Entre a verde, primeva montanha e a enseada de águas azuis, as casas se apertam, como que agarradas à terra firme. Ali também se esgueira uma pousada, construída com traços rústicos, que buscam integrá-la em paisagem onde a mata atlântica é a dominante presença. Ela sobrepaira como se fora discreto cenário, povoada por centenas de ruídos que poucos decifram, na caprichosa, contrapontual linguagem silvestre que tantos julgam sem sentido.
De noite, os mistérios crescem. Alimentadas pelas sombras, quem sabe ?, talvez estejam de tocaia estranhas, monstruosas criaturas. Na treva chuvosa, nem olhar, nem pensamento se aventuram longe das quatro paredes onde se acreditam protegidos.
O aguaceiro continua a bater monótono nas telhas vãs, quase em compasso de cantiga de ninar.
Não ignoram que por trás das nuvens pesadas está a lua cheia, a brilhar no firmamento invisível com as cambiantes luzes de milenar indiferença.
E quantos vão dormir embalados nas certezas das colunas de jornal, que as raízes das árvores seguram as encostas, e as prendem como ciosas tenazes ?
Não obstante, nas primeiras horas de calendário inventado por homens, surdo ruído, logo arrastado por outros mais sinistros, se despenca sobre as casinhas.
Muitos não saberiam que as terras se movem por uma verdade diversa que não contraria a anterior, posto que a ela se sobreponha. Empapadas pelas águas, as faldas hão de desprender-se das rochas nas quais se assentam, e arremeter em cruéis, atroadoras avalanches, cujo destino são as antes suaves, límpidas ondas da angra, os pomposos anúncios dos âncoras televisivos, e os silenciosos gritos dos cabeçalhos dos jornais do dia seguinte.
Enquanto os bombeiros se prodigam na faina de resgatar-lhes os corpos, que as vítimas enfim descansem em paz, sob o dobre dos sinos e a promessa das autoridades de rigorosos inquéritos.
sábado, 2 de janeiro de 2010
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