Não ajudará decerto a que o Brasil se livre tão cedo da pecha de ser o país da impunidade. Sequer me reporto aos escândalos do Senado e à anunciada queda de seu Presidente, José Sarney; à farra das passagens e outras tantas na Câmara de Deputados; e à circunstância, para muitos constrangedora, que ninguém haja sido punido de coisa alguma.
Como reclamar, portanto, da revista estrangeira que nos definiu como país de muitas leis que não são aplicadas ?
Há de suspeitar-se que me refira ao escândalo do mensalão de Brasília. Ricardo Noblat, em sua coluna semanal de O Globo, assinala, en passant, o quanto o estamento de Brasília é parceiro do atual chefe da prática, o governador José Roberto Arruda, a ponto de envolver até os jornais lá publicados.
Nesse vergonhoso episódio, já se assistiu a muitos absurdos como a carga da polícia montada contra os estudantes que protestavam contra o governador-chefe do mensalão. Parecia imagem de pesadelo, em que os maus se servem do poder estatal para perseguir os defensores da justiça.
No entanto, não erra o colunista quando indica que mais um limite está por ser ultrapassado. O licenciado presidente da Assembleia distrital de Brasília, Leonardo Prudente – o que escondeu o dinheiro da propina nas meias – se apresta a reassumir o cargo e a presidir ao processo de impeachment do Governador.
Também por Noblat se sabe que dos 24 deputados distritais, somente um ou dois deles “deixaram de ser aquinhoados com o mensalão do DEM e outros favores patrocinados pelo governo”. Compreende-se, nesse contexto, a linguagem empregada agora por Arruda que já perdoou todos aqueles que o agrediram.
Dada a crescente probabilidade de que, em tais circunstâncias, Arruda logre cumprir seu mandato até o fim (i.e., até 31 de dezembro p.f.), e a mais do que razoável suspeição de que a Câmara Distrital nada faça, somente a Justiça poderá intervir, se acatar o pedido do Ministério Público de realizar a prisão preventiva do Governador.
No Planalto, dada a poluição geral, se espera que haja alguém com autoridade para possibilitar esta medida. Como explica Noblat, solto e no exercício do cargo, o governador prejudica as investigações e a produção de provas contra ele mesmo.
Se a pantomima, no entanto, for mantida, mais um limite de desmoralização e de consequente apologia do crime terá sido superado. Pensam acaso tais senhores que essa cornucópia não tem fim ?
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
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