Por iniciativa do Presidente-eleito de Honduras, Porfirio Lobo, e aceito pelo Presidente-deposto Manuel Zelaya, a 27 de janeiro, dia da posse, este receberá um salvo-conduto para deixar a chancelaria da embaixada do Brasil e viajar para a República Dominicana.
Por sua vez, o Presidente interino, Roberto Micheletti, informa que deixará o Palácio presidencial seis dias antes de o novo governante assumir. Aduziu, no entanto, que não renunciará ao exercício do poder executivo por esse tempo restante.
Escolhido presidente em eleições que muitos desejaram debalde invalidar, Porfirio Lobo tem a tarefa inicial de recompor as relações com os vizinhos centro-americanos, rompidas por força da destituição e da ilegal expulsão do presidente Zelaya para a Costa Rica.
Como o pleito em que venceu não está inquinado por nenhum vício insanável, e resultando portanto de livre e soberana determinação do Povo hondurenho, não deverão existir maiores empecilhos para a necessária normalização diplomática, inclusive com o retorno deste país ao seio da Organização dos Estados Americanos.
Semelha oportuno, a propósito, se fazer balanço da chamada crise hondurenha.
Nela avultam os perdedores. A começar pela O.E.A., que mais uma vez se mostrou incapaz de conduzir e resolver uma questão no âmbito de suas atribuições.
Segue o trêfego Coronel Hugo Chávez Frias, de quem muito se ouviu até o dia em que o seu aliado materializou-se diante da chancelaria da embaixada do Brasil em Tegucigalpa. O loquaz caudilho, a partir da organização logística para a suposta irrupção do presidente deposto Manuel Zelaya na missão brasileira, guardou fundo e cauteloso silêncio. No final, para ele, carece de tirar do mapa a sinalização de que Honduras continua a integrar a Alba.
Outro a quem talvez houvesse aproveitado falar menos é o Presidente Luiz Inacio Lula da Silva. Professando ignorar a manobra do reingresso em Tegucigalpa através de nossa Embaixada, Lula apressou-se em autorizar a permanência de Zelaya, segundo lhe terão recomendado o Assessor Marco Aurélio Garcia e o Ministro Celso Amorim.
Nessa esdrúxula ocorrência, a situação do hóspede Manuel Zelaya e de sua virtual centena de acompanhantes logo se adaptou às pitorescas características do pobre e pequeno país que é Honduras. Não é, de resto, necessário ser adivinho para antever que o destino do alegado precedente, por falto de qualquer consistência jurídica, será o de virar nota de pé de página, em futuro tratado de direito internacional público.
Já se disse – e com razão – da arrogância do governo brasileiro ao desfazer-se da neutralidade diplomática diante de um pequeno país. Vão intento, que a nada levou. E se sérias tropelias não houve, menção é devida à relativa moderação evidenciada pelo presidente interino Micheletti.
Os Estados Unidos, depois de início indeciso, tingido dos primeiros meses de Obama, teve mais presença no final, embora sem grandes feitos a registrar.
José Manuel Zelaya sai da embaixada não para entrar na história, mas para agregar-se à multidão de ex-presidentes e ex-líderes, cujo destino será o de vagar por recepções e países, penosas sombras de projetos que não vingaram.
Talvez Honduras venha a ser a ganhadora no episódio. Para quiçá livrar-se da pecha de república bananeira ao encenar para a América Central e, quem sabe além, a triste estória do golpe jurídico que não foi.
Pode-se acaso cogitar de melhor lição para tantos candidatos a estadista ?
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
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