sábado, 17 de outubro de 2015

Velhas poções valem para lábios jovens?


                           

          No cambaleante governo petista de Dilma Rousseff, não foi exatamente em céu sereno que caiu o raio da Agência Fitch, rebaixando a nota do Brasil, e avisando da possibilidade de perda do grau de investimento, e o consequente retorno àquele especulativo, em que Pindorama estaria ao lado da Argentina. Talvez até, quem sabe?, possamos entrar como litisconsortes[1] com a turma portenha, nas suas intermináveis lutas contra os chamados fundos abutres...

         O único aval válido de que dispõe esse conglomerado  que atende pelo nome de ministério de Dilma, em termos de finanças e, em especial, de que o Brasil continue a ser considerado um caso não de todo perdido, está nesse nome que despontou nos alvores do Dilma II, em transe no qual ainda havia lugar para a esperança no que concerne  a fazenda pública.

          Não creio que Lula & Cia, e mesmo a própria candidata de algibeira (antes das mutações por que passou) se dêem conta da rematada burrice que cometeriam, se abatessem o ministro Joaquim Levy.

         Todos nós sabemos que a leitura provoca azia em Lula da Silva. Teremos, portanto, de descontar esse aporte, na inglória tarefa de uns pobres diabos, de tentar persuadir o maior estadista do Ocidente da rematada loucura que estaria cometendo.

         Joaquim Levy, como todo técnico jovem e com boa formação universitária, chegou otimista à composição de que Dilma deveria ser a locomotiva. Terá imaginado que, com boa fé e melhores intenções, trabalharia para recompor a esbodegada esquadra brasileira.

          Ledo engano! E esse tipo de erro, fruto da boa fé e de melhores propósitos, custa a enraizar-se na mente de quem pensa estar rodeado de gente que deseja o melhor para o Brasil.

          De minha parte, quero crer que a primeira trinca nessa convicção bem-intencionada (e portanto ingênua, se alguém tem presente onde a vítima se encontra) repontou com a pública humilhação do Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, por ter-se mostrado inclinado a não apoiar cálculo dos aumentos do salário mínimo, que repisava a velha demagogia. Para inchar este cálculo, o governo petista preparara menu que aumenta o dito salário muito acima da inflação. Em tempos como este, incluir outros multiplicadores na fórmula do incremento do salário mínimo equivale a garantir o vôo do dragão, eis que o incremento será sempre maior, de o que seria devido, em um país que tenha dois escopos: preservar o salário mínimo de perda com a inflação, mas não transformá-lo, através de outros aumentos, em vetor inflacionário.

          Justamente era este o caso, e a delicada e melíflua Dilma Rousseff não perdeu a ocasião de ministrar carão público ao ministro do Planejamento. Este, como bom apparatchick petista, engoliu assustado a lição, e nunca mais olhou primeiro para Joaquim Levy (o vexame do orçamento deficitário é disto exemplo).

             Depois de muitos anos ao relento, o conhecido agitador e demagogo que atende pelo nome Lula da Silva repontou do nada, e veio falando grosso, com discursos decerto sem sentido se nos ativermos à coerência econômico-financeira .

             Por que, meus amigos, ouso dizer que o velho sindicalista, por muitos anos candidato derrotado em eleições presidenciais, repontou como a estrela da manhã, no comecinho deste milênio, transformado em Lulinha Paz e Amor ? Não porque estivesse disso convencido, mas sim pelo fato de que o homem da propaganda  tenha mostrado que essa era a bola da vez. Passara o tempo de ter de tomar em lúridos comícios, como se fora refrigerante, a poção batizada que lhe daria forças. O Brasil agora o esperava e de braços abertos!

               Se o seu governo foi marcado por escândalos, muitos deles melhor não mencionar, não se deve esquecer que a semente do oportunismo sem princípios já estava lá na ideia, por alguns reputada brilhante, do Mensalão. Depois viriam outros, de que o sábio de plantão saberia escolher a designação, para lograr defletir o golpe.

               Sabe o leitor atento desta modesta coluna que Lula não costuma desistir de seus propósitos e eventuais negaças. No que puder, terá em alguns uma grande qualidade (a perseverança) e noutros, uma obstinada teimosia (combinada com  a astúcia), embora , em fim de contas, tais espertezas costumem ter as pernas curtas.

               Vejam ilustres passageiros do bonde Brasil, aonde fomos parar por causa desse espertíssimo condutor de homens (e mulheres). Volto à vaca fria, na mãe de todos os erros, que foi o de propor para eleitorado despreparado o poste denominado Dilma Rousseff. Ele pensava com isso realizar jogada magistral. Vejam, meus caros passageiros involuntários do bonde Brasil, o que deu de tanta esperteza burra, de tanta imitação (talvez ignara) de Getúlio Vargas !

             Ele conseguiu eleger e, contra a vontade, como espectador forçado, a reeleger a bomba de retardamento Dilma Rousseff. No primeiro quadriênio a sua meta foi desenvolver o Brasil pela meta do consumo e das grandes desonerações fiscais! Tinha até uma turminha, com Delfim à frente, que lhe dizia vá fundo, presidenta!, que inflação não é problema...

            A bomba-relógio do mau governo já estava acionada, e os seus resultados seriam previsíveis, não fora a intimidação, os jogos de cenas, a barração do direito de resposta, e por aí afora.  O que não funcionou foi escamotear o sucessivo aumento da inflação, e o cordão dos escândalos, que como aquele em tempos idos dos puxa-sacos, não parou de crescer.

           Então, Dilma Rousseff veste roupa de penitente e manda chamar um jovem experto em finanças públicas, e até diploma estadunidense. Ela é dos gestos, mas o seu roçado não é o da competência, firmeza e  habilidade política.

           E deu no que deu!  A sua popularidade - que beira os dez por cento - é patética, e um perpétuo convite às traições políticas e às derrotas legislativas.

           Então ressurge o velho demagogo, com a sua voz roufenha, pregando não contra a discipula, que, coitadinha não tem culpa, mas sim contra os emissários de Wall Street e adjacências, contra esse Joaquim Levy, nele batendo com a força que não utilizou contra  o hábil Antonio Palocci, que um caseiro pôs a perder.

          Substituído Palocci, que tivera energia e competência,  o sucessor foi Guido Mantega.

          O que veio depois todos conhecem.

           Na sua coluna hodierna, Miriam Leitão alude aos ataques de Lula, investindo contra Joaquim Levy. Se a velha estória dos insubstituíveis continua a ecoar nos salões de Brasília, como irônico refrão, é triste que tarde na sua caminhada Lula da Silva invista contra alguém que foi convocado e que tenta, em meio aos energúmenos, demagogos e maus caráter (além dos com boas intenções) salvar contra o querer de seus comandantes a nave-brasil, que faz muita água.

          Lula como todo tribuno tem a memória curta e a palavra fácil, demasiado fácil. Para quê? Se examinarmos pensando no Brasil, para nada, pois o destino de tal governo não carece de pobres cassandras para ser escrito.

         Se for nessa batida, não sei como serão os meios, mas o fim está aí, na volta do caminho.

 

( Fontes:  O Globo, Coluna de Miriam Leitão, Drummond de Andrade )



[1] O litisconsórcio é a aliança em juizo de partes que têm a ver em causas jurídicas nas quais existem interesses  comuns para tais partes (podem ser ou co-autores ou co-réus, dependendo da ação).

Nenhum comentário: