sábado, 30 de janeiro de 2010

Colcha de Retalhos XXXVI

A destruição da Floresta Amazônica

Parece-me importante manter o leitor a par da progressão da devastação da grande floresta amazônica, de que o Brasil e seus governos tem sido medíocres depositários.
Este grande espetáculo da natureza, essa incomparável e até o presente incomensurável riqueza em termos de biodiversidade, espaço privilegiado que tanto contribui para o equilíbrio climático do planeta, eis a pujante hiléia amazônica que Alexander von Humboldt e tantos outros sábios exploradores palmilharam e admiraram, e que, a despeito de sua relativa fraqueza militar, a metrópole portuguesa logrou, pelo segredo das velhas cartas e a argúcia e precisão geopolítica da colocação dos fortes, preservar da avidez das grandes potências de seu tempo, como o demonstram os galeões ingleses e franceses naufragados no dédalo do acesso ao grande rio, este derradeiro e incomparável domínio, única extensão continental de recursos naturais, nós estamos pela desídia estatal que assiste não inerme e tampouco à própria revelia que a estúpida cegueira dos descendentes de Esaú a devastem com o meticuloso afã de formigas cujo número e pertinácia desfazem em poeira as vãs assertivas dos infiéis guardiães deste imenso parque que dia a dia, sob os frios visores dos satélites, vai minguando inexoravelmente.
Há sem dúvida um traço masoquista nessa corrente de estatisticas que, a exemplo de uma moderna Cassandra, apregoa verdades que escorrem pelos ouvidos de quem de direito, não produzindo qualquer efeito, seja na punição dos responsáveis, seja no surgimento de medidas sérias e eficazes que ponham termo a tal escárnio da boçal reincidência dos desmatadores.
Compilação de estudos publicada pelo Banco Mundial e enfurnada em página interna do jornal nos informa que o desmate da Amazônia já atingiu 17 % da floresta. De acordo com tal avaliação os três por cento que faltam para alcançar a marca de 20% seriam o bastante para desencadear a destruição do restante da hiléia.
Em verdade, em estudos de simulação, os cientistas puderam determinar que, ao chegar a este quinto da área total, o efeito conjunto de incêndios, desmatamento e mudança climática empurra a floresta para um estágio em que ela perde a sua “massa crítica” para a sobrevivência.
Semelha difícil crer que um percentual limitado a tal ordem de grandeza seja capaz de lançar a nossa principal riqueza natural em uma descida irreversível. No entanto, o que está acontecendo em áreas onde a criminosa destruição se acha proporcionalmente mais adiantada, como em grandes sub-regiões do Pará e até no entorno de Manaus, indica que tais prognósticos se afiguram bastante críveis na sua agourenta mensagem.

Exportações brasileiras. Perfil.

Infelizmente, se acentua um traço negativo na pauta de nossas exportações. Em 2009, houve concentração das vendas externas em produtos primários – as ditas commodities – e o consequente enfraquecimento dos produtos manufatureiros.
Se o Brasil deseja continuar nos Brics – a famosa sigla que nos associa à China, India e Rússia nas chamadas potências emergentes – carecemos de desenvolver a exportação de produtos manufaturados, máxime aqueles com maior valor agregado por trabalho e tecnologia.
Dessarte, a atual dependência em commodities nos atrela às alternâncias do mercado, eis que esse gênero de mercadoria está muito afeto às quedas bruscas de cotação, com efeitos negativos sobre a balança comercial.
Assim, em 2009 não existiu nenhum produto manufaturado entre os seis primeiros (soja, minério de ferro,petróleo, açúcar, frango e farelo de soja). Tão sómente apareceram em sétimo, aviões e, em décimo, automóveis. É de ter-se igualmente presente que quanto a veículos, as suas montadoras são todas estrangeiras, e os eventuais lucros auferidos correm logo para as matrizes de além-mar.

Absolvida a nêmesis de Nicolas Sarkozy.

Dominique de Villepin (V. blog anterior) foi declarado inocente por tribunal parisiense das acusações de que participara de alegada conspiração para manchar a reputação do atual Presidente da França, Nicolas Sarkozy.
Este movimentara o considerável poder de que dispõe o Chefe de Estado na França para condenar a Dominique de Villepin, antigo Primeiro Ministro de Jacques Chirac, e principal adversário de Sarkozy dentro do partido gaullista na campanha pela designação da candidatura presidencial.
De Villepin – a despeito de haver sido declarado culpado por Sarkozy antes do julgamento – enfrentou com vantagem a promotoria que pedia uma sentença de dezoito meses de prisão condicional e multa de cerca US$ 65 mil.
Segundo Arnaud Montebourg, deputado do Partido Socialista, Sarkozy “instrumentalizou a justiça para ajustar contas”, e aduziu que o veredito “é prova de que Sarkozy usou a justiça para tentar eliminar um rival político”.
Dominique de Villepin, livre de qualquer acusação, e reforçado pelo ordálio sofrido, pretende disputar a candidatura à presidência no próximo pleito. As indicações são de que Sarkozy logrará a candidatura partidária, mas que sai enfraquecido pela contestação de seu inimigo político, que sai da refrega com a têmpera provada e o reconhecimento público aumentado.

(Fontes: Folha de S.Paulo, O Globo, International Herald Tribune)

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