sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Obama e a Escalada de Putin


                                   

         O editorial de hoje do New York Times, além de fornecer novos e importantes dados sobre o conflito acirrado por Vladimir Putin, faz pensar acerca dos propósitos e das pretensões de isolado clube de Liga Média, em um teatro de guerra onde se acham jogadores associados a equipe da Liga Superior, antes empenhados em partidas de pouco risco e sem maior oposição.

         Não há negar que gospodin Vladimir Vladimirovich Putin não está satisfeito com a sua atual posição na política internacional. Não é exatamente um nostálgico da Superpotência URSS, defunta desde 1992, mas não é decerto por acaso que venha atuando dentro dos parâmetros do clube do eu sozinho. Quer desmentir tão pronto quanto possível o apodo de Barack Obama  de que a Federação Russa é um poder regional.

         Tampouco não há negar que o atual Senhor do Kremlin é detentor de maquinária de guerra capaz de mandar o nosso mundo (incluindo a própria Rússia) para o beleléu, como antigamente se dizia. Para tanto, tem suficientes mísseis e ogivas nucleares, além de outros artefatos igualmente temíveis. Dispõe, outrossim, de bom número de aviões militares. O seu exército, se não tem, por óbvias limitações, as dimensões do soviético, está em suficiente número para infernizar a vida dos infelizes condenados a viver na sua cercania, no que o povo russo denomina um tanto ominosamente o Estrangeiro Próximo.

         Putin não só relembra Adolf Hitler pelo vezo de atacar de surpresa (sempre, é claro, países militarmente despreparados, como v.g., a Ucrânia); mas também e talvez mais a Benito Mussolini, com quem Putin mostra notórias semelhanças no que tange à exibição do torso nu (o Duce na chamada batalha pelo trigo), assim como atitudes e práticas atléticas, máxime em esportes mais arriscados sob o aspecto físico, de que pensa servir-se para projetar imagem mais máscula (por vezes tais cometimentos lhe saem mal, como quando teve de ser recolhido a  hospital). Essa preocupação corporal é compreensível, eis que Putin é pessoa de baixa estatura.           

         Sem embargo, a economia russa não é de molde a conferir ao Senhor do Kremlin o potencial da antiga URSS, que dispunha de base territorial muito mais ampla, além dos países satélites da Europa oriental e de suas disponibilidades tecnológicas.

         Entretanto, as limitações desse suposto aliado na campanha para reduzir a força do Exército Islâmico não tardaram em aparecer desde o primeiro dia de operações. As missões de seus velhos bombardeios (outro sinal dos limites do poder militar russo), ao invés de atacar o E.I., se tem destinado aos combatentes da Liga Rebelde (que recebem módica ajuda americana).

         Como o New York Times assinala - Obama não tem uma verdadeira estratégia para a Síria (e isto desde que rejeitou, ao final de seu primeiro mandato, o plano de seus chefes de Secretarias ligadas à defesa). Se igualmente Putin não o tem, tal não o demoveu de querer  impedir a força aliada de utilizar o espaço aéreo sírio, cingindo-se àquele do ISIS. A recusa do Ocidente não impede que sobrevenham problemas, diante da clara falta de coordenação entre um agente disposto a pescar em águas turvas, e da outra parte a estratégia de atacar sempre o E.I.

          Não é só o traço eu sozinho  da atuação russa, mas também o seu escopo de reforçar o principal fautor da desgraça síria, no caso Bashar al-Assad, que torna potencialmente explosiva a interação da força aérea americana e dos bombardeiros de Putin.

          E não é coisa de somenos importância. Uma ação supostamente conjunta em que uma das partes persegue um alvo diverso e inconfesso, constitui  mistura assaz perigosa, eis que pode produzir  choques imprevistos e  acidentes imprevisíveis. A falta de real coordenação e da indispensável transparência entre aliados pode levar a alvos não-programados e a becos sem saída em termos de eventual confrontação militar.

         O fenômeno do canhão solto (loose cannon) representava nos velhos barcos de guerra algo aterrorizante. O aventureirismo de Putin contém essa possibilidade.

 

( Fonte: editorial do New York Times )

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