sábado, 10 de outubro de 2015

É hora de citar Horácio ?


                                
           Quando em Roma, visitei o que hoje resta da quinta de Horácio, poeta do século de Augusto, que viveu de 8.12.65 a 27.11.8 a.C. Na época, impressionou-me o pouco que sobrara de sua residência campestre, nos arredores da cidade eterna. Alguns canos e uns poucos alicerces, se tanto.

           Há muitas expressões que dele ficaram, além de suas odes, mas de toda maneira choca o quão pouco reste da passagem dos séculos. Contudo, se nos detivermos um instante, veremos que aquilo que o distante passado nos guarda constitui capricho do destino, em que a deusa Fortuna nos mostra a sua pétrea indiferença.

           De todo modo, Horácio, com o patrocínio de Mecenas, está entre os grandes da literatura do ápice romano, sob Augusto imperador. Filho de escravo liberto, é comparado a Virgílio na poesia, se bem que os gêneros difiram.

            Dentre as frases - ou pepitas - que dele restam está auream mediocritatem. Significa não o que parece à primeira vista, mas o áureo meio-termo.

             Horácio, com sua figura bonachona, nos transmite a lição do bom-senso, e de manter - no conselho de seu distante sucessor Drummond -  a boca presa, se figuras de autoridade estejam por perto.

             Pois o também poeta Ovídio (Publius Ovidius Naso) e seu contemporâneo, foi banido da glória da sociedade romana para o fim de mundo de Tomi, no Mar Negro, por ter escrito algo que desagradou ao Imperador Augusto. De nada serviram para os moucos ouvidos imperiais, os seus lancinantes apelos.

              A diferença na sorte costuma ser ponto a lamentar-se a posteriori, desgraçadamente demasiado tarde para pender na balança.

               Com o drama do impeachment a desenrolar-se diante de nossos olhos,  não faltarão ocasiões a Dilma Rousseff para lamentar-se da sorte madrasta, embora, dados os degraus que galgou, parecerá sempre questão controversa se se deve no caso mais deplorar da fortuna e do bom senso, pela circunstância de acaso ter afrontado por demais a deusa  Tuxé.

               Nesta altura, a sorte de quem se intitulava a Presidenta semelha estar mais para Ovídio do que para Horácio.

              Mas em toda estória inacabada se reserva um largo espaço para dona Esperança. Enquanto as portas não se fecham, as urnas não se cerram, haverá sempre a  pausa da esperança, que é esse lenitivo indisponível nas farmácias, mas sempre à mão, com o seu sorriso indecifrável e os seus cuidadosos, maneirosos gestos. Esses, é verdade, mais enganam do que acariciam.

               Diz o Povo que ela é a última que morre, eis que vai enlanguescendo e até definhando aos poucos.

               Mas o pior do Fim é que não o anunciam de antemão. Chega de sopetão, como a notícia ruim e madrasta dos infernos, dizem, bem no meio da Noite.

               Engraçado, é que pouco antes, por artes sabe-se lá de quem, se instalara um estranho, pressago silêncio. E dona Solidão estará sempre de plantão nessa hora azíaga para muitos.

 

( Fontes:  Horácio, Ovídio e Drummond )

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