Nos Estados Unidos
Antes e depois de dezenove de janeiro. A derrota de Martha Coakley em Massachusetts não foi apenas um percalço provinciano do partido do Presidente Obama. Os democratas entraram naquela eleição para cumprir uma rotina – escolher representante eleito para o restante do mandato do Senador Ted Kennedy – e dela saíram vivendo um pesadelo. E o pior de tudo é que não poderiam superá-lo como um mau sonho, pela simples razão de que não estavam dormindo.
Para evitar que o fenômeno se repita, a Casa Branca de Obama já está convocando veteranos da passada eleição presidencial para supervisionarem em todo o território americano as eleições de novembro de 2010. A benévola negligência que cercou o pleito no estado ultra-liberal de Massachusetts – e que facilitou o inesperado surgimento do desconhecido Scott Brown – deve ser evitada de toda maneira.
Em um Senado em que os democratas ditavam as regras – e tinham aparentemente costurada a aprovação final da Reforma Sanitária, o programa em que Obama colocara a maior parte de suas fichas políticas neste período inicial de mandato – a perda de uma única cadeira determinara súbita mudança de atmosfera. O que eram favas contadas, virou coisa mais do que duvidosa, pois os republicanos agora dispõem do instrumento da obstrução legislativa, a famosa filibuster, que anteriormente, com os seus mágicos sessenta votos, os democratas podiam regimentalmente – como o fizeram por várias vezes – podiam sepultar.
Os novos ventos vindos de Massachusetts se fazem ora notar em uma Administração Obama redimensionada, com metas menos ambiciosas e mais populistas – no que se supõe vá caracterizar o próximo discurso do Estado da União (State of the Union address).
É cedo para afirmar se os democratas lograrão transformar em lei o projeto da Reforma do Plano Geral de Saúde. Como se acredita muito difícil que a Câmara de Representantes consinta em aprovar o projeto de lei na sua versão senatorial – a única maneira de contornar a virtual impossibilidade de que a reforma na sua presente amplitude passe pelo Senado -, as possibilidades da reforma ir à sanção presidencial implicam em projetos muito mais modestos, eis que alguma anuência republicana se afigura indispensável (excetuado o complicado caminho da chamada reconciliação orçamentária).
Que os tempos em Washington mudaram, o atual Presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, já se deu conta. Ao invés da quase burocrática recondução a um segundo mandato, Bernanke enfrenta a inesperada oposição de uma ala democrata, a que a peripeteia em Massachusetts avivou a memória da suposta complacência do dirigente do Fed com o mundo dos grandes banqueiros.
e na República Bolivariana da Venezuela.
Talvez o trêfego coronel Hugo Chávez tivesse logrado evitar a presente crise sistêmica em sua Venezuela, se houvesse lido as fábulas de Esopo e de La Fontaine.
Os problemas naquele país são muitos. Terá razão o presidente em afirmar que alguns deles não são de sua feitura.
Se é grande o poder do caudilho, a longa estiagem resulta das diferenças climáticas. Todos sabemos o quão difícil será apontar concretas responsabilidades nesse campo – o que explica talvez as esquivanças e ambiguidades dos líderes políticos, como Copenhagen mais uma vez evidenciou – e se afiguraria, por conseguinte, suma injustiça transferir para os ombros do coronel bolivariano direta responsabilidade nesse domínio.
Não obstante, o coronel Chávez ora vê surgir à sua porta credores de dívidas pela existência das quais não está isento de culpa. Terá ele pensado que as vacas gordas das cotações do petróleo se manteriam para sempre nos miríficos três dígitos ?
Por mais absurda que pareça a reforma afirmativa, o megalônamo projeto chavista de prestígio e liderança regionais consumiu os fundos da cornucópia, distribuídos na formação de uma brancaleônica aliança comprada pelo petróleo subsidiado, na Alba (guarda-chuva da ideologia chavista) e até em projetos mais ao sul, nas generosas malas expedidas para o casal Kirchner.
A quem convencerá o coronel quando intenta inculpar passados governos de falta de investimentos na área energética, logo ele que adentra o seu undécimo ano de poder ?
Empregando alhures e não em seu país, muitos dos petrodólares auferidos nos bons tempos, não lhe terá passado pela cabeça que o seu projeto pessoal mais de prestígio do que de poder ele o retirava dos haveres do principal produto de uma economia que é virtual monocultura em termos de dependência do petróleo ?
Não se limitam a isto os efeitos do desgoverno de Hugo Chávez. Inflação alta, com perspectivas de subir ainda mais este ano; agravadas as consequências da estiagem, com o racionamento; a falta de segurança financeira, com as expropriações irresponsáveis de empresas estrangeiras;
a explosão da violência, com o desemprego e a corrupção; o aumento do autoritarismo, com a suspensão de concessões, a censura pela intimidação, e a concentração do poder político, sem diálogo com as oposições.
Hoje se anuncia a renúncia do Vice-presidente e Ministro da Defesa, por motivos estritamente pessoais (em que ninguém obviamente acredita). Para substituí-lo, o caudilho parece ter um estreito leque de nomes (os quais são todos velhos conhecidos, com a previsível fórmula política de mais do mesmo ).
Esta, de resto, é característica desse tipo de regime que, infelizmente, a maioria dos eleitores venezuelanos escolheu.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
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