sábado, 16 de janeiro de 2010

O Metrô deve ser público ?

Depois da ansiada inauguração da estação General Osório – com direito à presença do Presidente da República – e a ligação entre as linhas um e dois do metrô, a expectativa geral era a natural melhoria do serviço, seja pela extensão da rede até Ipanema, seja pela eliminação da baldeação no Estácio.
No entanto, o que ocorreu foi justamente o contrário. Depois de se esperar por quatro anos o prolongamento da linha da estação Cantagalo até a praça General Osório – um dos menores trechos da linha para a Zona Sul -, coube ao usuário a desagradável surpresa da súbita deterioração desse transporte de massa.
O que aconteceu ? Com a abertura da linha direta da Pavuna, na Baixada, até Botafogo, aumentou bastante o afluxo de passageiros daquela área, que padece de transporte coletivo assaz deficiente. Por outro lado, o metrô dispensando a baldeação se tornou a opção menos onerosa para o usuário.
Cresceu, assim, bastante o público da linha dois, com a consequente sobrecarga na linha um, pois ambas se acham ora interligadas, através da conexão na estação Central do Brasil.
O primeiro problema da nova situação reside na singular falta de planejamento da concessionária. Não obstante o aumento geométrico na procura, ela não providenciou a adequação do equipamento. Com o mesmo número de vagões, todos já dando mostras de uso intensivo, a Metrô Rio pensou ser possível atender por um tempo ao maior número de passageiros com a mesma disponibilidade de antes.
Como o prolongamento até General Osório – e a ligação das duas linhas – levaram cerca de quatro anos para serem efetivados, é estarrecedor que a concessionária não haja cuidado de adquirir novos vagões, de forma a colocá-los em serviço sincronicamente com a dita reformulação. Por motivos inexplicáveis, o reforço de vagões só é previsto para fins de 2011!
Por conseguinte, o desserviço na rede metropolitana é consequência direta do aumento do público a que não correspondeu nenhuma oferta de mais composições.
Efeitos desta falta do mais comezinho planejamento se veem na superlotação dos carros, nas repetidas falhas do ar condicionado, na demora e na irregularidade do serviço, assim como na lentidão no tempo das viagens. Resulta que o desconforto do usuário é geral, a par de sufocações, desmaios. Com o nivelamento por baixo, o metrô, sobretudo nas horas do rush, é um desafio para o passageiro, com clara desvantagem para as mulheres e os mais idosos, a quem o público jovem não costuma dar maior atenção, ocupando inclusive os assentos preferenciais.
Entretanto, as causas do escândalo no funcionamento do metrô não param por aí.
A tal propósito, em boa hora o Promotor da 3ª. Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor instaurou inquérito para apurar as falhas na prestação do serviço. Com efeito, o Dr. Carlos Andresano Moreira quer saber se a concessionária e a Agetransp (agência reguladora) têm estudos que atestem a viabilidade técnica da transferência da baldeação (antes feita no Estácio).
Consoante o promotor, a Promotoria de Cidadania vai abrir outro inquérito para determinar da lisura da extensão do contrato de concessão, que foi acertada em 2007 pelo governo do Estado e a Metrô Rio. Na ocasião, estranhamente o compromisso original – que terminava em 2018 – foi prorrogado por mais vinte anos !
O deputado estadual Alessandro Molon apoia a instauração do procedimento judiciário. “Em troca da (baldeação no Estácio)”, segundo declarou, “o governo de Estado garantiu à concessionária a exploração do serviço por mais duas décadas. O projeto original apontava a Carioca como o local mais preparado para receber a baldeação, e previa a construção de Estação Cruz Vermelha. Nada disso foi feito, e a concessionária gastou muito menos.”(meu o grifo)
Desde a inauguração do ‘novo serviço’, a 21 de dezembro de 2009, se sucedem os comunicados da Metrô Rio quanto a ‘ajustes’ procedidos na sua operação, que, malgrado a repetição, não produzem qualquer melhoria efetiva no funcionamento do metropolitano.
E não há de surpreender que as prometidas melhoras não aconteçam. A par de não haver qualquer acréscimo no número de vagões, a despeito do considerável aumento de usuários, que ajuste mágico poderia ensejar maior espaço para o usuário ? E se a conexão das linhas um e dois, autorizada pelo Governador Sérgio Cabral, em troca da magnânima extensão da concessão por mais vinte anos, não está funcionando, em que porta devemos bater por uma solução ?
É de augurar-se que tais interrogações possam ser esclarecidas pelo inquérito do Ministério Público.
Desde já, me permito uma sugestão. Metrô é coisa séria, de que depende o transporte seguro, confortável e expedito de milhões de usuários. Se o poder público – tanto o Federal, que empresta os fundos, quanto o Estadual, que dele tem a responsabilidade – já se empenha há tantos anos na construção da linha – de que os próximos compromissos da metrópole exigirão dramática aceleração – creio que é mais do que tempo de lhe tornar pública a operação. O Rio seguiria o exemplo de Paris, que dispõe de uma rede capilar a atender todos os vinte distritos da região parisiense.
A via da privatização se tem traduzido em maus e lentos serviços. As décadas de um atendimento que se deteriora ao invés de progredir devem ceder lugar à velha opção pública. Afinal, se pagamos com os nossos tributos tais obras, estamos a merecer atendimento adequado e moderno, e não fábrica de desmaios e atropelos.
( Fonte: O Globo)

Um comentário:

Mauro disse...

Nunca havera consenso sobre como melhor gerir a coisa publica. Para mim, a incompetencia para ate mesmo regular o servico nao e um bom augurio sobre a competencia para opera-lo... Qual sera o uso mais inteligente do dinheiro publico e mais facil para o governo, aumentar a sua capacidade de gerir e regular (em suma, de governar) ou assumir o servico completamente e toca-lo sozinho, alem de fazer os investimentos? Eu acho que sei a resposta. Queremos menos tumulto no Metro? a unica forma e ter menos passageiros. Uma solucao: aumente-se a passagem e invistam-se os recursos em mais linhas, trens e transportes alternativos.