quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O Segundo 'State of the Union' de Obama

Em momentos de crise, a resposta de um Presidente pode ser sinal importante de como se conformará a própria reação diante do sério desafio que se coloca para a Administração.
Para quem pôde assisti-lo discursar no grande salão da Câmara de Representantes do Congresso Americano, será difícil – a menos que toldado por paixão sectária – não colher uma impressão favorável.
É verdade que a oratória constitui uma das maiores qualidades do 44º Presidente dos Estados Unidos. Não obstante, esse notável atributo ele igualmente o mostrara na longa e árdua campanha presidencial, máxime nas primárias contra Hillary Clinton, quando soube superar momentos críticos e difíceis na acirrada luta pela designação à candidatura democrata.
Todos sabemos como terminou essa travessia. Hoje, com satisfação, o o observador depara a mesma determinação e brilhantismo de antes.
Acicatado pelos ventos de Massachusetts, ao invés de invectivar contra o passado, lança um olhar sereno sobre o presente e se volta para o futuro, como se o percalço da Nova Inglaterra antes represente um catalisador de energias, ao invés de agourento portador de más notícias.
Sob o lema de que não fraquejará – I won’t quit – aludiu ao deficit de confiança que o americano comum nutre por Washington.
Falou em seguida sobre o que os eleitores esperam de seus representantes, sejam eles democratas, ou republicanos. Apesar das diferenças políticas do povo americano, na verdade todos eles desejam que os seus governantes, senadores e deputados trabalhem pelo bem comum, eis que as dificuldades com que se defrontam são próprias de todos, e nada têm a ver com aspectos partidários.
Mais uma vez Obama se reportou à falta de cooperação do Partido Republicano, malgrado os seus esforços em prol do bipartidarismo. Dirigindo-se ao Senador Mitch McConnell, lider da minoria no Senado, enfatizou que seria oportuno tentar o approach do bom senso, e não se imobilizar em postura negativista, que pode ser até uma política, mas nada tem a ver com sentido de liderança.
Dentre os seus anúncios de impacto, Obama referiu que não recuará na luta pela aprovação da Reforma Sanitária. Assume a sua parcela de culpa no tempo perdido em sua tramitação, mas não desistirá em fazê-la aprovar, tendo presentes todos os males que a inação há de provocar (pessoas perdendo a assistência sanitária, pequenos negócios forçados a descontinuá-la, incrementos dos preços das apólices, etc.)
Também reafirmou o desígnio de lograr uma reforma financeira para valer. Disse o presidente que não está interessado em punir os grandes bancos, mas agora que já se acham em condições de pagar gordos bônus a seus diretores possam eles contribuir para que a rede financeira se estenda em favor do povo americano. E, a respeito, declarou que se não for satisfatória a reforma financeira aprovada pelo Congresso, ele a mandará de volta para a elaboração de um instrumento adequado.
Referiu o presidente, outrossim, que tomará medidas para repelir a presente normativa ( oriunda da Administração Clinton) do don’t ask, don’t tell (não pergunte, não diga), relativa à respectiva orientação sexual entre os militares. Asseverou que ela não se adequa ao respeito aos direitos humanos e por isso carece de ser afastada. Assinale-se que em meio a aplausos gerais, permaneceram sentados e sem bater palmas todos os chefes militares que, por tradição são convidados a tal cerimônia.
Sob o tema do emprego, o presidente disse ter muito presente que ainda um de dez americanos esteja desempregado. Nesse capítulo, asseverou que aprovara as medidas de bail-out (ajuda extraordinária a bancos e montadoras), apesar de não serem populares, porque elas eram necessárias. A maior parte – porém não toda - do dinheiro público dispendido havia sido restituída. A esse respeito,enfatizou a necessidade de união e de trabalhos, dentro da tradição de qualidade e excelência que sempre caracterizara a indústria estadunidense.
Não houve interrupções como a do ano passado – you lie! (você mente !), dita por um obscuro deputado (back-bencher) do GOP.
Doravante nos caberá verificar se à firmeza do discurso corresponderá igual disposição na implementação, em ambiente decerto diverso, mas onde os democratos continuam a ser maioria em ambas as Casas, posto que não mais possuam a chave mágica da sexagésima cadeira no Senado.

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