domingo, 11 de outubro de 2015

Reflexões sobre a eleição

                    

        Democracia sem contrapartida é uma verdadeira democracia? Esta pergunta, que faz parte das contradições - ou da hipocrisia - do regime ora vigente sob - e põe sob nisso! - a preponderância ideológica do lulo-petismo, não é indagação acadêmica ou eventual argumento pro domo suae, mas sim a viga mestra do domínio inconteste da coalizão do sindicalismo lulo-chavista.

        Gostaria de, antes de adentrar no meu discurso, prestar a devida homenagem a grande e saudoso amigo meu, que considero verdadeiro mestre. Como já escrevi nessas linhas, Pedro Neves da Rocha jamais votaria para presidente em quem não tivesse o curso superior completo.

        Então - nos idos de 2002 - pensei que fora idiossincrasia de alguém não-impregnado pelo sentir da Nação brasileira, que naqueles tempos ansiava pelo novo. Embora um sufrágio nesse multitudinário processo possa semelhar coisa de lana caprina, os anos posteriores me ensinaram da real potencialidade deste erro.

        Pois não era regra esdrúxula e estulta! O domínio do PT se traduziu em queda generalizada no apreço devido à democracia.  Para Lula et caterva isso está bem, eis que para o neo-sindicalismo - que veio desvirtuar a nossa prática política - a divindade a ser cultuada não é o respeito ao adversário e à norma da eventual alternância de poder.

         E não me reporto apenas a práticas que bem serviram a Império e República. i.e., a diplomacia de estado (que foi quem nos legou e garantiu as extensas fronteiras do Estado brasileiro). Uma das tristes regras dos governos sindicalistas é a ignorância do passado e de nossos maiores.  Quem pode ter mestres respeitados se se pauta por Cristina de Kirchner, Nicolás Maduro, Rafael Correa ou gente da mesma têmpera?

         Alguém acaso já se dispôs a computar o enorme estrago que as eleições da candidata tirada da algibeira de Lula da Silva nos acarretaram?

         Em país com as enormes diferenças de renda e instrução  de Pindorama, já será difícil vencer alguém com enormes quintais de voto assegurado, como as extensas áreas no Nordeste sob domínio de programa estatal que garante ao PT um voto de cabresto, como é o Bolsa-Família. O mais trágico nesse assistencialismo, bancado pela Viúva, é que, como mostra o Maranhão, trata-se na prática de trilha sem volta, cuja única suposta obrigação é sufragar o gerarca petista da vez. A ideia que presidiu ao bolsa-educação de Cristóvão Buarque pouco ou nada tem a ver com o parasitismo desvairado do programa petista, que se transformou em cínica alavanca de voto, pago pelo contribuinte,  e como de sólito, dentro do aparelhamento petista do Estado, transformado em apoio automático para o lulismo.

          O que se deve fazer para vencer essa barreira auto-imposta, e que como moléstia demasiado conhecida, se multiplica em um esquema de poder  que se vai tornando cada vez mais difícil derrubar ?

          Nesse contexto que ainda não é trágico - mas que caminha para sê-lo, se não encontrarmos saída democrática - as últimas reflexões do novel re-Ministro da Educação Aloizio Mercadante seriam de chorar, se não refletem hipocrisia ainda mais cínica e entranhada. Sua Excelência o Ministro, enxotado do Planalto porque pelo visto a arregimentação política não é seu forte, volta ao antigo abrigo do Ministério que deveria ser o símbolo da Pátria Educadora, esse slogan de última hora com que Dilma Rousseff pensou emperiquitar o seu segundo mandato (sabe-se lá como conseguido). E o sábio Mercadante filosofa sobre o tempo excessivo consumido pelas greves no setor estudantil e/ou professoral! A resposta é fácil: o grevismo só tenderá a agravar-se, porque não implica qualquer sacrifício, seja de mestres ou alunos. Sob a ficção da compensação da interrupção das aulas, pelo suposto tempo adicional ministrado pelos professores, tudo será atendido!

             Talvez o regime adequado para o Brasil seja o parlamentarismo.  Sem a rigidez do presidencialismo - essa camisa-de-força que envergamos (com curtíssimo intervalo) desde a quartelada de quinze de novembro - o parlamentarismo, ainda que caboclo, nos serviu bem no Segundo Império, a que os milicos tristemente decidiram pôr um fim às vésperas do cinquentenário do segundo reinado,  acabando assim, nas pálavras célebres de estadista argentino, com a única república na América Latina!

             Como já temos ouvido em demasia, se o parlamentarismo aqui vigorasse, o gabinete Dilma já seria coisa do passado e de há muito!

             Além disso, ficaríamos livres dos presentes de grego de quem passa por esperto político.  Quiçá seja ainda prematuro sonhar pelo fim da corrupção nessas bandas, mas que as coisas se tornariam mais simples, e ao ver-nos livres desta triste simbiose do corrupto com o ineficaz  logo desembarcaríamos em mais uma conquista do Brasil!

            Será preço bastante módico o de enxotarmos essa canalha corrupta, e passarmos a viver na democrática insegurança do Parlamentarismo.

           Se não traríamos os Bragança de volta - malgrado a sua dignidade, ao contrário de outras famílias por aí - pelo menos instituiríamos o regime ideal para o Brasil: o governo transparente, sem ilusões de eternidade, nem sonhos de corrupção a qualquer prazo. Se cada país tem a família reinante (ou governante) que merece, acho que concordarão comigo que o prazo de validade dos Lula da Silva já está mais do que vencido!

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S.Paulo, Émile Zola )   

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