segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Bagunça e Brasil

                                        

       Entrevistando Paul Krugman, Prêmio-Nobel de Economia, a Folha marca um tento. Trazer o colunista do New York Times à Entrevista da 2ª é um achado. Menos, por vezes, pelas ideias que apresenta, mas também pela própria diversidade e seu implícito convite para ler mais.

       O importante no caso é que o intelectual americano, sendo natural debatedor de ideias, dá por vezes mais importância à oportunidade de discuti-las e, dessarte, difundi-las e provocar ulteriores discussões.

       Quanto ao Brasil, por exemplo, o problema de Krugman não é tanto que a análise seja superficial, mas em alguns contra-exemplos, nos quais o articulista da New York Review dá a impressão de problemas de localização geográfica: "A situação fiscal não é desesperadora e o país está longe de um momento em que precisaria imprimir dinheiro para pagar suas contas."

       Falta na entrevista a visão pró-ativa: " Houve, sim, impacto da queda dos preços das commodities, e isso é significativo.  Mas o Brasil de 2015 não é a Indonésia em 1998, nem a Argentina em 2001. É um problema, é desagradável e um pouco humilhante se ver nesta situação de novo. Mas as pessoas estão exagerando."

       Apesar de construir aviões, o Brasil continua a ser o país das matérias primas. Começou com a madeira e o pau-brasil (corante), e, nos séculos seguintes, açúcar e café. Descobre o pré-sal na antecâmara em que essa exploração se vê ameaçada - pelo menos temporalmente - pelo alto custo da explotação do petróleo em tais profundidades, o que veio dissipar muito oba-oba no Congresso e no que oferece mais combustível fóssil em mundo ameaçado pela crise do meio ambiente.

        Não é tanto a queda nos recursos hidrícos e na energia barata das grandes usinas do século XX, quanto à falta de política de estado para valer na tecnologia solar, eólica, e orgânica como saídas para o grande desafio, e o consequente barateamento da empresa Brasil. A inépcia do governo petista que constrói portos magníficos em Mariel, Cuba (para o qual enxameou todo o ávido chavismo) e nada tem a apresentar nesse setor no Brasil, onde seria bom que diversificássemos.

       O Brasil se tem notabilizado em passado recente pelos enormes ministérios   semelhantes à caverna de Ali Babá, e com o mesmo propósito.  O  PT construiu máquina estatal que tira toda a flexibilidade do Governo e se caracteriza apenas pelo aparelhamento do Estado. Aqui não se pensa - ou não se pensava, na versão otimista - em servir-se de idéias modernas para ativar a economia. Aqui o PT pensa nos gastos correntes, e julga que pelo seu peso e falta de manejabilidade (além de seus altos custos) ele poderá garantir-nos a respectiva presença no mando. O PT, ora em processo de decomposição, nunca pensou em crescimento econômico do Brasil em termos de resposta para a crise do país e a continuada dependência no agro-negócio e nas economias que são mais suscetíveis às condições secundárias da matéria prima.

        Nenhum país enfrenta impunemente a magna empresa de segunda década voltada para o assistencialismo.  Nesse contexto,  não surpreende que a corrupção se espraie. O próprio rudimentarismo do Petrolão é forte indício de fase econômica que se limita ao mercantilismo.  Falta grandeza à sua liderança pela razão simples de que ninguém pode dar o que não tem. Na sua falta de imaginação, a chamada elite petista apenas arremeda o projeto que foi mexicano, que se baseia na sagrada união do sindicalismo (tanto político, quanto obreiro) com a corrupção.

           Essa cultura nefasta que se distingue pelo superficialismo, artificialismo e descarado oportunismo, o que pode nos oferecer senão o panorama alentador da desertificação (à conta do agro-negócio, que tem toda razão em considerar-se herdeiro secular do Brasil, dadas as suas contribuições para o desmatamento e a chamada vanguarda do atraso)?!

            Falando em corrupção, a contribuição petista tem sido comovente, abrindo inclusive novas avenidas em África e até nas Europas. Pelo menos não mais se fala na Europa curvando-se outra vez diante da cultura brasileira. Esta entrementes floresce na anti-sucessão de Premios Nobel, e em  literatos como Paulo Coelho... No lado supostamente positivo, a nossa industriosa habilidade em trazer grandes eventos para o Brasil. Por enquanto, essa divulgação tem mostrado o alcance do trabalho dos governos e elites brasileiras.  Ainda na verdade não conseguimos avançar contra a poluição do meio-ambiente, dada a manifesta insalubridade da Baía de Guanabara, que vai transformando a essa antiga maravilha em grande depósito de lixo aquático e sobretudo sub-aquático.

            Éramos o país do futebol e do carnaval, mas pelo menos  nesses grandes fenômenos populares compareciam a simplicidade e a originalidade. Já em 40 e adjacências, Carmen Miranda com o seu turbante de frutas naturais soube exportar para Hollywood a funda naturalidade do artista brasileiro. Por felicidade, o quadro se completou com Zé Carioca, o brejeiro periquito e mortal obra  de Walt Disney...

              No entanto, depois que as Olimpíadas passarem, e o seu organizador for alçado aos palácios de Brasília, para ali iniciar nova carreira, gostaria de saber qual será o produto dos seminários que se convocarão para discutir os diversos aspectos da aventura olímpica, que há de terminar, esperemos, com o ingresso triunfal de Pindorama no turismo universal.

              E com os meus agradecimentos a Mr Paul Krugman, pelo aparte concedido... despeço-me hoje do amigo leitor.

   

 

( Fonte:  Folha de S. Paulo )

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