sábado, 24 de outubro de 2015

O Reino do Faz-de-Conta


                                       
               Era uma vez um grande país bendito por Deus e pela natureza... A gente lá vivia feliz mas... Acharam que era tempo de dar bilhete azul aos milicos... Foi luta difícil, mas ao jeito da terra... Com um pouco de sangue, é verdade, e maus-tratos também... Ao cabo, a turma dita da Revolução (que na verdade fora de mentirinha) cedeu o passo não ao homem das diretas-já,mas àquele das indiretas... Infelizmente, na travessia não chegou a pisar na terra prometida, e a gente teve de se contentar com o vice ... Não era a mesma coisa, pois pactuara com a turma verde-oliva... Mas o acerto pareceu bom e no espírito daquela terra grande... Com a democracia voltaram os partidos, inclusive um menor, que surgira das mãos de operário, com as benesses de intelectuais e da Igreja... A época da revolução (que, como sempre, não foi pra valer) deixara o legado da inflação. A coisa era antiga, mas provocava a estagnação na economia, e desagradava a ricos e pobres, mas, como sempre, maltratava mais estes do que aqueles... Na terra das mandingas, espoucaram muitos planos mágicos, até que veio o plano cruzado, com o congelamento dos preços. Por uns meses a cousa funcionou, e o sofrido povão pensou que havia acabado com o trabalho das maquinetas... Não é que deu justo nas eleições e esplêndidas maiorias surgiram como resultado de o que logo se revelaria ... como um logro, com a consequente raiva popular, que se voltou contra o próprio presidente ... que nem mais podia sair à rua. O mais engraçado é que ficou no Congresso a maioria, que na verdade era falsa, porque  resultara de um grande logro. O dragão continuava a imperar. Logo, logo as coisas meio que se aquietaram, dentro do espírito daquela boa gente, de pavio curto e de chama breve... E passou para o segundo turno, varrendo gente mais preparada, como o homem das diretas e outros mais, como o do grupo dos onze,  uma estranha dupla: o caçador de marajás e o sapo barbudo, empurrado por intelectuais, padres e o zé-povinho. O homem novo, das soluções mágicas, venceria. Não tinha maioria no Congresso, mas não lhe faltava audácia, e veio com outro plano mágico, que confiscava na prática as poupanças no banco, e que como os outros heterodoxos iria malograr. Só que com rastro de muito sofrimento abafado pela expectativa da grande esperança, que também iria desaparecer com a revolta de um embuste que foi cruel para muita gente. Ainda não surgiu cronista para relatar dos muitos suicídios, desgraças e revolta que aquele projeto destrambelhado deixaria no próprio rastro... e, como sempre, a sensação do logro  e do inútil sacrifício... Não demorou muito para que o caçador fosse cassado, por força de maquinação que captou o desgosto com mais um malogro e otras cositas más... E vejam só! Foi no interregno, com o respeitado vice do presidente cassado, que se concebeu e se principiou a implementar mais um Plano ... que foi chamado Real. Apesar da geral desconfiança, ele foi avançando e se implantando.  Sua força estava nas soluções simples, que fugiam da heterodoxia das mágicas poções anteriores que tinham dado em nada. A única força que desconfiou dele e o combateu com todo o ímpeto reservado às causas patrióticas, mas insensatas, foi aquele PT, nascido ainda sob o regime militar, então aguerrido, magro e jacobino. Mas o professor, intelectual de boa cepa, e que também tivera a cota das pequenas ignomínias dispensadas pela turma do verde-oliva, foi eleito, carregado pela gratidão do povo, com um dinheiro que não mais perdia valor da noite para o dia, se não se corresse para o chamado overnight.  O reino desse intelectual e professor, com um leve e irônico sorriso, de trato fácil e simpático, durou dois mandatos, eis que ele cometeria um erro - o de trazer para Pindorama a plantinha ruim da reeleição. De qualquer forma, para os ditos tucanos, ela ajudou para construir o Plano Real, com todos os seus instrumentos. Tudo isso foi combatido com desordenado ardor pelo dito PT, que de tudo descria, inclusive da estabilidade monetária que o Real trouxera. Até da Lei de Responsabilidade Fiscal, na sua orgia de recursos p'ra inglês ver, o PT iria até o Supremo para ver se derrubava a dita LRF. Esse caráter sanhudo e contestatório - eram contra até a despedida da inflação! - agradava a setores da esquerda, assim como às viúvas da carestia e dos juros do overnight!  Havia, é bem verdade, nesse raivoso docontrismo um arremedo de oposição séria, que deve estar, em princípio e por fim, sempre contra tudo! E o operário da voz rouca, carismático,  e que era tido por jacobino (mesmo sem saber o que tal significava) duvidava de tudo o que viesse do outro lado. Ao cabo, chegou a vez dele. Veio vestido com os trajes de penitente, com o branco do paz  e amor, dizendo acreditar no que antes furiosamente negara. E Pindorama o acolheu de braços abertos, não sabendo que aquela mansidão era de encomenda, e aprontava mais surpresas. Mas com a saída do professor, apesar do anunciado tropeço do Mensalão (sem falar na partida apressada do primeiro ministro Zé Dirceu), o torneiro-mecânico emplacaria a reeleição, depois de esperto choramingo. Chegado o terceiro-turno, a vontade era grande de imitar o chavismo do compadre venezuelano, mas ao cabo iria preferir indicar, por cima de gente mais preparada, a sua chefa-de-gabinete. Como sempre, tinha planos de retorno e breve, mas, como sempre, as cousas não saem como os homens querem, mas como Deus manda.  E ele teve de eleger o seu primeiro poste, e para tanto contou com a fraqueza adversária. Apesar de não ser do ramo, não faltava postura à mulher do Lula, como a turma do Bolsa-Família (que já despontava como jogada genial - imaginem montar com o dinheiro da Viúva um inexpugnável reduto com voto de cabresto!) a denominaria para que ela vencesse sem grandes dificuldades candidato de longe mais preparado do que ela, porem falto de ímpeto, confiança e carisma. Sucedeu então o desastroso primeiro reinado de quem se intitulara a Presidenta. Se não lhe faltava grosseria (pôs um general em lágrimas), pugnacidade (até com uma cabideira brigou!), tampouco dispensou a imprudência (ignorando, ou melhor, desestruturando o Plano Real), destratando o Congresso (que sempre louco para lisonjear o poder, carece no entanto de alguns agrados), e o pior de tudo, falando com a gente errada, pensou que inflação era besteira, e com isso trouxe de volta as pedaladas fiscais, as chamadas capitalizações, além da anti-ortodoxia... A reeleição ela ganhou na empulhação, na negação do direito de resposta à sua grande adversária, e sobretudo na cara-de-pau de deslavadas mentiras, de que seria cobrada com juros logo depois de haver entronizado mais uma fajutice - a pátria educadora. Entrementes, o velho capitão havia deixado as imortais digitais (Vide Chico Caruso!) nos barris da Petrobrás. E tão logo cumprida a encenação da reeleição - junto com um Congresso que, de pronto, elegeria Eduardo Cunha para chefiar a Câmara! ei-la caída na geena da suma impopularidade (menos de dez dígitos!) Assistimos, com a revolta devida e reprimida, os congressos do ofendido PT - que por causa dos maus ventos passou a optar por reunir-se a portas fechadas! O povão perdeu afinal a paciência com o PT. Pudera!  Este convoca comissões de inquérito que o próprio Orestes Quércia não recomendaria (e, sem embargo, ele iniciou a prática da pizza como o melhor resultado para as CPIs !) . Pois esse grande republicano, como outros que inda estão entre nós, preferia que as CPIs não dessem em nada, pois temia qualquer buraquinho donde escapasse o fedor da corrupção. Mas, voltemos à Dilma II. Pensando pôr jeito nas contas, ela convocou Joaquim Levy, um bom quadro do Bradesco e ainda por cima formado em Chicago. Mas há um problema com os velhos vasilhames (eles não admitem  novos procedimentos!). Assim, logo no começo, quando o Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, ainda pensava que deveria seguir em tudo a linha do novo Ministro da Fazenda, dona Dilma teve uma recaída das tropelias do primeiro mandato de Mantega & Cia. Não é que, com alarde, convocou o rapaz para passar-lhe um sermão de que o Mínimo deveria continuar a ser calculado como antes, com todos os têmperos inflacionários, porque assim era como ELA queria.  Então, Nelson Barbosa se deu conta que D.Dilma ainda mantinha suas asneiras no capítulo! E o resto do flamante governo, como ia? Mal é claro, e com os panelaços e a brutal rejeição, os céus se enfarruscavam com os cúmulos-nimbos do Impeachment !  Entrementes, o Petrolão seguia seu caminho de vergonha e descrédito, com os escândalos de Pasadena (a Enferrujadinha...) sob as vistas desatentas da Chefe do Conselho de Administração da Petrobrás que - surpresa! - não era outra que Dilma Rousseff ! E esta,  apesar de nada ver, esbravejava sempre!  Por fim, não nos esqueçamos do Congresso, que é considerado a Casa do Povo, e que  talvez esteja exagerando nas festas. O Império de Pedro II, que não sofria dos males da corrupção, teve, no entanto, a sua Festa da Ilha Fiscal, que logo cederia a vez, ao sermos nós brasileiros despojados de verdadeira democracia - elogiada até por um anônimo estadista argentino: a última democracia na América do Sul ! -  sob o ímpeto de mais um quartelazo na América Latina, com um general fardado e a cavalo levantando o quepi para a posteridade ignara!  Pois, essa homenagem ao PMDB na Câmara - agora sob a intemerata presidência de Eduardo Cunha - com toda aquela turminha que Jarbas Vasconcellos na famosa entrevista às páginas amarelas da VEJA chamara da corrupção e que a tropa aguerrida peemedebista de Michel Temer preferira não responder, para não cair em polêmica... - agora se realiza em uma realidade de quê, minha gente? Será oportuna toda essa coleção de retratos de gente que tem processo no Supremo, já indiciados pelo Procurador-Geral-da-República ?  Será que esse partido do Povão, espalhado por todas as capitanias de Pindorama, chefiado por íntegros caciques, sempre reeleitos nos seus feudos, mas infelizmente, por sorte madrasta, desprovidos de carisma para entrar na verdadeira arena da opinião pública, acha oportuno realizar essa bizarra cerimônia, em que se homenageia gente que tem cabeça a prêmio? Os nossos antepassados, que nos transmitiram os vezos respectivos, recomendariam essa festança do PMDB?  E por falar nisso, agora que estamos na segunda geração daqueles que ao casarem receberam dos convidados o lancinante apelo de que, por favor, não procriassem, ao vermos desrespeitado este solene clamor, será que é oportuno o ensejo de comemorar tanta gente que ainda não passou pelo crivo do destino?  E no fim de tudo, continuamos com as petições de impeachment devidamente engavetadas, com o julgamento do TCU sobre as pedaladas fiscais protervamente adiado, atrás do sorrizinho do atual presidente do Senado - em cuja curul continua a despeito de ter evitado a cassação pela manobra da demissão do cargo (hoje inviabilizada pela Lei da Ficha Limpa). Por falar nisso, essa magna reforma, aprovada por pressão da iniciativa popular,  ainda nos satisfaz à metade por contemplarmos na Câmara o seu anátema, cujas iniciais estão gravadas não se sabe onde, mas que ressoam até nos EUA (aonde não ousa põr os pés), a saber PAULO SALIM MALUF, o grande amigo do Torneiro Mecânico e Eleitor de ultimíssima hora de Fernando Haddad, o  atual prefeito da Paulicéia!

 

                                                                                   ( A continuar...)

 

 

   

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