quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Cavalaria de Putin vem defender Assad


                          

          Quem leu o livro de Karen Dawisha 'A cleptocracia de Putin'  não poderá surpreender-se com o fato de que o Senhor do Kremlin inicie a própria intervenção na guerra civil na Síria com uma sonora mentira.

          A sua agência de informações, além do cara de pau Ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov declaram  que a aviação militar russa atacou alvos do Exército Islâmico.

          Na verdade, os Sukhov de gospodin Putin lançaram bombas não sobre alvos do E.I., mas sim em operação de desafogo do bom amigo Bashar al-Assad, vale dizer tentando destruir  baterias e  bases da Liga Rebelde, próximas de Damasco!

          Como se verifica, essa adesão da Federação Russa à campanha de bombardeios contra as bases do Exército Islâmico, na verdade, carece de receber indispensáveis correções. Além de estar interessado em defender as suas bases na Síria, como a de Latakia (que constrói por gentileza do ditador sírio), por enquanto Putin não está nem aí para perder tempo em bombardear bases e efetivos do ISIS. Tal ele deixaria por conta da vasta coalizão que se empenha em atacar os diversos sítios dominados pelo califado de el-Baghdadi.

          Sendo o cinismo marca registrada da sua atuação política - e não há de surpreender, portanto, que mesmo numa questão como essa, que envolve a segurança de tantos, o Presidente russo não trepide um só instante em montar uma grande mentira, e ao mesmo tempo querer fazê-la passar como benemérita cooperação sua com a causa do Ocidente.

          Não é que Vladimir Vladimirovich Putin seja a favor do E.I. Muito pelo contrário, eis que, dentre os líderes dessa coalizão, nenhum dele carece mais de defesa contra o Exército Islâmico, de que os vastos domínios de Putin.

           Tenha-se presente, v.g., o Cáucaso que com a sua densa população de credo islâmico constitui um flácido ventre para eventuais expedições das divisões do ISIS. Se elas, por ora, se divertem em distribuir assentamentos - a par de apossar-se de pedaços do Iraque e da Síria - nas terras e desertos desse Oriente Médio, aonde está escrito que os combatentes islâmicos não se animem a espalhar a sua autêntica e brutal fé também pelos domínios do Czar russo?

            Putin conta obter dividendos de gratidão do Ocidente com a participaçao de sua aviação militar. No entanto, se está mais interessado em consolidar o mando de seu protegido e ameaçado ditador sírio, mandando bombardear a Liga Rebelde, há de prever-se que esta aliança não há de durar muito.

            Outro absurdo que li na cobertura jornalística dessa confusa 'aliança' é que Putin ganharia respeito (e aquiescência)  do Ocidente no que tange à sua descarada invasão da Ucrânia, que já lhe rendeu a ilegal anexação da Crimeia, a par de fatias circunvizinhas na Ucrânia oriental.

            Uma empresa como esta - que rescende às agressões imperialistas dos séculos dezenove e vinte - só pode ser exorcizada pela devolução das terras ilegalmente ocupadas. Putin não faz favor algum ao Ocidente se intervier contra o Exército Islâmico. Por enquanto, contudo, nem isso ainda o fez, pois parece, por ora, mais interessado em sustentar o seu desgastado trunfo no Oriente Médio, do que em atacar, como os demais aliados, as bases do Exército Islâmico.

 

( Fonte:  Folha de S. Paulo )        

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