Causou estranheza o virtual desaparecimento por 24 horas do Governador do Rio de Janeiro, ao ensejo do desastre de Angra dos Reis. O número de mortos não parava de crescer e, no entanto, no dia imediato Sérgio Cabral se limitou a uma declaração escrita e a enviar ao local, como seu representante, o vice-governador Luiz Fernando Pezão.
Sua Excelência estava, segundo afirmou, em Mangaratiba, a 57 km de Angra. E, no entanto, por motivos não esclarecidos, o acesso a ele não era fácil. O próprio Presidente Lula tentou entrar em contato com o Governador, mas não conseguiu.
Há dois aspectos no episódio a serem sublinhados. Primeiro, muitos dos políticos brasileiros são um pouco arredios em manifestar pessoalmente a respectiva solidariedade com a população em caso de desastres naturais ou de outros grandes infortúnios.
A esse propósito, Ricardo Noblat em sua coluna de O Globo, contrasta o comportamento dos políticos franceses e poloneses, diante da morte de 26 peregrinos poloneses em acidente de ônibus, voando para o local, distante seiscentos quilômetros de Paris, e a ausência do Presidente Lula de São Paulo, em julho de 2007, malgrado as 199 vítimas do Airbus da TAM.
A segunda circunstância tem a ver com aparente contradição entre discurso e práxis, no caso presente do Governador Sérgio Cabral. No segundo dia, em chegando a Angra, declarou o Governador que “não se pode brincar com o solo. Não se pode ter construção perto de montanha e de espelho d’água”.
Tampouco se pode deixar de concordar com a oportunidade e a relevância das palavras de Sérgio Cabral. Muitos dos desastres ocorridos poderiam ser evitados. Tantas vidas ceifadas por deslizamentos de terra, soterrando a construções de que os turistas desconheciam o risco a ser arrostado pelo pitoresco da paisagem.
As sábias palavras do governador chegaram um pouco tarde. Sem embargo, a dissonância não para aí. Em junho último, o governador Sérgio Cabral assinou o decreto nr. 41.921, que afrouxa as regras de construção em áreas de preservação ambiental de Angra e das ilhas da região.
Há uma petição com mais de cinco mil assinaturas, exigindo a revogação do decreto. Além do Ministério Público – que o considera inconstitucional -, ele é rejeitado por entidades ambientalistas do Estado, a representação do Ibama em Angra, e o deputado Alessandro Molon. Este último apresentou na Assembleia projeto de decreto legislativo que torna sem efeito alguns artigos do citado decreto nr. 41.921
Diante de tudo isso, em quem devemos acreditar ? Em quem chega à área sinistrada fazendo judiciosas considerações sobre o uso do solo, ou na autoridade que assina decreto afrouxando regras de construção em área de preservação ambiental ?
( Fonte: O Globo)
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
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