso intercâmbio entre eles. Não é simples explodir caixas eletrônicos e os criminosos de São Paulo tem essa expertise há mais tempo. Eles vieram para o Rio e ensinaram as técnicas para que o caixa inteiro não fosse explodido, e não se perdesse o dinheiro."
        A Agência da Caixa atingida ficou parcialmente destruída. Na Pirajá, que é a principal artéria do bairro, ali se atravessa comércio voltado para classes com mais recursos. Os prédios dão de frente para a velha Praça agora com novas e raquíticas palmeiras, cortesia do Prefeito Eduardo Paes, que a pretexto de não dificultar o trabalho de escavadeiras e outros petrechos destruidores, mudou as árvores centenárias que embelezavam a praça. Deixou, é verdade, algumas, no passeio dos pedestres, fora do espaço gradeado, mas com isso só contribuíu para aumentar no antigo logradouro de Ipanema um ar de decadência e de abandono.
          Os moradores dos prédios que confrontam a praça, do lado da Visconde de Pirajá, acordaram sobressaltados pela mega-explosão, que a principio pensaram fosse cousa de tubulação de gás...
            Posso garantir que a parte fronteira da agência da Caixa - a que visitei no passado, mas com as melhores intenções - ficou totalmente destruída. Pode-se, portanto, dizer, lendo a abrangente reportagem do Estadão, que nesse setor o crime organizado se está desenvolvendo deveras. A reportagem do jornal paulista dá um quadro bastante abrangente de quanto esse falso progresso se está espraiando pelos brasis afora (antes era só em São Paulo...)
             No entanto, uma coisa me preocupou, entre muitas, na dita matéria. Pelo visto, o crime no Brasil não é só organizado, mas também parece sofisticar-se. Esse dito progresso não creio que seja do gosto de ninguém.
             Para que ele seja combatido, os Estados carecem  de dinheiro e de uma polícia digna desse nome.Senão, o que se contempla é o progresso dos bandidos, enquanto as forças estaduais ficam sem pessoal especializado, e além disso, pela paucidade (eis aí a pobreza se inserindo de novo no quadro) subgrupos preparados para desmontar esses grupões de bandidos que para cá vem, a fim de pôr em perigo a vida dos cidadãos honestos. E é por isso mesmo que temos de incentivar a criação de operações novas, tipo Lava Jato e similares, não só para desmontar o crime organizado, mas também e sobretudo para garantir a segurança da população que em geral é morigerada, e prefere que todos possam viver em áreas tranquilas e serenas.
              Seria como voltar ao Rio antigo, flanar nas avenidas sem temor de pivetes e bandidos, andar pelas artérias dos bairros  sem ter que parar a cada passo - para verificar se não há meliantes pelas redondezas - e, sobretudo, não deixar, como dizia antes um condômino nosso (que teve de mudar-se porque o condomínio subia sem cessar), toda a segurança por conta de Deus.  Com efeito,gente bem informada no ramo nos disse que Ele não mais estava dando conta...



( Fonte:  O Estado de S. Paulo e outras mais, que se perderam pelo caminho)

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