terça-feira, 27 de outubro de 2015

Primeiro Turno Argentino


                                   

        Não serviu muito ao governista Daniel Scioli - que obteve 36,86% dos votos - tentar dissociar-se de Cristina Kirchner e do chamado kirchnerismo. Veio incomodá-lo Maurício Macri que, com 34,33%, os quais, fora dos padrões portenhos, tornaram indispensável o segundo turno.

         O peronismo kirchnerista perdeu a maioria na Câmara dos Deputados, assim como a governança da província de Buenos Aires.

        O grande escritor argentino Jorge Luis Borges detestava peronistas e, por conseguinte, o peronismo, que julgava a expressão da vulgaridade senão da própria boçalidade.

         Ter esse movimento com tal força a ponto de a grande maioria intitular-se peronista, é sintoma algo preocupante, se guardarmos uma Weltanschaung[1] próximo dessa ideologia de massas que se tornaria o peronismo na Argentina.

         Como aumentou deveras, carece hoje de adjetivos identificadores, como o do kichnerismo.  Há de ver-se que existe uma personalização extrema no mundo dos hermanos, característica que tende a assustar um pouco.

         A personalização do pensamento político semelha à primeira vista um certo exagero. E que a identificação seja invadida por tantos, a ponto de que se tenha de recorrer a qualificativos personalistas como o sobrenome do caolho, como o chamou em um rasgo de intimidade Pepe Mujica - que faz pouco acaba de despedir-se com a habitual honradez  da segunda presidência no vizinho Uruguai.

        A situação política na Argentina ainda está indefinida. A esse propósito, em sua nota hodierna Miriam Leitão pondera que é cedo para comemorações, eis que ' no fim das contas, o primeiro e o terceiro colocados são peronistas'.

        Diante do perigo, os bichos se costumam agrupar em bandos da mesma cor.

        Caberia ao oposicionista Macri reunir as oposições no turno final. Resta saber se terá condições para tanto, quebrando os laços de dois agrupamentos de sufrágios pró-peronismo.

        A bagunça econômico-financeira - trazida pela Viúva de Kirchner - e que rivaliza com outra mais ao norte, poderá ser a causa principal que motivará o Povo Soberano.

         É de ver-se se Mauricio Macri terá o talento político e a mensagem para tanto.

 

( Fonte:  O  Globo )  



[1] Visão do mundo.

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