Em tempos idos, era um prazer a vista do canal que é a ligação da Lagoa Rodrigo de Freitas com o mar. Na verdade, seria o que resta da antiga abertura dessa lagoa com as águas do Atlântico. Sendo Ipanema a maior restinga e o Leblon a menor, o espaço com que a lagoa interior se comunicava com o oceano em nada se parecia com o presente canal.
Não obstante, por força decerto da movimentação dos bancos de areia, nem sempre a oxigenação e a intercomunicação das águas se fazia de forma satisfatória. Será assim talvez pelo capricho das correntes – ou a falta temporária delas - que o nosso bairro ganhou o nome de Ipanema, o que, segundo li em algum livro, quer dizer águas ruins em tupi-guarani.
Ora, se antes havia um largo canal entre a lagoa e o mar, a visão atual desse risco d’água, modesto sucessor de uma passada natural grandeza, não se afigura decerto das mais entusiasmantes.
Vê-lo hoje não nos faz confiar nas promessas do atual Prefeito, em cuja apertada eleição muito contribuíu o apoio recebido do Governador Sérgio Cabral. Pois o canal do Jardim de Alah, transformado na gestão do Prefeito Cesar Maia em virtual espelho d’água estagnada, assim permanecia, porque a indispensável dragagem se perdia em um infindável jogo de empurra entre município e estado.
Não se rasgava a volúvel e arenosa barreira à respiração da lagoa, pelas obscuras razões da insondável burocracia. Afora a Cidade da Música, este segundo mandato de Maia se consumiu em um estranho dolce far niente, como o carioca pôde observar em inúmeros setores que seriam da competência da prefeitura.
Eduardo Paes prometeu ao Rio de Janeiro que se empenharia em sacudir a nossa cidade, de modo que o seu habitante sentisse a benéfica presença da autoridade.
O juízo acerca do ativismo de Paes, ao completar-se o primeiro ano de sua administração, apresenta um quadro de visões contrastantes, embora seja ainda cedo para que o polegar do povo se manifeste de modo inequívoco.
De qualquer modo, a visão do canal do Jardim de Alah não ajuda por enquanto ao Prefeito. O canal morre engasgado nas areias das praias de Ipanema e Leblon. Na altura do calçadão, onde há uma comporta enferrujada, as águas antes trazidas pelo mar estão separadas por barreiras de ferro de um lençol estagnado de águas pútridas e malcheirosas, que são um quase pântano a separar o mar oceano da lagoa de novo prisioneira da indiferença das autoridades.
Pois de que serve a dita recuperação de suas águas pela CEDAE e o empresário Eike Batista se a sua porta para o Atlântico está outra vez cerrada, como nos tempos de Cesar Maia ? Será que a dragagem das areias precisa ser sempre ausente e a visão de um canal do jardim de Alah de águas límpidas e piscosas deva ser cousa do passado, como se, no capítulo, a tecnologia de nossos avós fosse superior à do senhor Eduardo Paes ?
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
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