quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A Fábula do Governo Dilma

                                  

            Um governo em maus lençóis não está, em geral, em condições de influenciar o rumo dos acontecimentos e menos ainda abrir caminho para a própria salvação.

            A classe política, seja por superstição, seja para não desperdiçar esforços à toa, reluta em ajudar uma nave que esteja fazendo muita água.

            Tampouco há gratidão que se possa sacar em hora de perigo - como se fora caixa de banco - de um barco que esteja muito sobrecarregado por sua culpa ou, o que dá no mesmo, por pesada incompetência dos tripulantes.

            Em que deu toda a azáfama do gabinete Dilma em reverter situação que, em fim de contas, ela própria criara?

           Os seus apelos não são ouvidos, nem as próprias jogadas políticas surtem efeito. Vejam, senhores ilustres passageiros, o último episódio com relação à reforma ministerial. Se nada há de seguro ou firme no subdesenvolvimento, como ouvi calar há tempos um dorido reclamo de companheiro sul-americano, que reivindicava maiores atenções fundadas e não na solidariedade dos países em desenvolvimento, mas sim em direito lavrado quase em mármore ático, o que se há de imaginar de transatlântico que água esteja fazendo e já  não no primeiro porão?

           Os desesperados intentos em reverter situações como a de ontem, semelham destinados ao fim que terão ao cabo provocado.

            E se repassarmos friamente os apelos e as manobras da vigésima-quinta hora, não há de carecer muito para que, uma vez arrancado com a brutal realidade dos fatos o encabulado véu que, ao parecer, só pairava diante dos olhos da autoridade ameaçada, e de seus frenéticos e encurralados ajudantes de campo, tudo de repente na hora ou até mesmo no  dia seguinte possa surgir como insuportavelmente escancarado, desses falsos enigmas com que se animam os tolos nos circos e nas feiras.

            E no final de tudo, o resultado será nulo ou, o que é ainda pior, represente tão só a antecâmara de outra sucessão, que, não contente de nada de bom acenar, apenas se compraza em deixar entrever - em cruéis garatujas - o que, por sólida incompetência ou provada ignorância, se tenha lançado de forma irresponsável a provocar?

           E o ruim da véspera caminha para a sua piora. A autoridade desatinada não cessa de transmitir ulteriores sinais de que está construindo o que os pósteros sóem chamar de história, no caso o triste repositório de imenso investimento em erros a perder de vista, muitos deles de autoria de quem terá decerto pensado estar a conceder-lhe ricas oportunidade jamais antes vistas em Pindorama ou alhures.

           E que não se esqueça o gárrulo criador que a sua hora, se pode ainda tardar, chegará por igual, com a paga que lhe é devida e as atenções que o porvir há de determinar, na caprichosa e, por vezes até perversa realidade, que os deuses costumam reservar para os que abusam de sua magnanimidade.  

          

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

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